Escrevi há tempos sobre Cartas da Guerra, de António Lobo Antunes, e foi curioso como apesar de na altura ter comentado que essa leitura não me agradou particularmente acabou por ser bastante útil para aquilo que me decidi a fazer. Já tinha ligo algumas obras do autor anteriores a O meu nome é legião e Arquipélago da Insónia mas foi a partir destas que comecei a ler a sua obra, à medida que saía um novo romance. Contudo com o Cartas da Guerra decidi-me, dizia, a ler a obra toda do autor à medida que foi sendo publicada e, naturalmente, escrita. Comecei assim com Memória de Elefante e se bem que ao início a leitura custou-me um pouco acabou por fazer sentido no fim e, mais uma vez, graças às cartas que o autor publicou. Ver artigo
Este último romance a ser traduzido pela D. Quixote do autor húngaro Sándor Márai é uma história mais complexa do que aquilo que se pode julgar quando o iniciamos. Um alto funcionário ministerial, de quarenta e cinco anos, encontra-se no seu gabinete a reflectir no comunicado que acabou de escrever e que será emitido, sem que seja dito claramente de que se trata, ainda que haja diversas referências muito claras a uma guerra que pode terminar quando ele já for velho, quando uma bela mulher o procura, exigindo falar com o «senhor conselheiro». O homem fica perplexo quando vê a jovem de vinte anos que é uma cópia de alguém que morreu há cinco anos, como que o doppelgänger de uma outra mulher que há cinco anos entrou naquele mesmo gabinete pedindo-lhe que ele morresse com ela. Claro que Aino Laine não pode (?) suspeitar da confusão do seu interlocutor que tenta disfarçar a surpresa, num diálogo que se por um lado começa por assumir que esta jovem é apenas a outra que voltou, ou alguém que lhe tenta pregar uma partida, acaba depois por dar mais credibilidade à veracidade e unicidade desta jovem, apesar do seu nome retirado de uma obra épica e mítica, a Kalevala. Por outro lado, apesar de ser a sua corrente de consciência que nos conduz pelo romance, onde a terceira pessoa do narrador muitas vezes se confunde com os pensamentos da personagem, este alto funcionário nunca aparece designado pelo nome, da mesma forma que ele «Realmente não conhece o seu verdadeiro rosto. Atrás da mímica facial disciplinada e oficial do senhor com cabelo grisalho imagina uma cara infantil. Ele apenas conhece, vagamente, a cara desse miúdo, da mesma forma como recordamos o rosto macio de uma criança já falecida.» (pág. 13). Ver artigo
Escreve George Steiner que Ver artigo
É o primeiro livro que leio deste senhor mas não será certamente o último. Numa escrita fluída, mas complexa, que nos leva em parágrafos que se estendem por páginas, em que a corrente de consciência de Franz Ritter alterna entre o presente, e a solidão e melancolia do seu apartamento, e o passado, mais concretamente a memória de Sarah, o autor revela um domínio exímio do Oriente, tanto do histórico e romanceado como do actual e brutal, da música e da literatura. Mathis Enard viveu aliás no Oriente, estudou persa e árabe, e leu trabalhos de orientalistas, eruditos, literários e musicólogos. Não é uma literatura ligeira ou passível de ser feita num ápice mas é claramente viciante, especialmente pelo tom melífluo, por vezes com alguma autocomiseração, deste intelectual menino da mamã, um «monstro pálido e míope», que se perde quase doentiamente na memória de uma Sarah inalcançável – «regressemos a Sarah e à memória, já que tão inevitáveis são uma como a outra» – enquanto encara também as noites insones – os capítulos, à excepção do primeiro, são designados com horas como «23h10» – e uma certa angústia face a uma doença recentemente diagnosticada. Acho particularmente relevante a forma como este homem se sente fascinado por uma mulher, como muitos outros homens em muitos outros romances, mas aqui, apesar do inegável desejo, é quase inédito, diria eu, a admiração de Franz Ritter pela intelectualidade de Sarah, pela sua paixão pela cultura e pelo seu saber inesgotável. Ver artigo
Este pequeno texto (44 págs.) inédito de Lídia Jorge foi criado para a Companhia de Teatro do Algarve (ACTA) e não é um livro fácil de encontrar – parece-me aliás que não se encontra mesmo à venda. Conta a história de dois migrantes, um homem e uma mulher, um imigrante e uma emigrante de origens geográficas diversas, que se encontram junto a um aeroporto. Ver artigo
V. S. Naipaul é um dos autores que já estava na minha lista há muito tempo – apesar de ter toda a sua obra, tirando estas novas traduções, faltava-me o tempo. Mas agora que vivo em África ando definitivamente ainda mais virado para os pós-colonialistas.
Num Estado Livre é a junção de três histórias distintas cujo tema que as cruza é sempre a identidade num novo mundo e a que ponto ser cidadão do mundo é ganhar ou perder liberdade. Publicado em 1971 ganhou o Prémio Booker desse ano e quando o autor ganhou o Nobel em 2001 a Academia Sueca declarou que «Naipaul é verdadeiramente um Homem Nobre num Estado Livre». Ver artigo
Estes são os dois primeiros romances de Murakami, que foram publicados em inglês numa versão flipover, cada um dos romances numa das pontas do livro. Há ainda a vantagem de o livro possuir uma breve introdução do autor em que explica como começou a escrever, como era a sua vida antes, e como chegou ao estilo que tem hoje. O livro parece um pouco desconexo de início, sempre num registo mais existencialista próprio deste eterno candidato ao Nobel (coisa com que eu pessoalmente não concordo muito, mas se calhar porque para mim a literatura ainda é outra coisa qualquer – aliás a introdução do autor versa isso mesmo, em parte), mas encontramos já alguns dos seus temas ficcionais, e personagens como o Rato, de Em busca do carneiro selvagem. Ver artigo
Já li praticamente toda a sua obra (falta-me Mães e Filhos, e New Ways to kill your mother, que intuo estarem bastante ligados a este seu último romance). Já tinha visto o livro à venda mas como as leituras a fazer são tantas evito comprar livros em inglês, porque apesar de tudo os originais levam-me mais tempo e porque são bastante caros onde vivo. Depois consegui ver o filme Brooklyn, adaptação do seu último romance, que também me tocou muito – o filme é belíssimo também e comovente sem raiar o melodramático e o xaroposo. Resumindo acabei por sentir cada vez mais vontade de comprar o seu último livro que aliás já saiu o ano passado, pelo que há quase dois anos que aguarda tradução, o que começo a achar inquietante por parte da Bertrand (a não ser que tenha sido tomado por outra editora).
Passando ao livro em questão: à semelhança de Brooklyn, a escrita deste autor, considerado aliás um dos expoentes da literatura irlandesa, é extremamente contida, despojada de qualquer vaidade ou de ornamentação. A história começa imediatamente a seguir à morte do marido de Nora, nunca sabemos exactamente o ano ou o momento em que a acção decorre, pouco sabemos sobre o que aconteceu a Maurice e numa sequencialidade bastante simples, quase seca, vamos seguindo o retomar do quotidiano desta viúva, num registo tão “monótono” como: Nora fez chá, deu um gole, pousou a chávena, recostou a cabeça. Contudo o livro prende desde o início, e mesmo estando eu em ambiente de férias de praia que normalmente requerem-me leituras mais leves, não o consegui pousar nem nunca me aborreceu a tensão lenta da intriga.
A cena inicial do livro é emblemática, em que Nora se prepara para receber mais uma visita que fez questão de apresentar as suas condolências apenas depois das pessoas se começarem a retirar da vida da Nora, enquanto um vizinho assiste ao momento da chegada desta nova visita e opina ele próprio que as pessoas irão sempre continuar a procurá-la com mais uma história ou mais palavras de conforto. O próprio vizinho aliás continua lá, a rondá-la, quando tudo aquilo por que ela realmente anseia é estar a sós. Mas Nora nunca sucumbe à dor da perda, aliás sentimos sempre, pela falta de analepses, que ela faz por tudo para esquecer o marido e seguir em frente, como quando vende a casa de férias – se bem que também por necessidades económicas. E Nora faz questão de viver essa sua recém adquirida independência, sem querer que ninguém se intrometa na sua vida – quando na verdade todas as pessoas que por ela passam a conhecem a si e à sua história, pois falamos de uma pequena aldeia, não muito perto de Dublin. Nora tem quatro filhos, dois rapazes e duas raparigas, e inclusivamente nem os filhos consulta aquando das decisões que toma, da mesma forma que nunca testemunhamos conversas com eles sobre o pai que perderam. Nora parece quase fria na sua dignidade (mais à frente leremos aliás que ela não é considerada uma pessoa fácil e que só parece ter suavizado quando conheceu Maurice) e na sua resolução de encaminhar a vida para a frente, por muito que lhe custe – terá também de voltar a trabalhar, se bem que inesperadamente o estado a apoie constantemente, e com retroactivos, devido a novas políticas de apoio às viúvas. Só muito mais à frente é que percebemos que o ano em que se passa a acção é 1969, aquando da chegada do homem à Lua. E mais no final percebemos que as 300 páginas do livro seguem os seus 3 últimos anos, após a morte do marido.
No final há um desfecho bastante intrigante e não propriamente deslindado em que o luto e a dor que Nora tanto tentou recalcar acaba mesmo por se impôr na forma de um fantasma, de forma a que a personagem tenha mesmo de resolver a dor das pessoas que perdeu na sua vida e seguir decididamente em frente, com a paixão que entretanto descobriu, a do canto e da música clássica.
Espero não ter deixado demasiados spoilers e aconselho vivamente a leitura. Ver artigo
Este pequeno livro é mais uma pérola deste grande autor, prémio Nobel em 1929, cuja obra tenho estado a ler ultimamente (o que me leva a querer reler os que lera entretanto). Seguir-se-ão certamente Os Buddenbrook, o seu primeiro romance cuja escrita iniciou aos 21 anos de idade. Ver artigo
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