Choriro, de Ungulani Ba Ka Khosa, foi publicado em Maio de 2015 pela Sextante Editora. Ver artigo
Choriro, de Ungulani Ba Ka Khosa, foi publicado em Maio de 2015 pela Sextante Editora. Ver artigo
Escrevo hoje sobre um escritor de eleição que me marcou na minha tenra juventude desde as suas primeiras linhas e que, infelizmente, tendo hoje cerca de 86 anos não mais voltará a escrever, por motivos de saúde. Gabriel García Márquez foi o pai do realismo mágico e laureado com o Prémio Nobel de Literatura em 1982, nomeadamente por uma obra que ainda hoje faz corre muita tinta: Cem Anos de Solidão, que deu um grande impulso ao chamado boom da literatura hispano-americana, fazendo com que o Velho Mundo passasse a ler toda uma nova geração de autores da América do Sul. Na escrita de García Márquez sente-se como a magia invade o real e rege as leis da natureza, em que os eventos fantásticos se tornam extraordinários junto de uma comunidade mítica, a célebre Macondo, que parece viver parado num período medieval, mais ou menos no século em que os conquistadores espanhóis chegaram àquelas paragens. A Macondo de Gabriel García Márquez, uma alegorização do espaço que representa todo o continente sul-americano, é o palco da acção da sua obra de estreia, A Revoada, sendo depois retomada em Cem Anos de Solidão, numa tentativa de retratar nessa povoação o percurso histórico, social e político da América Latina, bem como em Ninguém Escreve ao Coronel, perfazendo neste tríptico o chamado «ciclo de Macondo». Por outro lado, no seu conto «A incrível e triste história de Cândida Eréndira e da sua Avó Desalmada» desenvolve-se a história dessas duas personagens que tinham já aparecido num episódio de Cem Anos de Solidão. Ver artigo
William e Wilson são dois gémeos idênticos e ambos possuem a letra W no nome pois afinal trata-se de um DUPLO V. O tema do duplo e do doppelganger encontra-se assim na base desta intriga que se passa entre as memórias de infância e adolescência no Brasil pós-ditadura e no Cairo, no tempo presente da narrativa, se bem que cerca de 20 anos depois de se terem visto pela última vez um dos irmãos é agora Cleópatra… Ver artigo
Depois de ter lido o divertido Quem me dera ser onda, que foi aliás agora reeditado em Portugal, sobre os dois meninos que tentam proteger o porco que vive na varanda de um deles de uma matança, tratando-o como a um animal de estimação – é outro livrinho rápido deste autor angolano mas de leitura prazenteira, onde se parece retratar cerca de 500 anos de Angola, como um país ainda perdido e confuso na busca de uma identidade. O livro foi publicado em 1980 e descobri-o por acaso pelo que tive de o ler imediatamente, até porque não é fácil encontrar obras deste senhor. É um livro estranho, que tenta incorrer no fantástico mas mais parece resultar em crítica ou sátira do país. No entanto, não deixa de ter passagens divertidas como esta: Ver artigo
Narrado por uma osga, sujeita agora a essa “condição” mas que ainda relembra a sua vida anterior – pelo que parece haver um exercício de metempsicose qualquer ou simples reencarnação – o livro centra-se na personagem de Félix, um vendedor de passados albino, alguém que traça genealogias e toda uma história falsa, em suma, para justificar a ambição do sangue novo que grassa em Angola em que toda uma classe parece ter emergido após a guerra e quer ver as suas origens dignificadas ou mitificadas de alguma forma. Até que Félix aceita um trabalho diferente do normal, em que um indivíduo quer todo um passado inventado, o que só pode mostrar que ou não tem história ou tem história demais e quer fugir do que não consegue deixar para trás. No fim interligam-se várias histórias com um volteface surpreendente e que revela a história de um país que ainda tem muitas cicatrizes por lamber. Dos livros que li de Agualusa fica-me sempre a sensação, no entanto, que há algo forçado na forma como tenta encaixar as peças do puzzle, ao querer interligar histórias distintas. A preparar-me para ver o filme a seguir. Ver artigo