José, O Provedor, o quarto volume de José e os seus Irmãos, de Thomas Mann, é a conclusão desta monumental narrativa da história bíblica de José. Depois dos três volumes anteriores, As Histórias de Jaacob, O Jovem José, José no Egito, encerra-se agora esta tetralogia que a Dom Quixote começou a publicar em 2020, com tradução de Gilda Lopes Encarnação.

Considerada por si a sua magnum opus, Thomas Mann concebeu-a em quatro partes, sendo as três– como uma narrativa unificada, um «romance mitológico» da queda de José na escravidão e da sua ascensão a senhor do Egito.

No início deste quarto volume de uma saga épica, passaram-se sete anos mais três desde que José chegou ao Egipto, como parte da carga de um mercador, a quem os irmãos o venderam, possuídos de ciúme por José ser o benjamim do pai. O filho de Jaacob tem agora 27 anos e converteu-se num braço direito do Faraó, o que faz dele o segundo homem mais poderoso daquela nação. Neste momento da história cumpre-se o vaticínio de José, quando interpretou o sonho do faraó – ou seja, os anos das vacas gordas e das vacas magras; um período de grande carência que só foi possível ultrapassar graças a José, e que permitiu inclusive enriquecer ainda mais os cofres do estado.

Pressente o leitor, conforme se adentra nas mais de 700 páginas deste volume, que se aproxima o aguardado momento do reencontro de José com os irmãos, que agora se dirigem ao Egito justamente para conseguir abastecer-se de cereais com o provedor, sem saber a sua verdadeira identidade.

Um livro lírico, com constantes passagens que refletem sobre a natureza da narrativa e com várias interpelações do autor-narrador ao leitor. Baseado num profundo estudo da História, rico em detalhes pródigos, Mann faz revivescer o mundo mítico dos patriarcas e dos faraós, as antigas civilizações do Egito, da Mesopotâmia e da Palestina, as suas divindades e rituais religiosos, e consegue, simultaneamente, tornar as suas personagens profundamente humanas.

Thomas Mann faz jus ao seu estatuto de Prémio Nobel e deixa-nos uma obra magistral, polifónica, uma portentosa sinfonia que recupera um tema aqui e ali, enquanto se desenvolve entre a infância de José e a vida do seu pai Jaacob.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.