A fazer jus às palavras da autora, quando afirma ser «contadora de estórias e não romancista», Ventos do Apocalipse enquadra-se mais nesse mosaico a compor a história de um povo, em que a vida de uma personagem reflecte toda uma comunidade, em que a vida de cada um é sempre em constelação com a dos familiares, vizinhos, congéneres.
Ventos do Apocalipse, publicado originalmente em 1993, e pela Caminho em 1999, é o segundo romance da autora. O Prólogo é justamente formado por pequenos fragmentos de histórias. Esta narrativa impõe um desafio maior ao leitor (ao contrário da prosa escorreita e ligeira do primeiro romance), até por não ter a mesma linearidade narrativa. Uma aldeia repousa tranquila envolta no manto de escuridão da noite quando surgem pelos ares quatro cavaleiros. Estes cavaleiros do Apocalipse são afinal quatro helicópteros. Passaram-se os «ventos da independência» (p. 52). Sopram «ventos de novas mudanças» em que tudo voltará, afinal, «a ser como antes». Pressentem-se, portanto, os tempos da guerra civil, a deitar por terra a promessa conquistada com a independência: «A desgraça penetrou em Mananga. Já se ouvem rumores da guerra em Macácua» (p. 61).
Este é o cenário dantesco que encontramos nas páginas de Ventos do Apocalipse, onde o lirismo da prosa e o horror das imagens andam a par e passo, dando conta de como a guerra mais aberrante é a deflagrada entre dois povos afinal irmãos.
(continua…)
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