Considerado o romance mais importante deste autor, e lido e relido por Martin Scorsese que o adaptou para cinema (estreou hoje, dia 19 de janeiro, nas salas portuguesas), este é um romance breve e intenso que se lê de um fôlego, com uma escrita ligeira e concisa, onde se traça um retrato da presença cristã, mais especificamente, portuguesa, no Japão do século XVII pela mão e perspectiva de um escritor japonês. Ver artigo
Este foi o romance de estreia da autora em 1995 e publicado entre nós pela antiga Planeta Editora uns anos depois, penso que 1998. Foi escolhido como Livro do Ano da Whitbread e para quem conheceu a autora pelo seu penúltimo romance, Vida após Vida, pode confirmar como a sua voz se destacava já neste primeiro romance como uma voz original, uma escrita finíssima, elegante (que sobrevive a uma tradução mediana e a uma revisão deficiente), e principalmente, a característica que mais aprecio na autora, um forte sentido de humor capaz de arrancar pequenas gargalhadas, muitas vezes através de pequenos à partes que pontuam a narrativa, com temas comuns que perpassam a sua escrita. Apesar de ser descrito como um retrato de família vulgar (e a tradução do título também deixa a desejar mas acaba por se adequar ao livro), a história de Ruby Lennox é tudo menos vulgar. Acompanhamos a sua vida exactamente desde o momento da sua concepção, no preciso instante em que o pai e a mãe a concebem ao som das badaladas da meia-noite, e nas próximas cerca de 370 páginas a autora faz um retrato da vida desta rapariga, que tem diversas irmãs (todas elas acabam por desaparecer), ainda que se demore muito mais na sua infância, passando pela juventude de forma mais breve e quase voando pela sua idade adulta. Logo aqui sentimos uma familiariedade com a narrativa de Vida após Vida, mas mais ainda pela forma como a autora procura sobretudo transmitir, percorrendo várias gerações e várias personagens (convém ir traçando uma árvore genealógica), um sentido de oportunidades perdidas, de chances que desperdiçamos ao longo da vida, ao mesmo tempo que vai deixando perpassar em alguns momentos que há alguns segredos (inerentes a todas as famílias que se prezem) que serão posteriormente desvendados, havendo também direito a um pequeno volteface, e que reforça a ideia das vidas que não se cumprem… Se bem que Alice, a personagem que de facto arriscou e largou tudo em busca de um sonho também não se parece ter dado muito melhor do que as outras. Bunty, a mãe de Ruby, é talvez a figura mais forte de toda a galeria feminina, pela sua frieza e sarcasmo, ao ponto de as próprias filhas temerem e odiarem a mãe que parece sempre incapaz de um único gesto de carinho. Ver artigo
No dia 13 de maio de 1506 Miguel Ângelo desembarca em Constantinopla com o encargo de projectar uma ponte que atravesse o Corno de Ouro. Ver artigo
Respondi recentemente a um desafio sobre os melhores livros lidos este ano – se bem que até o ano acabar ainda espero ler mais uns quantos. Não incluí este na lista que seria certamente o terceiro ou quarto, em termos de qualidade. Vida após Vida é de 2013, tendo ganho o Prémio Costa, e foi publicado pela Relógio d’Água em 2014. É um livro que assenta numa ideia bastante original, com uma escrita soberba, elegante e cheia de humor, se bem que esse humor delicioso se centre mais em Fox Corner, morada da infância e juventude de Ursula – independentemente da sua vida, pois é essencialmente em adulta que os desfechos se começam a desdobrar – e nos chistes trocados entre os seus familiares. Todavia, permitam-me antes de mais começar por uma crítica negativa: porque não traduzir as falas em alemão que não são imensas mas são suficientes e inseridas no texto no original acabam por não permitir ao leitor comum – que não saiba alemão – perceber o se está a passar… Isto aconteceu antes, de forma ainda mais gritante, com o Uma questão de classe e as suas citações latinas, pelo que começo a achar que os tradutores estão mais preocupados em se focar na língua que de facto sabem, o inglês, e quanto ao resto o leitor que se amanhe. Ver artigo
Comprei os quatro volumes de uma vez há meses, emprestei, ouvi relatos de que não conseguiam parar a leitura por muito grande que fosse a azáfama do dia-a-dia, continuei a deixá-los na prateleira, olhei-os com frequência, continuei a preteri-los por outros mais urgentes. Li finalmente nestes últimos 3 dias o primeiro volume da tetralogia. Claro que depois de já se ter lido e ouvido falar tanto de um livro que vários amigos estavam a ler, aliás, a devorar, sinto que não adianta dizer muito. Mas aqui vai: esta história da menina de oito ou nove anos de seu nome Elena começou primeiro por me surpreender. Não esperava a narrativa de uma infância passada nesse bairro popular de Nápoles onde a violência é usual e estas várias famílias organizadas ao estilo medieval por ofícios se aliam e desunem por incidentes extrapolados, quase como se assistíssemos às tricas de várias famílias da Camorra. Depois de um prólogo enigmático, que anuncia o que se segue nos próximos livros, a história é uma longa reminiscência, relembrada a partir do fim de uma vida, narra o início da amizade de duas crianças desse bairro, Elena e Lila, e acompanha a sua infância e depois a juventude, até aos 16 anos, terminando com o casamento de uma delas. Se bem que Lila começa por se revelar como a maria-rapaz e de espírito indomável, enquanto Elena é mais inocente e discreta, a natureza díspar desta amizade, onde por vezes os interesses de cada uma estão em conflito, revela como a união dos contrários faz a força e como cada uma das jovens pode beber da natureza da outra para se tornar mais forte e vingar na vida. Elena Greco, como o nome de certa forma indica, de alguma forma, vai ser a miúda do bairro que tem a oportunidade de prosseguir estudos, pois é tão inteligente (ou quase) como Lila, mas é ela que tem a oportunidade de prosseguir os estudos, nomeadamente os de cultura clássica, como o grego e o latim. No início, Elena parece admirar cegamente a amiga mas, na verdade, há quase uma paixão de Elena por Lila, que vê em si um modelo, primeiro, mas indicia-se também uma amizade de natureza estranha que raia a possessividade de um jovem amor, até à cena em que Elena vê Lila nua e que nos é descrita com certos laivos sáficos (corrijam-me se estou enganado!). Se de início há esse seguimento cedo da amiga, e qual delas será afinal a Amiga Genial, Elena depois procura demarcar-se mais claramente de Lila, numa rivalidade inofensiva, mas que lhe serve de ímpeto, conforme nos aproximamos do final do livro, para fazer carreira nas letras e escapar àquele bairro que começa a observar de forma cada vez mais desencantada, à medida que no princípio do fim do livro sentimos como as duas seguem caminhos cada vez mais divergentes. A escrita é ligeira, límpida, despida de grandes floreados, mas com momentos de maior aprimoramento e enlevo, com frases curtas incisivas, e daí que o ritmo de leitura que imprime seja vertiginoso, mesmo que me pareça que a história a certa altura se irá começar a arrastar um pouco. Note-se, nesta passagem emblemática, que parece descrever o próprio estilo de escrita da autora Elena Ferrante, que tão discutido tem sido, como o estilo de escrita de Elena parece ser tomado a partir do de Lila: «ela exprimia-se através de frases tão bem construídas (…) mas – além disso – não deixava qualquer sinal de falta de naturalidade, não se sentia o artifício da palavra escrita. Eu lia, e ao mesmo tempo via-a e ouvia-a. A sua voz era como um fluxo que me arrebatava e me fascinava como quando conversávamos uma com a outra, no entanto estava perfeitamente depurada das escórias da linguagem coloquial (…).» (pág. 179). No final deste primeiro volume temos ainda a confirmação do que se sentia desde o início, que é uma narradora madura, agora uma mulher, a recontar a sua vida, a sua formação, o desabrochar da sua identidade, estreitamente ligada à da amiga. Ver artigo
Esta é a história de uma típica família disfuncional norte-americana, os quatro irmãos Plumb: Melody, Jack, Leo e Bea. Ver artigo
Depois de ter adorado Os Interessantes chegou a vez de ler esta obra que foi publicada em seguida. O registo é completamente outro e a leitura torna-se extremamente aprazível devido ao humor e à ironia da autora, capaz de arrancar um sorriso mordaz enquanto vamos virando as páginas num ápice, completamente envolvidos na história. Joan Castleman está a trinta e cinco mil pés de altitude a acompanhar o marido que se prepara para receber o Prémio de Helsínquia – uma clara alusão ao Nobel – quando decide finalmente divorciar-se do marido. Num jogo de alternância entre esse momento decisivo em que Joe se prepara para receber o prémio que é o culminar da sua carreira de escritor e o passado do que foi a sua vida em comum, desde o momento em que Joan o conheceu nas aulas de escrita criativa, em 1956, a autora tece um retrato de um casal que vive com um segredo – as pistas estão lá desde o início, pelo menos eu sempre senti que havia algo sob a superfície –, em que uma mulher, como tantas outras na História da Humanidade ou, melhor dizendo, da Mulher, se anula em prol do marido, de forma a lhe garantir o conforto e até mesmo o sustento para que ele se possa lançar na sua almejada carreira de escritor: Ver artigo
Este último romance a ser traduzido pela D. Quixote do autor húngaro Sándor Márai é uma história mais complexa do que aquilo que se pode julgar quando o iniciamos. Um alto funcionário ministerial, de quarenta e cinco anos, encontra-se no seu gabinete a reflectir no comunicado que acabou de escrever e que será emitido, sem que seja dito claramente de que se trata, ainda que haja diversas referências muito claras a uma guerra que pode terminar quando ele já for velho, quando uma bela mulher o procura, exigindo falar com o «senhor conselheiro». O homem fica perplexo quando vê a jovem de vinte anos que é uma cópia de alguém que morreu há cinco anos, como que o doppelgänger de uma outra mulher que há cinco anos entrou naquele mesmo gabinete pedindo-lhe que ele morresse com ela. Claro que Aino Laine não pode (?) suspeitar da confusão do seu interlocutor que tenta disfarçar a surpresa, num diálogo que se por um lado começa por assumir que esta jovem é apenas a outra que voltou, ou alguém que lhe tenta pregar uma partida, acaba depois por dar mais credibilidade à veracidade e unicidade desta jovem, apesar do seu nome retirado de uma obra épica e mítica, a Kalevala. Por outro lado, apesar de ser a sua corrente de consciência que nos conduz pelo romance, onde a terceira pessoa do narrador muitas vezes se confunde com os pensamentos da personagem, este alto funcionário nunca aparece designado pelo nome, da mesma forma que ele «Realmente não conhece o seu verdadeiro rosto. Atrás da mímica facial disciplinada e oficial do senhor com cabelo grisalho imagina uma cara infantil. Ele apenas conhece, vagamente, a cara desse miúdo, da mesma forma como recordamos o rosto macio de uma criança já falecida.» (pág. 13). Ver artigo
Escreve George Steiner que Ver artigo
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