Minx é uma série norte-americana, ligeira, e simultaneamente inteligente na sua simplicidade, que está agora na sua segunda e última temporada (tão depressa aprovaram a segunda temporada como anunciaram que não haverá próxima, mas pensam vender os direitos para outras plataformas). Estreou na HBO Max em Março do ano passado, realizada e escrita por Ellen Rapoport. Em suma, trata de como uma jovem feminista, em Los Angeles, tenta publicar a primeira revista erótica especialmente pensada para mulheres, até que encontra um improvável aliado, cujas revistas (mais gráficas) nem sempre têm o sucesso desejado. Rapidamente ela suplanta essa parceria e torna-se um sucesso. Apesar de todos estarmos habituados ao conteúdo explícito televisivo, esta série tem mais pilas por metro quadrado, ou melhor dizendo, por minuto, do que qualquer outro produto do pequeno ecrã – aliás, tem sido amplamente discutido como a nudez se tornou tão banal, mas é tão raro ver “frontal nudes” de homens. Aqui há pilas para todos os gostos – pequenas, grandes, exageradas, escuras ou claras circuncisadas ou não. Digno de nota é como os modelos que aqui surgem respeitam os critérios de beleza da época. Ver artigo
Only Murders in the Building estreia a sua terceira temporada, agora com estrelas maiores como Meryl Streep ou Paul Rudd (Ant-Man). E esta série que alia comédia com mistério continua revigorante e divertida como sempre. Ver artigo
MaddAddam, considerado um dos melhores trabalhos de Margaret Atwood, autora canadiana de renome cuja obra tem sido publicada pela Bertrand Editora, representa o último volume da trilogia distópica, iniciada com Órix e Crex, seguida de O Ano do Dilúvio. Este tríptico será adaptado para série televisiva pela mesma produtora que nos presenteou com a adaptação de A História de Uma Serva. Ver artigo
Um Vasto Céu Azul é o novo thriller de Kate Atkinson, publicado pela Bertrand Editora, com tradução de Miguel Batista. Esta editora publicara já Transcrição (2020), um romance de espionagem passado durante a Segunda Guerra – mas muito diferente dos romances Vida após Vida e Um Deus em Ruínas (Relógio d’Água), cuja ação também se desenrola nesse período, e ambos vencedores do Prémio Costa. Ver artigo
O Olho do Mundo, primeiro volume de A Roda do Tempo, série épica de Robert Jordan, foi reeditado em 2019 – seguido meses depois pelo segundo volume, pelo terceiro no ano passado, e o quarto, A Sombra Alastra, publicado este ano. Ver artigo
Fundação, de Isaac Asimov, é o primeiro livro da trilogia Fundação, relançado pela Saída de Emergência, que em boa hora retomou aquela que foi em tempos eleita a melhor série de ficção científica de todos os tempos, de um dos maiores autores do género. Publicados entre 2019 e 2020, esta trilogia merece ser agora revisitada a propósito da transmissão da série Fundação dentro de semanas, pela Apple Tv, no que aparenta ser uma megaprodução; a par de outras grandes séries que se aproximam e de que falarei a seu tempo. Ver artigo
Olive Kitteridge, publicado originalmente em 2008, e entre nós o ano passado, obteve sucesso mundial, um Pulitzer, entre outros prémios, e foi adaptado a série com uma excelente interpretação de Frances McDormand. A segunda vida de Olive Kitteridge, de Elizabeth Strout, retoma a vida de Olive mais ou menos no momento em que a deixámos no livro anterior. Ver artigo
O final, honestamente, não me surpreendeu completamente. Até porque os símbolos, as pistas, estavam lá – os elementos míticos, do sacrifício do filho pelo pai; os elementos religiosos, inclusive, com um beijo dado na face como despedida… Brilhante. E mais não digo. Agora vou voltar aos bilionários, com a série Billions, que tem a feliz surpresa de contar com Julianna Margulies no elenco, ao lado do Paul Giamati. Mas sobre isso falarei depois.
Pequenos Fogos em todo o lado, de Celeste Ng, publicado pela Relógio d’Água, não é uma obra de literatura das que virá a ser discutida ou lembrada na posteridade, mas é um livro de leitura compulsiva, mas não tão leve, cuja prosa é enganadoramente simples. A autora escreve bem, mas fá-lo com precisão cirúrgica, sem usar mais do que as palavras necessárias, da mesma forma que não disseca cenas nem personagens, deixando isso a cargo do leitor. A intriga do livro pode parecer semelhante à de um guião de uma série – e por isso mesmo foi adaptado pela Hulu – mas esta história tem camadas sobre camadas de significado e levanta uma série de questões prementes, que a autora evita explorar, aparentemente, deixando as interpretações e posições a cargo do leitor, como a questão da adopção da bebé Mirabelle/May Ling, se deve ser criada pela mãe que a abandonou ou por um casal branco, rico, que tem todas as condições para a criar, menos a de lhe poder transmitir a sua herança cultural como bebé chinesa que é. Ou como uma mulher acede a ser barriga de aluguer para um casal que não pode conceber mas vê-se ultrapassada pelo seu instinto maternal, possivelmente agudizado pela perda familiar que sofre durante a gravidez.
Mia e Pearl, mãe e filha, raramente permanecem muito tempo no mesmo lugar mas, quando chegam a Shaker Heights onde alugam a casa de Mrs. Richardson, Pearl acalenta a esperança de poder criar raízes naquele pacato subúrbio de Cleveland. E rapidamente começa mesmo a criar laços com a família Richardson…
Shaker Heights é um daqueles subúrbios norte-americanos (não confundir com a nossa Amadora), ao estilo de Donas de Casa Desesperadas, onde todas as casas são geminadas e a relva não pode ultrapassar os 6 cm de altura. Mrs. Richardson é uma daquelas Stepford Wives e note-se que no livro Mrs. Richardson raramente é chamada pelo nome próprio de Elena… ou seja, é sempre conhecida pelo seu “título”, pela sua posição de chefe de família: «A casa dela era grande; os filhos estavam seguros e felizes e bem-educados. Convenceu-se de que isso era o essencial daquilo que planeara há tantos anos.» (p. 103)
Elena Richardson é daquelas pessoas irritantes que gosta de ter tudo no lugar certo e determinada em praticar boas acções (como aquelas pessoas que obrigam a velhinha a atravessar a estrada mesmo quando ela nem queria passar para o outro lado). Por isso mesmo, a renda da casa será muito abaixo do normal e é por isso que Mia se instala aí, apesar das diferenças óbvias entre ambas. Pois Mia é um artista, enquanto que Elena, com a sua família perfeita com um marido perfeito e 4 filhos, vive segura num lugar previsivelmente seguro como Shaker Heights, onde nada acontece: «na sua linda casa perfeitamente ordenada e abundantemente mobilada, em que a relva estava sempre aparada e as folhas eram apanhadas e nunca, nunca havia lixo à vista; no seu lindo bairro perfeitamente ordenado, em que cada relvado tinha uma árvore e as ruas eram curvas para ninguém andar demasiado depressa e cada casa se harmonizar com a seguinte; na sua linda cidade perfeitamente ordenada, em que todos se davam bem e todos cumpriam as regras e tudo tinha de ser útil e lindo por fora, fosse qual a fosse a confusão por dentro.» (p. 300)
E quando além disso Mrs. Richardson propõe, de modo a que seja irrecusável, que Mia faça um part-time como gestora do lar (vulgo politicamente correcto para empregada doméstica), Mia aceita também, até porque isso lhe permitirá acesso aos bastidores da casa da família que Pearl começa a preferir à sua mãe.
Agora, quanto à mini-série: a adaptação do livro Pequenos Fogos em todo o lado, de Celeste Ng, é bastante livre. E sinceramente acho que isso só enriqueceu a minha leitura do livro pois há várias questões que são muito mais exploradas, principalmente, o conflito entre Mia e Mrs. Richardson que é intensificado pela questão cultural, uma vez que na série Mia e Pearl são representadas como “afro-americana”. E é fantástico ver o confronto entre duas boas actrizes: Mia, representada por Kerry Washington (a Olivia Pope de Scandal), e Elena Richardson interpretada por Reese Witherspoon. Há aliás muito mais diálogo entre ambas as mulheres, o que pouco acontece no livro, e a hostilidade muito mais declarada entre uma artista de espírito livre e uma americana loura de boas famílias com um trabalho como repórter em part-time (pois a família é naturalmente a sua prioridade). Só é pena, na minha perspectiva (e se não quiserem um pequeno spoiler do livro aconselho a parar de ler aqui), que na série não se tenha respeitado um aspecto da história original: há uma mulher que é mãe, mas permanece também virgem, enquanto que na série é apresentada como mais promíscua.
As últimas palavras são acerca da minha muito adorada Reese Witherspoon. Mrs. Richardson aparece demasiado caricaturizada na série, como acontece com o seu sistema de organização por cores e os seus calendários para tudo, inclusive para as relações sexuais com o marido que só podem ocorrer às quartas-feiras e sábados. Mas não acho que se possa subestimar a actriz em si, até porque é muito mais exigente do que se possa pensar uma actriz inteligente, ainda por cima com o seu ar de Barbie, conseguir representar convincentemente uma mulher tonta (aqui uma espécie de Legalmente Loura na sua versão adulta) que vê todas as suas certezas arderem.
Nas primeiras temporadas aquilo que nos assombrava era a brilhante interpretação de Claire Danes (muito longe da Julieta de outros tempos), especialmente quando emergia o comportamento da “Crazy Carrie”. Carrie largava por vezes a medicação da sua bipolaridade pois acreditava que era quando começava a perder ligeiramente o juízo que a sua mente até trabalhava melhor, conseguindo juntar mais eficazmente as peças do puzzle (lembram-se de Uma mente brilhante com o Russel Crowe? Pois, aqui não é assim tão acentuado). Mas nestas últimas temporadas a série tornou-se ainda mais brilhante, muito colada à realidade, afastando-se um pouco da turbulência do Médio Oriente pós-11 de Setembro, para passar a Berlim e depois aos E.U.A., para uma mulher-presidente que impõe um regime de terror e medo, prendendo aqueles que ameaçam o seu poder.
Homeland chegou mesmo a antecipar a realidade – penso que foi na temporada 5 -, implicando que a transmissão de um episódio fosse adiada porque aquilo que ia ser mostrado, nesse episódio, aconteceu mesmo na vida real… Dias antes do episódio ir para o ar, ocorreu um ataque bombista em Berlim.
Ontem foi exibido o penúltimo episódio da temporada 8, aquela que se prevê ser também a última temporada desta série. Carrie mantém-se firme como um rochedo no meio das crises que gere – mesmo quando é perseguida e acusada de ser uma agente dupla. Considerando aquilo que Carrie já viveu – perder o amante, acusado de ser um espião; abdicar da custódia da filha; lidar com a sua própria doença; perder um dos seus amigos mais chegados – é até impressionante que ela se mantenha mais lúcida e calma do que nunca. E o final do episódio é de uma ironia poética tão avassaladora que fiquei mesmo arrepiado, com pele de galinha, quando a escolha que se coloca é: salvar o mundo ou o seu mentor e protector?
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