No dia 13 de maio de 1506 Miguel Ângelo desembarca em Constantinopla com o encargo de projectar uma ponte que atravesse o Corno de Ouro. Ver artigo
Respondi recentemente a um desafio sobre os melhores livros lidos este ano – se bem que até o ano acabar ainda espero ler mais uns quantos. Não incluí este na lista que seria certamente o terceiro ou quarto, em termos de qualidade. Vida após Vida é de 2013, tendo ganho o Prémio Costa, e foi publicado pela Relógio d’Água em 2014. É um livro que assenta numa ideia bastante original, com uma escrita soberba, elegante e cheia de humor, se bem que esse humor delicioso se centre mais em Fox Corner, morada da infância e juventude de Ursula – independentemente da sua vida, pois é essencialmente em adulta que os desfechos se começam a desdobrar – e nos chistes trocados entre os seus familiares. Todavia, permitam-me antes de mais começar por uma crítica negativa: porque não traduzir as falas em alemão que não são imensas mas são suficientes e inseridas no texto no original acabam por não permitir ao leitor comum – que não saiba alemão – perceber o se está a passar… Isto aconteceu antes, de forma ainda mais gritante, com o Uma questão de classe e as suas citações latinas, pelo que começo a achar que os tradutores estão mais preocupados em se focar na língua que de facto sabem, o inglês, e quanto ao resto o leitor que se amanhe. Ver artigo
Fui lendo espaçadamente este livro constituído por quatro contos da autora, o que acredito, me permitiu, desfrutar melhor da sua escrita. Sobre a escritora já se tem falado do seu universo criativo muito próprio, para o qual contribui a intertextualidade, com alusões explícitas a filmes, citações de frases soltas retiradas de livros ou filmes, certas imagens e temas, e a sensação de andarmos num fino fio entre a realidade sempre atentamente descrita e o fantástico – uma dimensão fantástica perturbante, intrigante, neogótica. A escrita é fluída e leva-nos em frases rápidas, cadenciadas, numa narrativa que começa de modo calmo mas vai acelerando a respiração à medida que o mistério se adensa. Apesar da narrativa ser perspectivada a partir da terceira pessoa, pela voz do narrador, há uma identificação muito próxima das personagens, e vamos testemunhando dos seus estados de alma. Os nomes das personagens são quase sempre estrangeiros, e parecem homenagear certas escritoras queridas à autora – como a Iris do último conto do livro e que dá título ao mesmo. O processo criativo e a arte estão também quase sempre presentes, nomeadamente, uma vez mais, no último conto, em que a personagem é também escritora. Ver artigo
Começo a achar que não há livro de Agustina que não seja um quebra-cabeças (entender a expressão de forma livre, isto é, qualquer coisa entre puzzle e dor de cabeça). A escrita agustiniana é um deleite, apesar da sua falta de linearidade mesmo quando se trata de narrar episódios históricos. Nomes de reis que se repetem, tanto que às vezes não sabemos se se fala de D. Pedro, o Cruel ou de D. Pedro, o Justiceiro, datas incertas de casamentos, pelo que nunca se sabe se o casamento de Pedro e Inês foi ou não legítimo, se já se conheciam antes do casamento do rei com D. Constança, as pistas são muitas e aquilo que fica para o leitor adivinhar é imenso. Fica deste livro a sensação de que muito mais importante do que os episódios do amor vivido entre D. Pedro e D. Inês de Castro é aquilo que se pode supor e ficcionar. Aliás de D. Inês ficamos sem saber nada, pois ela permanece na sua natureza de mulher medievalista – o renascimento veio pouco depois: enigmática, sem voz, presença apagada mas ainda assim móbil de paixões humanas e de rancores. Ver artigo
Comprei os quatro volumes de uma vez há meses, emprestei, ouvi relatos de que não conseguiam parar a leitura por muito grande que fosse a azáfama do dia-a-dia, continuei a deixá-los na prateleira, olhei-os com frequência, continuei a preteri-los por outros mais urgentes. Li finalmente nestes últimos 3 dias o primeiro volume da tetralogia. Claro que depois de já se ter lido e ouvido falar tanto de um livro que vários amigos estavam a ler, aliás, a devorar, sinto que não adianta dizer muito. Mas aqui vai: esta história da menina de oito ou nove anos de seu nome Elena começou primeiro por me surpreender. Não esperava a narrativa de uma infância passada nesse bairro popular de Nápoles onde a violência é usual e estas várias famílias organizadas ao estilo medieval por ofícios se aliam e desunem por incidentes extrapolados, quase como se assistíssemos às tricas de várias famílias da Camorra. Depois de um prólogo enigmático, que anuncia o que se segue nos próximos livros, a história é uma longa reminiscência, relembrada a partir do fim de uma vida, narra o início da amizade de duas crianças desse bairro, Elena e Lila, e acompanha a sua infância e depois a juventude, até aos 16 anos, terminando com o casamento de uma delas. Se bem que Lila começa por se revelar como a maria-rapaz e de espírito indomável, enquanto Elena é mais inocente e discreta, a natureza díspar desta amizade, onde por vezes os interesses de cada uma estão em conflito, revela como a união dos contrários faz a força e como cada uma das jovens pode beber da natureza da outra para se tornar mais forte e vingar na vida. Elena Greco, como o nome de certa forma indica, de alguma forma, vai ser a miúda do bairro que tem a oportunidade de prosseguir estudos, pois é tão inteligente (ou quase) como Lila, mas é ela que tem a oportunidade de prosseguir os estudos, nomeadamente os de cultura clássica, como o grego e o latim. No início, Elena parece admirar cegamente a amiga mas, na verdade, há quase uma paixão de Elena por Lila, que vê em si um modelo, primeiro, mas indicia-se também uma amizade de natureza estranha que raia a possessividade de um jovem amor, até à cena em que Elena vê Lila nua e que nos é descrita com certos laivos sáficos (corrijam-me se estou enganado!). Se de início há esse seguimento cedo da amiga, e qual delas será afinal a Amiga Genial, Elena depois procura demarcar-se mais claramente de Lila, numa rivalidade inofensiva, mas que lhe serve de ímpeto, conforme nos aproximamos do final do livro, para fazer carreira nas letras e escapar àquele bairro que começa a observar de forma cada vez mais desencantada, à medida que no princípio do fim do livro sentimos como as duas seguem caminhos cada vez mais divergentes. A escrita é ligeira, límpida, despida de grandes floreados, mas com momentos de maior aprimoramento e enlevo, com frases curtas incisivas, e daí que o ritmo de leitura que imprime seja vertiginoso, mesmo que me pareça que a história a certa altura se irá começar a arrastar um pouco. Note-se, nesta passagem emblemática, que parece descrever o próprio estilo de escrita da autora Elena Ferrante, que tão discutido tem sido, como o estilo de escrita de Elena parece ser tomado a partir do de Lila: «ela exprimia-se através de frases tão bem construídas (…) mas – além disso – não deixava qualquer sinal de falta de naturalidade, não se sentia o artifício da palavra escrita. Eu lia, e ao mesmo tempo via-a e ouvia-a. A sua voz era como um fluxo que me arrebatava e me fascinava como quando conversávamos uma com a outra, no entanto estava perfeitamente depurada das escórias da linguagem coloquial (…).» (pág. 179). No final deste primeiro volume temos ainda a confirmação do que se sentia desde o início, que é uma narradora madura, agora uma mulher, a recontar a sua vida, a sua formação, o desabrochar da sua identidade, estreitamente ligada à da amiga. Ver artigo
Esta é a história de uma típica família disfuncional norte-americana, os quatro irmãos Plumb: Melody, Jack, Leo e Bea. Ver artigo
Depois de ter adorado Os Interessantes chegou a vez de ler esta obra que foi publicada em seguida. O registo é completamente outro e a leitura torna-se extremamente aprazível devido ao humor e à ironia da autora, capaz de arrancar um sorriso mordaz enquanto vamos virando as páginas num ápice, completamente envolvidos na história. Joan Castleman está a trinta e cinco mil pés de altitude a acompanhar o marido que se prepara para receber o Prémio de Helsínquia – uma clara alusão ao Nobel – quando decide finalmente divorciar-se do marido. Num jogo de alternância entre esse momento decisivo em que Joe se prepara para receber o prémio que é o culminar da sua carreira de escritor e o passado do que foi a sua vida em comum, desde o momento em que Joan o conheceu nas aulas de escrita criativa, em 1956, a autora tece um retrato de um casal que vive com um segredo – as pistas estão lá desde o início, pelo menos eu sempre senti que havia algo sob a superfície –, em que uma mulher, como tantas outras na História da Humanidade ou, melhor dizendo, da Mulher, se anula em prol do marido, de forma a lhe garantir o conforto e até mesmo o sustento para que ele se possa lançar na sua almejada carreira de escritor: Ver artigo
Escrevi há tempos sobre Cartas da Guerra, de António Lobo Antunes, e foi curioso como apesar de na altura ter comentado que essa leitura não me agradou particularmente acabou por ser bastante útil para aquilo que me decidi a fazer. Já tinha ligo algumas obras do autor anteriores a O meu nome é legião e Arquipélago da Insónia mas foi a partir destas que comecei a ler a sua obra, à medida que saía um novo romance. Contudo com o Cartas da Guerra decidi-me, dizia, a ler a obra toda do autor à medida que foi sendo publicada e, naturalmente, escrita. Comecei assim com Memória de Elefante e se bem que ao início a leitura custou-me um pouco acabou por fazer sentido no fim e, mais uma vez, graças às cartas que o autor publicou. Ver artigo
Este último romance a ser traduzido pela D. Quixote do autor húngaro Sándor Márai é uma história mais complexa do que aquilo que se pode julgar quando o iniciamos. Um alto funcionário ministerial, de quarenta e cinco anos, encontra-se no seu gabinete a reflectir no comunicado que acabou de escrever e que será emitido, sem que seja dito claramente de que se trata, ainda que haja diversas referências muito claras a uma guerra que pode terminar quando ele já for velho, quando uma bela mulher o procura, exigindo falar com o «senhor conselheiro». O homem fica perplexo quando vê a jovem de vinte anos que é uma cópia de alguém que morreu há cinco anos, como que o doppelgänger de uma outra mulher que há cinco anos entrou naquele mesmo gabinete pedindo-lhe que ele morresse com ela. Claro que Aino Laine não pode (?) suspeitar da confusão do seu interlocutor que tenta disfarçar a surpresa, num diálogo que se por um lado começa por assumir que esta jovem é apenas a outra que voltou, ou alguém que lhe tenta pregar uma partida, acaba depois por dar mais credibilidade à veracidade e unicidade desta jovem, apesar do seu nome retirado de uma obra épica e mítica, a Kalevala. Por outro lado, apesar de ser a sua corrente de consciência que nos conduz pelo romance, onde a terceira pessoa do narrador muitas vezes se confunde com os pensamentos da personagem, este alto funcionário nunca aparece designado pelo nome, da mesma forma que ele «Realmente não conhece o seu verdadeiro rosto. Atrás da mímica facial disciplinada e oficial do senhor com cabelo grisalho imagina uma cara infantil. Ele apenas conhece, vagamente, a cara desse miúdo, da mesma forma como recordamos o rosto macio de uma criança já falecida.» (pág. 13). Ver artigo
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