O Homem Que Passeava Livros, de Carsten Henn Ver artigo
O Poder do Cão, obra-prima de Thomas Savage, publicado pela Leya/ASA, com tradução de Elsa T. S. Vieira, revivifica uma poderosa voz da literatura americana do século XX. Este romance escrito originalmente em 1967 ficou votado ao esquecimento durante décadas, ressurgindo agora, a partir de uma adaptação ao pequeno ecrã por Jane Campion, disponível na Netflix desde 1 de dezembro. A realizadora de O Piano recebeu aliás o prémio de Melhor Realizadora no Festival de Veneza por este filme, protagonizado por Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst. Ver artigo
Maya Angelou tinha 17 anos quando, de uma relação totalmente acidental e infeliz, quase como uma curiosidade que lhe cumpria esclarecer, nasceu o seu único filho. Esse rapaz viria a revelar-se uma dádiva numa vida que não foi sempre feliz. Mas neste pequeno livro Maya Angelou escreve-nos, na primeira pessoa, sobretudo de dádivas e lições que a vida lhe deu. Estes 28 pequenos textos, onde confluem também alguns poemas, são ensinamentos, sob a forma de pequenas histórias de vida, que a autora deseja transmitir à filha que nunca teve, escrevendo para as suas muitas filhas: «Dei à luz uma criança, um rapaz, mas tenho milhares de filhas. Sois brancas e negras, judias e muçulmanas, asiáticas, hispânicas, ameríndias e esquimós. Sois gordas e magras e bonitas e feias, homossexuais e heterossexuais, instruídas e iletradas, e estou a falar para todas vós. É isto que tenho para vos oferecer.» Ver artigo
Cães Maus Não Dançam é o novo romance de Arturo Pérez-Reverte, autor cuja obra tem sido publicada pela ASA (LeYa), traduzido do castelhano por Cristina Rodriguez e Artur Guerra. Uma narrativa negra e assombrosa, que reflecte sobre a vida pela perspectiva do ser mais leal, o cão. Ver artigo
O Prémio Leya 2018 foi atribuído ao romance Torto Arado do autor brasileiro Itamar Vieira Júnior. O vencedor do Prémio foi anunciado em Outubro de 2017 e a cerimónia de entrega do prémio decorreu no passado domingo, dia 2 de Junho, na Feira do Livro de Lisboa.
Torto Arado é um livro de grande solidez narrativa e que bebe da herança dos clássicos, pois lembra o universo romanesco de João Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas ou mesmo o realismo mágico sul-americano. Aqui a acção não se centra, portanto, nas metrópoles e no caos urbano ao jeito de Rubem Fonseca, mas sim num universo rural, suspenso num tempo incerto, em que eventos místicos são comuns na vida do povo de Água Negra.
Bibiana e Belonísia são duas irmãs, que nascem na Fazenda Água Negra, no sertão da Bahia, onde os seus pais trabalham a terra e nunca de lá saíram. Depois de um trágico acidente, provocado pela curiosidade involuntária de uma das irmãs, ao remexer numa velha mala escondida debaixo da cama, as circunstâncias impõem que com o passar dos anos uma aliança se crie entre elas, nem sempre pacífica, em que uma será a voz da outra: «Deveria se aprimorar a sensibilidade que cercaria aquela convivência, a partir de então. Ter a capacidade de ler com mais atenção os olhos e os gestos da irmã. Seríamos as iguais. A que emprestaria a voz teria que percorrer com a visão os sinais do corpo da que emudeceu. A que emudeceu teria que ter a capacidade de transmitir com gestos largos e também vibrações mínimas as expressões que gostaria de comunicar.» (p. 24)
Torto Arado coloca ênfase nas figuras femininas, atentando como os seus corpos continuam a registar marcas do domínio violento exercido pela sociedade patriarcal. Em simultâneo, denuncia-se os abusos dos senhores das roças sobre aqueles que trabalham a terra e vivem do pouco que conseguem retirar para si: «Mas as batatas do nosso quintal não são deles», alguém dizia, «eles plantam arroz e cana. Levam batatas, levam feijão e abóbora. Até folhas pra chá levam. E se as batatas colhidas estiverem pequenas fazem a gente cavoucar a terra para levar as maiores» (p. 46). A isto acresce uma nota de magia graças aos poderes de Zeca Chapéu Grande, o pai das duas irmãs, um curador de jarê, que tem o dom de curar a saúde do espírito e do corpo dos aflitos, dos doentes, dos necessitados que chegam a sua casa e por lá ficam durante semanas.
Itamar Vieira Júnior nasceu em Salvador, Bahia, em 1979. É escritor, geógrafo e doutorado em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA).
Nesta 10.ª edição, o Prémio LeYa contou com 348 originais provenientes de 13 países. Portugal e Brasil são aqueles de onde provém a maioria dos originais avaliados, tendo chegado obras de países tão diversos como Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, China ou Islândia, entre muitos outros. Com o valor de 100 mil euros, o Prémio LeYa é o maior prémio literário para romances inéditos de todo o mundo de língua portuguesa.
O escritor estará presente no próximo dia 6 de Junho, quinta-feira, na Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen, em Loulé, para a apresentação do livro pelas 18h. A apresentação da obra estará a cargo da Professora Doutora Mirian Tavares.
Torto Arado é um livro de grande solidez narrativa e que bebe da herança dos clássicos, pois lembra o universo romanesco de João Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas ou mesmo o realismo mágico sul-americano. Aqui a acção não se centra, portanto, nas metrópoles e no caos urbano ao jeito de Rubem Fonseca, mas sim num universo rural, suspenso num tempo incerto, em que eventos místicos são comuns na vida do povo de Água Negra.
Bibiana e Belonísia são duas irmãs, que nascem na Fazenda Água Negra, no sertão da Bahia, onde os seus pais trabalham a terra e nunca de lá saíram. Depois de um trágico acidente, provocado pela curiosidade involuntária de uma das irmãs, ao remexer numa velha mala escondida debaixo da cama, as circunstâncias impõem que com o passar dos anos uma aliança se crie entre elas, nem sempre pacífica, em que uma será a voz da outra: «Deveria se aprimorar a sensibilidade que cercaria aquela convivência, a partir de então. Ter a capacidade de ler com mais atenção os olhos e os gestos da irmã. Seríamos as iguais. A que emprestaria a voz teria que percorrer com a visão os sinais do corpo da que emudeceu. A que emudeceu teria que ter a capacidade de transmitir com gestos largos e também vibrações mínimas as expressões que gostaria de comunicar.» (p. 24)
Torto Arado coloca ênfase nas figuras femininas, atentando como os seus corpos continuam a registar marcas do domínio violento exercido pela sociedade patriarcal. Em simultâneo, denuncia-se os abusos dos senhores das roças sobre aqueles que trabalham a terra e vivem do pouco que conseguem retirar para si: «Mas as batatas do nosso quintal não são deles», alguém dizia, «eles plantam arroz e cana. Levam batatas, levam feijão e abóbora. Até folhas pra chá levam. E se as batatas colhidas estiverem pequenas fazem a gente cavoucar a terra para levar as maiores» (p. 46). A isto acresce uma nota de magia graças aos poderes de Zeca Chapéu Grande, o pai das duas irmãs, um curador de jarê, que tem o dom de curar a saúde do espírito e do corpo dos aflitos, dos doentes, dos necessitados que chegam a sua casa e por lá ficam durante semanas.
Itamar Vieira Júnior nasceu em Salvador, Bahia, em 1979. É escritor, geógrafo e doutorado em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA).
Nesta 10.ª edição, o Prémio LeYa contou com 348 originais provenientes de 13 países. Portugal e Brasil são aqueles de onde provém a maioria dos originais avaliados, tendo chegado obras de países tão diversos como Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, China ou Islândia, entre muitos outros. Com o valor de 100 mil euros, o Prémio LeYa é o maior prémio literário para romances inéditos de todo o mundo de língua portuguesa.
O escritor estará presente no próximo dia 6 de Junho, quinta-feira, na Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen, em Loulé, para a apresentação do livro pelas 18h. A apresentação da obra estará a cargo da Professora Doutora Mirian Tavares.
O autor, nascido em Londres em 1967, arquitecto e professor de Artes Visuais, foi finalista do Prémio Leya em 2014 com Perguntem a Sarah Gross, livro que foi depois publicado pela Leya (como tem acontecido com as obras finalistas) e escolhido como Melhor Livro de Ficção Narrativa de 2015 pela Sociedade Portuguesa de Autores. Neste segundo romance, vencedor do Prémio Leya de 2017, João Pinto Coelho regressa à Polónia, país onde integrou já duas acções do Conselho da Europa em Auschwitz, trabalhou proximamente com vários investigadores do Holocausto e realizou intervenções públicas sobre essa matéria.
No Nordeste da Polónia, «numa certa cidade em forma de medalha perdida na floresta» (p. 303), igualmente descrita por vezes como «círculo perfeito» (p. 287) existe um shtetl, termo iídiche para uma pequena cidade do Leste da Europa cuja população é constituída maioritariamente por judeus (p. 29). Este espaço circular, nunca nomeado, surge como alegoria de um lugar que por mais fechado e por muito apartado da civilização sempre resulta como cenário à revelação, esperemos nós, não da verdadeira natureza do homem mas do seu lado mais obscuro e selvagem, num acto fugidio de loucura (para a qual aponta o título) que o tempo não apaga. À luz do que se tem lido ultimamente, e que o autor refere na «Nota do autor», a Polónia parece querer reescrever a sua história de modo a não dar conta da participação polaca nos crimes perpetrados contra concidadãos judeus durante o período da ocupação pela Alemanha nazi. Esta localidade em forma de disco pode representar assim Jedwabne, pequena cidade do nordeste da Polónia, ou, mais livremente, a circularidade da História e de como tantas vezes se cometem os mesmos erros.
A acção tem início em Paris em 2001, quando dois velhos amigos, apesar de os separar agora as largas décadas em que ficaram sem se ver, se reencontram. Yankel é um livreiro cego, que foi belo como um deus, continua bonito, e parece imortal como o tempo, vivendo aliás rodeado de relógios, cuja maior companhia são os romances, e ocasionalmente alguns contos, lidos em voz alta por mulheres que vão ficando «entre as páginas e os lençóis» (p. 10) – a literatura de alcova ganha aqui outro sentido. O melhor da narrativa é a forma como o romance parece escrever-se dentro do próprio romance, e os diálogos entre os dois velhos amigos, quando em 2001 Eryk tenta convencer Yankel a ser o seu “co-autor”, até porque as memórias que pretende deixar escritas não se fizeram sozinhas. Eryk, agora conhecido como Paul Lestrange, tornou-se um escritor famoso e, doente, decide regressar às suas memórias para escrever definitivamente a sua última obra, que o tem acompanhado desde há muito. Vivienne é a editora de Eryk há mais de quarenta anos e a sua mulher, a rasurar a história e a sugerir caminhos. Estabelece-se assim um triângulo amoroso, que alterna com o de há cerca de 70 anos, quando Shionka, a filha da bruxa, toma de assalto a amizade de Eryk, cristão, e Yankel, judeu.
É irónico que Paul Lestrange seja o pseudónimo tomado por Eryk quando começa a escrever, pois é ele quem vê de fora a relação de amizade que resulta em sexo e eventualmente amor de Yankel, cego, e de Shionka, a rapariga muda e quase primitiva. É ainda irónico que Eryk seja assumido como o escritor que decide revisitar a sua infância e reescrever a sua história, quando é Yankel, o cego, que lhe ilumina os recessos da memória, que pode ou não corroborar a sua versão dos factos – sendo que Yankel claramente não viu tudo o que então se passou e não sabe o que Eryk sentiu ou fez – e é ainda a voz de Yankel que podemos ouvir/ler em diversos momentos da narrativa, na primeira pessoa, e surgindo grafada no texto em itálico, numa clara distinção face à tessitura narrativa na terceira pessoa. É essa voz narrativa omnisciente que pretende dar conta de um vasto número de personagens, o que a certa altura pode ser desafiante para o leitor. A complexidade narrativa, repartida por uma pluralidade de vozes e de pontos de vista, chega mesmo, a certa altura, a oferecer-nos a perspectiva de um cão. O que aliás pode fazer todo o sentido, pois nesta narrativa o autor tem a coragem de revelar como a condição humana pode descer ao mais abjecto, quer pelos actos cometidos, quer pela forma como é maltratado e humilhado pelo seu congénere. Os judeus são em diversos momentos, ainda antes do final, encarados e tratados como animais, sendo que um cão pode obter mais simpatia por parte de um cristão do que um judeu.
No Nordeste da Polónia, «numa certa cidade em forma de medalha perdida na floresta» (p. 303), igualmente descrita por vezes como «círculo perfeito» (p. 287) existe um shtetl, termo iídiche para uma pequena cidade do Leste da Europa cuja população é constituída maioritariamente por judeus (p. 29). Este espaço circular, nunca nomeado, surge como alegoria de um lugar que por mais fechado e por muito apartado da civilização sempre resulta como cenário à revelação, esperemos nós, não da verdadeira natureza do homem mas do seu lado mais obscuro e selvagem, num acto fugidio de loucura (para a qual aponta o título) que o tempo não apaga. À luz do que se tem lido ultimamente, e que o autor refere na «Nota do autor», a Polónia parece querer reescrever a sua história de modo a não dar conta da participação polaca nos crimes perpetrados contra concidadãos judeus durante o período da ocupação pela Alemanha nazi. Esta localidade em forma de disco pode representar assim Jedwabne, pequena cidade do nordeste da Polónia, ou, mais livremente, a circularidade da História e de como tantas vezes se cometem os mesmos erros.
A acção tem início em Paris em 2001, quando dois velhos amigos, apesar de os separar agora as largas décadas em que ficaram sem se ver, se reencontram. Yankel é um livreiro cego, que foi belo como um deus, continua bonito, e parece imortal como o tempo, vivendo aliás rodeado de relógios, cuja maior companhia são os romances, e ocasionalmente alguns contos, lidos em voz alta por mulheres que vão ficando «entre as páginas e os lençóis» (p. 10) – a literatura de alcova ganha aqui outro sentido. O melhor da narrativa é a forma como o romance parece escrever-se dentro do próprio romance, e os diálogos entre os dois velhos amigos, quando em 2001 Eryk tenta convencer Yankel a ser o seu “co-autor”, até porque as memórias que pretende deixar escritas não se fizeram sozinhas. Eryk, agora conhecido como Paul Lestrange, tornou-se um escritor famoso e, doente, decide regressar às suas memórias para escrever definitivamente a sua última obra, que o tem acompanhado desde há muito. Vivienne é a editora de Eryk há mais de quarenta anos e a sua mulher, a rasurar a história e a sugerir caminhos. Estabelece-se assim um triângulo amoroso, que alterna com o de há cerca de 70 anos, quando Shionka, a filha da bruxa, toma de assalto a amizade de Eryk, cristão, e Yankel, judeu.
É irónico que Paul Lestrange seja o pseudónimo tomado por Eryk quando começa a escrever, pois é ele quem vê de fora a relação de amizade que resulta em sexo e eventualmente amor de Yankel, cego, e de Shionka, a rapariga muda e quase primitiva. É ainda irónico que Eryk seja assumido como o escritor que decide revisitar a sua infância e reescrever a sua história, quando é Yankel, o cego, que lhe ilumina os recessos da memória, que pode ou não corroborar a sua versão dos factos – sendo que Yankel claramente não viu tudo o que então se passou e não sabe o que Eryk sentiu ou fez – e é ainda a voz de Yankel que podemos ouvir/ler em diversos momentos da narrativa, na primeira pessoa, e surgindo grafada no texto em itálico, numa clara distinção face à tessitura narrativa na terceira pessoa. É essa voz narrativa omnisciente que pretende dar conta de um vasto número de personagens, o que a certa altura pode ser desafiante para o leitor. A complexidade narrativa, repartida por uma pluralidade de vozes e de pontos de vista, chega mesmo, a certa altura, a oferecer-nos a perspectiva de um cão. O que aliás pode fazer todo o sentido, pois nesta narrativa o autor tem a coragem de revelar como a condição humana pode descer ao mais abjecto, quer pelos actos cometidos, quer pela forma como é maltratado e humilhado pelo seu congénere. Os judeus são em diversos momentos, ainda antes do final, encarados e tratados como animais, sendo que um cão pode obter mais simpatia por parte de um cristão do que um judeu.
Ao preparar-me para reler Autópsia de um Mar de Ruínas, de João de Melo, sobre a guerra colonial em Angola, decidi ler em paralelo este livro agora integrado na Coleção Essencial Livros RTP, editada pela Leya, constituíndo o 11.º volume, foi originalmente publicado em 1992 pela Dom Quixote.
Dividida em quatro partes, com um salto temporal de mais ou menos uma década entre cada uma das partes, esta obra acompanha a história de 4 jovens que em 1961 se reuniam na Casa dos Estudantes do Império, salta depois para o período da guerra civil, quando acompanhamos um jovem guerrilheiro na chana (algo entre deserto e floresta), para 20 anos depois encontrarmos um deles afastado da sociedade a viver quase como um eremita, até que em 1991, 30 anos depois, o livro fecha num epílogo incerto, que não se sabe se é uma nota de esperança ou de profunda ironia e desencanto perante a sociedade que estes mesmos jovens, três décadas antes, idealizavam e “desconseguiram” de realizar. Cada uma das partes do livro centra-se à vez em torno das personagens de Sara, Aníbal, Malongo e Vítor. A voz do narrador é muitas vezes entretecida com a corrente de consciência das personagens, num discurso indirecto livre que nos permite acompanhar os seus ideais e os seus ressentimentos, se bem que em cada uma das partes, exceptuando na primeira, é sempre preciso juntar as pistas até percebermos por fim quem é o protagonista. A primeira parte, talvez por acompanhar a juventude destes jovens oriundos de Angola, ora brancos (Sara), ora negros ou mestiços, que estão em vias de terminar os seus cursos, é narrada num tom mais vivo e os acontecimentos sucedem-se, entre o íntimo e pessoal e o colectivo, sendo a Casa o centro da acção, onde se reúnem para discutir os assuntos da actualidade ou simplesmente para se rever. Dez anos depois, e nas partes que se seguem, à medida que nos adentramos na idade adulta das personagens vence o tom de desencanto de uma geração que parece ter falhado o sonho que se destinava cumprir: «Isto de utopia é verdade. Costumo pensar que a nossa geração se devia chamar a geração da utopia. Tu, eu, o Laurindo, o Victor antes, para só falar dos que conheceste. Mas tantos outros, vindos antes ou depois, todos nós a um momento dado éramos puros e queríamos construir uma sociedade justa, sem diferenças, sem privilégios, sem perseguições, uma comunidade de interesses e pensamentos, o Paraíso dos cristãos em suma. A um momento dado, mesmo que muito breve nalguns casos, fomos puros, desinteressados, só pensando no povo e lutando por ele.». O próprio autor, à semelhança de algumas das personagens masculinas, passou por militar, político, para depois se dedicar exclusivamente à escrita. E nesta obra da póscolonialidade o autor assume claramente a sua identidade pois não há qualquer desejo de escrever o português da metrópole ou do Império pois o autor institui a diferença da sua escrita logo na primeira linha: «Portanto, só os ciclos eram eternos.», colocando-a na boca de um narrador que supomos ser Aníbal pois é ele quem o leitor surpreende a escrever pensamentos soltos. Segue-se a esta frase um parêntesis (literalmente) em jeito de nota explicatória e introdutória: «(Na prova oral de Aptidão à Faculdade de Letras, em Lisboa, o examinador fez uma pergunta ao futuro escritor. Este respondeu, hesitantemente, iniciando com um portanto. De onde é o senhor?, perguntou o Professor, ao que o escritor respondeu de Angola. Logo vi que não sabia falar português; então desconhece que a palavra portanto só se utiliza como conclusão dum raciocínio? Assim mesmo, para pôr o examinando à vontade. (…) )». O autor faz recurso portanto de diversos termos usados ainda hoje em Angola se bem que próximos de uma certa coloquialidade e não propriamente apanágio de uma norma: maka, kamba, desconseguir ou a deliciosa expressão “Esse é o problema que estamos com ele.”.
É nos diálogos entre as personagens que percebemos os ideais em confronto e principalmente a forma como se falhou (um dos jovens promissores da Casa, por exemplo, torna-se um político receoso de manter o seu poder e a servir os seus próprios interesses) perante um país que depois da guerra colonial continuou em guerra civil durante 20 anos mais. Pepetela narra sem medo e de forma magistral um amplo mosaico da sociedade angolana (consegue narrar diversas realidades, entretecendo-as sem custo como o excelso contador de histórias que é) das últimas décadas (se bem que desde a publicação desta obra se tenham entretanto passado outros 20 anos mais, sobre os quais podemos ler em Se o passado não tivesse asas, mas pouca coisa parece ter mudado) e daquela que era uma geração promissora que partiu para a Europa para beber de outros ideais mas viu ainda assim goradas as suas expectativas e utopias.
Dividida em quatro partes, com um salto temporal de mais ou menos uma década entre cada uma das partes, esta obra acompanha a história de 4 jovens que em 1961 se reuniam na Casa dos Estudantes do Império, salta depois para o período da guerra civil, quando acompanhamos um jovem guerrilheiro na chana (algo entre deserto e floresta), para 20 anos depois encontrarmos um deles afastado da sociedade a viver quase como um eremita, até que em 1991, 30 anos depois, o livro fecha num epílogo incerto, que não se sabe se é uma nota de esperança ou de profunda ironia e desencanto perante a sociedade que estes mesmos jovens, três décadas antes, idealizavam e “desconseguiram” de realizar. Cada uma das partes do livro centra-se à vez em torno das personagens de Sara, Aníbal, Malongo e Vítor. A voz do narrador é muitas vezes entretecida com a corrente de consciência das personagens, num discurso indirecto livre que nos permite acompanhar os seus ideais e os seus ressentimentos, se bem que em cada uma das partes, exceptuando na primeira, é sempre preciso juntar as pistas até percebermos por fim quem é o protagonista. A primeira parte, talvez por acompanhar a juventude destes jovens oriundos de Angola, ora brancos (Sara), ora negros ou mestiços, que estão em vias de terminar os seus cursos, é narrada num tom mais vivo e os acontecimentos sucedem-se, entre o íntimo e pessoal e o colectivo, sendo a Casa o centro da acção, onde se reúnem para discutir os assuntos da actualidade ou simplesmente para se rever. Dez anos depois, e nas partes que se seguem, à medida que nos adentramos na idade adulta das personagens vence o tom de desencanto de uma geração que parece ter falhado o sonho que se destinava cumprir: «Isto de utopia é verdade. Costumo pensar que a nossa geração se devia chamar a geração da utopia. Tu, eu, o Laurindo, o Victor antes, para só falar dos que conheceste. Mas tantos outros, vindos antes ou depois, todos nós a um momento dado éramos puros e queríamos construir uma sociedade justa, sem diferenças, sem privilégios, sem perseguições, uma comunidade de interesses e pensamentos, o Paraíso dos cristãos em suma. A um momento dado, mesmo que muito breve nalguns casos, fomos puros, desinteressados, só pensando no povo e lutando por ele.». O próprio autor, à semelhança de algumas das personagens masculinas, passou por militar, político, para depois se dedicar exclusivamente à escrita. E nesta obra da póscolonialidade o autor assume claramente a sua identidade pois não há qualquer desejo de escrever o português da metrópole ou do Império pois o autor institui a diferença da sua escrita logo na primeira linha: «Portanto, só os ciclos eram eternos.», colocando-a na boca de um narrador que supomos ser Aníbal pois é ele quem o leitor surpreende a escrever pensamentos soltos. Segue-se a esta frase um parêntesis (literalmente) em jeito de nota explicatória e introdutória: «(Na prova oral de Aptidão à Faculdade de Letras, em Lisboa, o examinador fez uma pergunta ao futuro escritor. Este respondeu, hesitantemente, iniciando com um portanto. De onde é o senhor?, perguntou o Professor, ao que o escritor respondeu de Angola. Logo vi que não sabia falar português; então desconhece que a palavra portanto só se utiliza como conclusão dum raciocínio? Assim mesmo, para pôr o examinando à vontade. (…) )». O autor faz recurso portanto de diversos termos usados ainda hoje em Angola se bem que próximos de uma certa coloquialidade e não propriamente apanágio de uma norma: maka, kamba, desconseguir ou a deliciosa expressão “Esse é o problema que estamos com ele.”.
É nos diálogos entre as personagens que percebemos os ideais em confronto e principalmente a forma como se falhou (um dos jovens promissores da Casa, por exemplo, torna-se um político receoso de manter o seu poder e a servir os seus próprios interesses) perante um país que depois da guerra colonial continuou em guerra civil durante 20 anos mais. Pepetela narra sem medo e de forma magistral um amplo mosaico da sociedade angolana (consegue narrar diversas realidades, entretecendo-as sem custo como o excelso contador de histórias que é) das últimas décadas (se bem que desde a publicação desta obra se tenham entretanto passado outros 20 anos mais, sobre os quais podemos ler em Se o passado não tivesse asas, mas pouca coisa parece ter mudado) e daquela que era uma geração promissora que partiu para a Europa para beber de outros ideais mas viu ainda assim goradas as suas expectativas e utopias.
Publicado na Colóquio Letras, n.º 190, Set. 2015, p. 229-231.
O Meu Irmão, de Afonso Reis Cabral, é o mais recente vencedor do Prémio Leya, o mais importante prémio literário nacional, no valor de cem mil euros, atribuído ao melhor romance original escrito em língua portuguesa.
O Prémio Leya 2014 distinguiu-se, este ano, em dois aspetos: não só premiou o mais jovem autor de sempre na história deste galardão, como também antecipou a publicação do livro premiado. Tendo o vencedor sido anunciado em 17 de Outubro, o livro chegou às livrarias no dia 21 de Novembro, ao contrário do que antes acontecia, em que o romance vencedor era publicado apenas no primeiro trimestre do ano seguinte à sua atribuição.
O início do romance parece delimitar bem a ação espacialmente: «Isto vai passar-se no Tojal. Ora o Tojal é perto de Arouca e longe de tudo o resto.» (p. 9), da mesma forma que acusa desde logo uma nota oralizante que persistirá ao longo da narrativa. Todavia esta precisão da coordenada espacial pode revelar-se enganadora. O local da ação não se pode considerar atópico mas é de tal modo isolado e primitivo que parece servir apenas o objetivo de confinar o protagonista, numa espécie de reclusão voluntária que melhor servirá à introspeção que decorre ao longo dos próximos capítulos.
A ação decorre assim em dois planos paralelos, em capítulos alternados não numerados, onde por um lado temos a ação circunscrita ao Tojal que decorre no presente e, por outro lado, discorre a narração progressiva da vida do narrador e do seu irmão, desde a infância, até chegarmos exatamente ao momento com que se inicia o romance, de forma a compreender o mistério que motivou aquela viagem de regresso à casa de família. O livro configura-se assim numa espécie de viagem de retorno que permitirá, por fim, compreender a decisão do narrador se ter isolado com o irmão, numa tentativa desesperada de reaver o seu amor, durante uma semana no Tojal. Esta casa semiabandonada, perdida numa pequena aldeia de xisto, perto do rio Paiva, onde os dois irmãos passavam as férias com os pais, em crianças, e que agora possui apenas três habitantes, dado o isolamento do local, deverá assim servir de último refúgio ao reparo da relação entre o narrador e o seu irmão Miguel, se bem que o confinamento também acarrete perigos ou revelações irresolúveis: «Agora penso que fugir do mundo foi um erro, porque nos colocámos no centro dele.» (p. 53). No final do romance, algo emblemático, quando os dois irmãos imersos no nevoeiro se seguram de forma a encontrar o caminho de volta, confirma-se a sensação de se fechar um ciclo – é inclusivamente curioso que o próprio romance se estenda ao longo de 365 páginas.
Apenas no final do segundo capítulo o leitor percebe a especial condição de Miguel, apresentada num retrato próximo do grotesco: «Depois de entrar segurando a minha mão, olha para mim e abre um sorriso nos olhos meia-lua, entre constrangido e alegre. Range os dentes de felicidade ou susto ou não sei o quê./Senta-se no sofá levantando o pó. A barriga enrola-se em dois altos encostados um ao outro. Os dedos simulam um estalido quase imperceptível; repletos de calos, têm o mesmo comprimento. As orelhas diminutas sobressaem no cabelo curto. A camisola justa ao pescoço e as mangas reviradas. Os olhos denunciam o aspecto estrangeiro. Não se consegue controlar, mexe-se com ansiedade./Apesar de parecer uma criança envergonhada de dez anos a mexer os dedos e a fazer salamaleques, é bem o meu irmão, na casa dos quarenta, um pouco para o gordo e, claro, mongolóide.» (p. 20).
E aqui reside a maestria revelada pelo autor no tratamento de um tema tão delicado e sensível, se bem que a grande originalidade da obra parta da forma como a questão da condição de Miguel, com o síndroma de Down ou trissomia do cromossoma 21, permitirá, por contraste, a prospeção dos meandros mais obscuros da natureza humana, isto é, da natureza do irmão de Miguel, o narrador sem nome. Apesar de o título do livro se justificar pela intenção do narrador inominado de fazer uma «confissão em forma de livro» (p. 98) acerca do seu irmão, a narrativa configura-se como um relato na primeira pessoa em que expõe a sua própria natureza e anseios. O próprio facto de o narrador parecer estar dividido e em profunda crise interior é reforçado pelo subtexto presente ao longo da narrativa, em que parágrafos curtos, graficamente distintos por um tamanho de letra mais pequeno, parecem constituir um discurso interior livre de autocensura, em que o narrador faz inclusivamente observações em que se põe a si mesmo a nu.
Do narrador sabemos que é um homem com apenas um ano de diferença do irmão, com pouco menos de cinquenta anos de idade, professor universitário da área da literatura, especialista no verbete, um homem desfasado da realidade, solitário, em suma, uma espécie de misantropo. O «senhor doutor» narrador, como é tratado pelas pessoas da terra, e apesar do seu prestígio entre o meio académico, é tão deficiente como o irmão, na sua incapacidade de se ligar emocionalmente a outras pessoas, e, talvez por isso mesmo, insista em tornar-se o seu tutor legal, investindo todo o seu amor (como uma salvação) no seu irmão Miguel, numa relação que se afigura quase obsessiva e doentia.
Não será por acaso que a intriga se conclua no Tojal, lugarejo isolado que deveria servir para melhor encontrar uma comunhão com o outro, uma terra que, se fizer jus ao nome, simboliza os perigos e espinhos desta história de amor fraterno contada no masculino. Este ambiente rural isolado e quase arcaico, que se intenta representar na própria capa do romance, parece convir a uma reescritura do mito de Caim e Abel, como se pode pressentir na epígrafe do romance: «Raça de Abel, dorme, come e bebe,/Deus sorri complacentemente.» – versos retirados de um poema de As Flores do Mal, de Baudelaire.
«Eu nascera inteligente e perfeito, ele nascera inimputável e incompleto. Sendo irmãos, não podíamos ter nascido em lados tão diferentes da vida e, no entanto, um de nós conquistara o centro de vida e outro não. O Miguel abdicara de todos os dons antes de nascer e por isso conquistara o paraíso na terra e Deus guiava-o pela mão, aceitando o que ele oferecia. Crescera anjo ferido, na expressão do nosso pai. E eu acrescento: crescera anjo ferido e não sabia disso. Bastava-lhe existir para existir bem, em paz.» (p. 172).
Se Miguel, conforme o próprio nome de anjo indica, representa a bondade e a pureza, capaz de despertar simpatia entre as pessoas à sua volta – «Porque merece ele, mais do que eu, um aceno de olá e simpatia? Porquê a afeição imediata dos outros? (p. 153) -, mas centrando todo o seu amor em Luciana, uma «apanhadita do cérebro» que frequenta a mesma instituição que ele, já o seu irmão, esse narrador sem nome, representa o seu oposto, um homem invejoso, capaz de ser cruel, dominador, e revelar até, por vezes, algum comportamento sádico sobre o irmão, mas sempre incapaz de fazer que Miguel o ame como ama Luciana. Note-se quando ocorre finalmente o encontro entre Luciana e o narrador, confronto esse que terá aliás um desfecho trágico: «Era ainda mais feia do que imaginava. (…)/Não lhe dirigi a palavra. Tal como ele não me incluía no seu mundo por causa dela, também eu não a incluía no meu mundo por causa dele.» (p. 300).
A terceira personagem masculina que se demarca nesta narrativa, o filho do casal de habitantes do Tojal, parece revelar essa mesma natureza maligna. Quim (corruptela de Caim?) padece também de uma limitação, embora física, e o único prazer que parece retirar da sua existência é castigar os pais, culpando-os inclusivamente pela sua deficiência na perna. O narrador é permanentemente repelido pela personagem de Quim, seja porque este configura um jogo de espelhos e revela o que há de pior em si, seja porque ainda há uma esperança de salvação e remissão através do amor que ele demonstra para com o seu irmão Miguel: «Tudo porque o Quim é aquilo que há de pior no ser humano: sendo igual a mim, não é meu irmão. Por isso não percebo as pequenas perversões e as amarguras. Ou melhor, percebo mas não sinto empatia e julgo-as como se lhes faltasse contexto./ (…) Se de facto fosse meu irmão, talvez o percebesse e tolerasse.» (p.180).
Este romance trata assim da questão do mal e da natureza humana, da bondade e dos laços de sangue que são muitas vezes um passaporte senão mesmo a única garantia de encontrar amor no mundo, trata da luta de viver cada dia mais em contraste com outros que vivem felizes na sua inocente ignorância.
As críticas dividem-se mas a obra revela inegavelmente maturidade, com um estilo talvez excessivo em alguns momentos, mas com uma sólida arquitetura narrativa, tratando subtilmente temas delicados que acusam profundidade crítica, onde não deixam de pontuar frases que revelam um trabalho de linguagem bem conseguido: «As montanhas, como deuses, bebem água directamente das nuvens. E molham-se como deuses. Mas nada interessa, ainda que à nossa volta as nuvens entreguem um abraço ao cume dos montes.» (p. 9).
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