Já saiu o segundo volume da tetralogia José e os seus irmãos, iniciado em As Histórias de Jaacob. Publicado pela Dom Quixote e traduzido directamente do alemão, numa excelente tradução da professora Gilda Lopes Encarnação.
José tem agora dezassete anos e «aos olhos de todos os que o contemplavam, era o rapaz mais belo entre as criaturas de Deus» (p. 9). Continua a ser invejado pelos seus 10 irmãos, mas aquilo que primeiro era ódio, por ser manifesta a predilecção do patriarca Jaacob por José, o único que aliás beneficia de um tutor, começa a transformar-se em temor, conforme se apercebem que, além da sua beleza, José é também inteligente e eloquente, capaz de seduzir, de enfeitiçar.
«É que este menino é esperto como as cobras e manso como as pombas, como todos nós deveríamos, no fundo, ser. Malicioso na inocência e inocente na malícia, de modo que a inocência se torna perigosa e a malícia sagrada – eis as marcas iniludíveis de quem foi abençoado pelo Senhor, e contra elas nada há a fazer, mesmo que o desejássemos, o que nunca sucede, porquanto nelas se adivinha a presença de Deus.» (p. 142)
(…)
Uma obra magistral, polifónica, como uma sinfonia que recupera um tema aqui e ali, enquanto se desenrola a história da queda de José, ao tornar-se escravo, e da sua ascensão a senhor do Egipto. Considerada pelo autor a sua magnum opus, esta recriação da história bíblica de José foi concebida em quatro partes, sendo as próximas a publicar José no Egito e José, o Provedor, e mal podemos esperar pela continuação desta história mítica. Ver artigo
A propósito da atribuição hoje do Prémio José Saramago, lembrei-me de publicar esta recensão, ainda que extensa, publicada recentemente na Colóquio Letras Ver artigo
Não é a primeira vez que sou desafiado para isto, mas tenho resistido. Contudo, aqui vai a minha resposta ao desafio, a quem interessar, mas feita à minha maneira.
Pensei primeiro em referir Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, pelo que só aí arrecadava logo a posição 1 a 7 dos 10 dias, mas vou fazer jogo limpo e indicar um título por cada dia, por ordem de importância e uma breve explicação do porquê desse título.
1- A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende. É um livro a que voltei várias vezes. Foi-me proposto por uma colega do básico, com quem caminhava todos os dias para a escola, e falávamos de tudo, especialmente dos livros que os pais dela liam e que ela também começou a ler. Inevitavelmente os pais dela acabaram por mos emprestar e seja por terem sido os meus primeiros romances adultos lidos na juventude, ou seja por mera coincidência, foram as leituras que mais me marcaram até hoje. Ao ponto de terem determinado o meu futuro académico. Já explico… Lembro-me ainda hoje da bibliotecária, que depois passou a ser uma boa amiga, que me recusou levar o livro da biblioteca, por não ser indicado para a minha idade. Mal sabia ela que eu ia passar a visitá-la todas as semanas e a requisitar aos 3 livros de cada vez. A Casa dos Espíritos marcou-me tanto que quando o li pela primeira vez, aos 15 anos, comecei a escrever eu próprio uma tentativa de romance familiar. E a minha sobrinha hoje chama-se Clara. Falta saber se será clarividente.
2- Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Se a mãe da Tatiana lia Isabel Allende, o pai era fã de Gabo e convenceu-me a não perder tempo com “livros de senhoras”. Este romance marcou-me indelevelmente e de tal forma que a minha tese de mestrado e depois de doutoramento foi sobre o realismo mágico na literatura portuguesa – está publicada em livro e também disponível online. Inclusivamente fiz um estudo comparativo, que depois teve de ser profundamente reformulado e acho que o perdi, entre Cem Anos de Solidão e O meu mundo não é deste reino, de João de Melo, e entre A Casa dos Espíritos e O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge. Segundo os próprios autores as afinidades entre as obras eram muitas mais do que eles próprios se aperceberam.
3- O meu mundo não é deste reino, de João de Melo. Pelas razões que já apontei. E por ser um romance belíssimo, de uma escrita apaixonante. Ainda hoje sigo a obra deste escritor e tomei os Açores como meus, apesar de ter costela madeirense.
4- O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge. Acho que já disse tanto sobre esta escritora, que tem sido uma espécie de fada-madrinha para mim que já nem sei que mais possa escrever. Apaixonei-me por Branca, a Senhora do Dragão, a mulher capaz de ver no interior das pessoas e de prever o futuro.
5- Os Filhos da Meia-Noite, de Salman Rushdie. Outra obra basilar do realismo mágico, lida sem ser por isso, e que aos 16 anos foi lida de rajada, quando eu não iria perceber metade. Mas as gargalhadas que dei com o livro. Penicos voadores, tapetes mágicos, uma criança com orelhas de elefante que sintoniza na sua mente os pensamentos de todos os outros filhos da Índia. Não vejo a hora de reler este romance. Salman Rushdie é hoje um dos meus autores favoritos.
6- As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Li tudo da autora, desde que descobri As Brumas. Apaixonei-me pela Morgana. Pelas lendas arturianas que nunca mais ninguém recontou como a Marion. Ou a guerra de Tróia, recontada em Presságio de Fogo. A sua escrita marcou muito os meus próprios rascunhos.
7- Lillias Fraser, de Hélia Correia. Li o livro muito antes de saber que um dia o trabalharia na minha tese de doutoramento ou de saber que um dia seria recebido pela escritora na sua casa em Sintra. Um romance onde o mágico permite rever a história. Uma menina que vê a morte nas pessoas e se destaca pelo seu brilho dourado e o seu mutismo animal que um dia chega a Lisboa e passa pelo Terramoto de 1755. Tenho um fraco por mulheres fortes, por isso apaixonei-me, tal como a autora, pela Lillias.
8- Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Porquê? Não é por eu ser pretensiosamente pseudo. Foi um romance que me arrebatou, mesmo com as suas frases que se alongam por páginas, como uma sinfonia em crescendo que interliga tudo no último volume. O meu professor de teoria da literatura tanto falou deste livro que eu sabia que o teria de ler. Simplesmente não segui o seu conselho (ainda!) de depois de ler o primero volume passar directamente para o último e depois reler tudo de início…
9- A Montanha Mágica, de Thomas Mann. A outra obra querida ao meu professor de Teoria. Quando finalmente o li pronto, rendi-me, e nada mais tenho a dizer sobre esta obra essencial à humanidade.
10- Regresso a Reims, de Didier Eribon. Hesitei um pouco porque quem lê mais de 52 livros por ano não consegue fazer jus a tudo. Pensei no Guerra e Paz, mas achei que ninguém me ia acreditar. Por isso deixo aqui o Regresso a Reims, de Didier Eribon. Não porque foi o livro que li ontem, mas porque mexeu tanto comigo que me fez desvelar um pouco de mim próprio este fim-de-semana. E porque é um livro em que me revejo muito. Podem ler no blogue porquê. Ver artigo
Irène Némirovsky nasceu em 1903 em Kiev, então pertencente ao Império Russo, numa familia abastada. De ascendência judia, o seu pai era banqueiro e com o deflagrar da Revolução Russa em 1917 a família foge para a Finlândia, por um ano, e depois assenta em Paris. Em 1929 publica o seu primeiro romance, que é desde logo um sucesso, e adaptado ao cinema no ano seguinte. As Moscas de Outono é um dos seus primeiros romances, publicado em 1931. Apesar do nome e prestígio que ganha como escritora, quando a França entra em guerra a autora é impedida de escrever e os seus livros tornam-se proibidos. Em 1942 é detida e deportada para o campo de concentração de Auschwitz (um dos lugares mais tenebrosos que já visitei, onde me senti fisicamente mal) e morreu com 39 anos. A sua obra caiu no esquecimento durante o pós-guerra até que em 2004 o romance inacabado Suite Francesa (que li há bastante tempo) foi publicado, tornando-se um sucesso mundial, vencedor póstumo do Prémio Renaudot, e adaptado ao cinema em 2014.
As Moscas de Outono evoca justamente os lugares e desventuras da sua juventude, tendo sido escrito quando tinha pouco menos do que 28 anos, ao narrar a vida da velha serva Tatiana Ivanovna que dedicou a sua vida aos Karine. Tendo criado duas gerações da família desde a sua tenra idade, e sendo ela que permanece sozinha na propriedade da família, outrora cenário de opulência e luxo, quando tem início a Revolução Russa, a velha ama irá percorrer o país a pé no encalço dos seus amos que fugiram para Paris, transportando consigo os diamantes que simbolizam o remascente da sua riqueza e que lhes permitirá sobreviver como nobres exilados russos.
«O apartamento era pequeno, escuro, abafado; cheirava a poeira, a tecidos velhos; o tecto baixo parecia pesar sobre as cabeças; (…) e nessas quatro pequenas divisões escuras, os Karine viviam até à noite, sem sair, estonteados com os ruídos de Paris (…). Eles iam, vinham, de um muro ao outro, silenciosamente, como as moscas de Outono, quando o calor, a luz e o verão aparecem, voam penosamente, exaustas e arreliadas, contra os vidros, arrastando as asas mortas.» (p. 52)
Enquanto os Karine envelhecem e definham, Tatiana Ivanovna parece não mudar, firme e digna apesar da idade de um século, como um símbolo da Mãe-Rússia, da pátria que tiveram de abandonar.
«-Nós envelhecemos, hã, minha pobrezinha? Mas tu, tu não mudas. Dá gosto ver-te… Não, realmente tu não mudas.
– Na minha idade, já só se muda no caixão – disse Tatiana Ivanovna com um sorriso esguio.» (p. 64) Ver artigo
Kahlil Gibran (a pronúncia mais usual costuma ser Khalil) nasceu na Síria otomana, perto do Monte Líbano, em 1883. A sua infância foi de pobreza extrema e, em 1895, emigrou para os EUA com a mãe e os irmãos. Viveram nos bairros degradados de Boston quando o seu talento artístico chamou a atenção do fotógrafo e editor Fred Holland, que lhe estendeu a mão de modo a passar a frequentar os círculos literários e artísticos. Regressou ao Líbano para terminar os seus estudos, partiu em 1908 para Paris, onde estudou com Auguste Rodin. Em 1912 muda-se definitivamente para Nova Iorque. Estudou arte e escreveu em árabe e inglês, tornando-se um célebre artista e poeta líbano-americano. A par de Shakespeare e Lao-Tzu, é dos poetas mais vendidos de todos os tempos, pois apesar da disposição gráfica em prosa este livro é, na sua essência, um poema e um dos primeiros exemplos de literatura inspiracional (não confundir propriamente com auto-ajuda). O autor faleceu em 1931, com 48 anos.
Almustafá esperou durante doze anos na cidade de Orfalés, onde passou longos dias de sofrimento e longas noites de solidão. Mas quando se prepara para partir no navio que chega ao porto o seu coração apenas destila amor e aqueles que parecem tê-lo repudiado outrora procuram-no agora em busca das suas palavras de sabedoria, aclamando-o como o filho muito amado de Orfalés. Anciãos, sacerdotes, profetas, marinheiros, pedem agora a Almustafá, na despedida, as suas palavras sobre os mais variados temas.
O Profeta é um tratado de um profundo lirismo sobre a humanidade, o amor, o perdão, o autoconhecimento, o trabalho, a morte, o adeus…
«O amor não dá mais do que a si próprio e não retira nada que não seja a si mesmo.
O amor não possui nem pode ser possuído, pois o amor é suficiente por si só.
Quando amardes, não deveis dizer “Deus está no meu coração”, mas antes “Eu estou no coração de Deus”.
E não penseis que podeis dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar merecedores, dirigirá o vosso curso.» (p. 21)
O Profeta, apesar de não ter sido bem recebido quando publicado em 1923, começou a tornar-se um sucesso na década de 30, e é uma das obras mais conhecidas da literatura mundial, agora relançada numa novíssima tradução e edição pela Albatroz (pertencente ao grupo da Porto Editora), e acompanhada de O Jardim do Profeta, escrito como complemento.
Existe, a título de curiosidade, uma adaptação em desenho animado deste livro e a Albatroz publicou ainda O Livro da Vida, onde se compilam pequenos textos célebres de Khalil Gibran, mais de cem histórias sobre o sentido da experiência humana. Ver artigo
Se o nome causa alguma estranheza é por causa da sua herança galega.
A autora nasceu em 1937 no Rio de Janeiro. Formou-se em Jornalismo em 1956 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Colaborou em vários jornais e revistas literários e foi correspondente no Brasil da revista Mundo Nuevo, de Paris. Publicou o seu primeiro romance, Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo, em 1961.
Actualmente com 81 anos, este é o primeiro livro que a autora publica depois de ter recebido o Prémio Vergílio Ferreira 2019. Um livro intimista, feito de memórias, pensamentos soltos, reflexões, aforismos.
«Escrever é o que sei fazer. Narrar me insere na corrente sanguínea do humano e me assegura que assim prossigo na contagem dos minutos da vida alheia. Pois nada deve ser esquecido, deixado ao relento. Há que pinçar a história dos sentimentos a partir da perplexidade sentida pelo homem que na solidão da caverna acendeu o primeiro fogo.» (p. 18) Ver artigo
Ungulani Ba Ka Khosa, muito pouco falado em Portugal, onde apenas existem duas obras publicadas (uma delas esgotada) é dos escritores moçambicanos mais reconhecidos da sua geração. Francisco Esaú Cossa nasceu a 1 de Agosto de 1957 em Inhaminga, na província de Sofala, membro da tribo étnica Tsonga e falante da língua Tsonga, e adoptou como “pseudónimo” o seu nome Tsonga. Formado em Direito e em Ensino de História e Geografia, exerce actualmente as funções de director do Instituto Nacional do Livro e do Disco. É membro e secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos.
A sua primeira obra, Ualalapi (1987), obteve o Grande Prémio de Ficção Moçambicana em 1990 e foi considerada uma das 100 melhores obras africanas de ficção do século XX.
Os sobreviventes da Noite (2005) foi vencedor do prémio José Craveirinha de Literatura em 2007 e trata a história mais recente após a independência declarada em 25 de Junho de 1975, durante o período da guerra civil moçambicana.
O autor explora uma realidade histórica mais recente, mas nem por isso menos problemática, que é a da guerra civil moçambicana pós-independência, abordando particularmente o recrutamento de crianças-soldado e de concubinas-criança.
Numa narrativa aparentemente desconexa, onde o presente da enunciação, de um tempo morto em que nada parece acontecer, é constantemente interrompido por recuos a propósito da entrada em cena de alguma personagem, o que logo cria uma justificativa para se introduzir a sua história. Além disso, há extensas falas de personagens completamente inseridas no discurso do narrador, em que os seus testemunhos em discurso directo são apropriados no seio do discurso indirecto do narrador.
Este tempo de angústia corresponde ao que muitas vezes se vivia em espaços como estes acampamentos de guerra, onde muito do tempo que aí se passava era de espera e de desespero, mesmo que se cumprisse uma rotina.
A narrativa consiste em 6 capítulos não identificados e centra-se em quatro jovens soldados: Severino, Penete, António Boca e José Sabonete, os «sujeitos encarregues de mudar a História» (p. 27).
A guerra é sempre considerada como «sem sentido», «sem razão, e «sem lógica». Todavia, isso não impede que esta guerra se tenha tornado orgânica: «a guerra tornara-se já, no espírito de Severino, António, Penete, João, Francisco e outros, algo de orgânico. Ela circulava no corpo com a mesma naturalidade com que o sangue percorre as veias. E ela tinha que ser alimentada, nutrida.» (p. 32). Ver artigo
Mais que um guia turístico ou um roteiro, este é um livro em que a jornalista e algarvia Teresa Conceição nos conduz numa visita guiada pelo Algarve, de uma ponta a outra: «De “Al” a “Al”. De Alcoutim a Aljezur, de Albufeira a Alvor, de Almancil a Alcantarilha. E também de “O” a “O”: de Odeceixe a Odelouca, de Odeleite a Odiáxere e a Olhão.». Num relato feito na primeira pessoa, a autora desfia passeios, restaurantes, praias, hotéis, alojamentos, e ilustra as suas sugestões com centenas de fotos tiradas por si, incluíndo ainda números de telefone, preços e mapas, numa travessia feita de Sotavento a Barlavento pelos Algarves, sempre com introduções e apontamentos pessoais de alguém que conta «(já) quase meio século de andanças no nosso Sul mais a sul».
Este livro da Guerra & Paz tem ainda a particularidade de resultar de um programa televisivo, pois a rubrica IR é o melhor remédio é apresentada por Teresa Conceição há mais de dez anos na SIC, onde a jornalista apresenta sempre com algum humor e irreverência as suas sugestões pessoais que, naturalmente, não se limitam a praia. Para os mais distraídos, ficam a saber que no Algarve também se podem encontrar flamingos, fazer passeios de burro pelos trilhos da costa vicentina, descobrir caminhos na serra a pé, de bicicleta ou a cavalo, e descobrir uma piscina natural numa aldeia no meio da serra.
E como algarvio que sou não posso deixar de dar o devido mérito à salvaguarda que a autora faz logo no início do livro: o Algarve não é para redescobrir ou conhecer só no Verão, muito menos durante as enchentes do mês de Agosto. Os serviços aqui sugeridos foram sempre experimentados noutras alturas do ano: «Restaurantes bons podem ter dias maus; no Algarve e no Verão, as multidões não ajudam quando se trata de prestar um bom serviço». Ver artigo
O Amor em Lobito Bay, publicado pela D. Quixote, é o quarto volume de contos da autora Lídia Jorge. Natural de Boliqueime, e uma das grandes romancistas da literatura portuguesa pós-25 de Abril, a autora opta por escrever estas narrativas breves entre os seus romances, como forma de experimentação literária, sendo o romance aquilo que a autora chama de “demonstração longa”. Os anteriores volumes de contos foram Marido e outros contos (1997), onde está integrado «Marido», um dos seus melhores contos, O Belo Adormecido (2004), e Praça de Londres (2008). Foram ainda publicados dois contos em edição individual: O organista e A instrumentalina, que já antes tinha conhecido uma edição isolada e estava ainda integrado na antologia de Marido e outros contos. Ver artigo
Fecha-se um ciclo na minha vida com o final desta leitura. Não me marcou tanto como uma certa obra, mas é um romance mágico. Romance de formação, de aprendizagem da vida, pois acredito que os 7 anos que Hans vive no sanatório condensam também a história do mundo, nessa montanha mágica que tem tanto de Olimpo como de descida ao Inferno, onde Settembrini faz de Virgílio, o seu guia e mentor, que o leva a descobrir um pouco da história da humanidade e do conhecimento, num período de tensão como se adivinha já nas discussões com Nafta, prenunciando o estalar da guerra e do confronto extremo de ideologias, que rasgam definitivamente o véu da ilusão e provocam o bruto despertar para a realidade de que Hans fugia, vivendo no sanatório como quem vive um sonho, e à qual por fim regressa de forma corajosa, já não como sonhador ou diletante, mas como guerreiro de sentido estóico perante a vida, perante a morte, enfrentando a morte e o caos com uma canção nos lábios. Da astrologia, astronomia, a dois ou três temas que me são caros, como a literatura, a música e o espiritismo, tudo é coberto pela sede de conhecimento e pelas experiências que Hans bebe de forma voluntariosa. Um livro que demorou 12 anos a escrever, dividido em 7 capítulos que curiosamente narram 7 anos (baseados em parte na permanência de Mann num sanatório por 3 semanas, tal como Hans pensava ir por 3 meses), se bem que não há qualquer correspondência entre capítulos e anos, ou entre o devir temporal da vida e a narrativa, pois se o primeiro capítulo cobre basicamente a chegada do jovem à montanha, outros capítulos condensam anos inteiros. pois o tempo parece uma espiral, dilema que Hans resolve abandonando relógios e calendários, pois querer medir o tempo afigura-se tão impossível como encontrar o caminho de regresso no meio da tempestade de neve em que anda em círculos. Acho que ninguém sai incólume deste romance, tal como Hans quando regressa transformado à planície… mas certamente que para melhor. Ver artigo
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