Obra de estreia da autora e dedicado aos mais jovens. Ana Rita Afonso nasceu em 1976, mãe de um casal, e inspirada num desejo de infância, ter uma máquina que gravasse os seus sonhos, procura inspirar pais, educadores e professores a manterem vivos os seus sonhos com este livro. Mas intenta também, mais especialmente, chegar aos mais jovens (diz a capa do livro que este é para maiores de 13, mas poderia destinar-se a um público mais jovem ainda), em particular as «crianças e adolescentes digitais», pouco atraídos pela leitura e cada vez mais dependentes da tecnologia e dos jogos electrónicos.
É um pequeno livro com cerca de 100 páginas que conta como o João Pedro encontra na Feira da Ladra, entre outras velharias, um misterioso objecto que apesar de antiquíssimo e aparentemente inútil se revela ser um gravador de sonhos, como uma máquina que tem tanto de mágico como de tecnologia digital de ponta.
A história prende quer o leitor mais jovem quer o pai que se disponibilize a acompanhar os seus filhos nesta viagem. É particularmente interessante notar como a autora procura entrar na mente de um rapaz de 10 anos, e estabelecer relações ou comparações que só fazem sentido quando se sente e pensa como alguém desta idade. Mas nem por isso se descura o rigor da linguagem, procurando um registo cuidado, mas acessível ao público leitor mais vasto e mais destreinado da leitura.
São também de ressalvar os vários apartes que o João Pedro deixa aqui e ali, no decurso da narrativa, para se dirigir directamente ao leitor, com bastante humor.
A autora é licenciada em Psicologia Clínica e mestre em Psicossomática, e esperamos que continue a aliar o seu saber e experiência à capacidade de puxar os mais jovens para uma história de aventura que dá que pensar, onde a missão do nosso jovem herói é fazer o bem e ajudar o outro. Ver artigo
Philip Pullman nasceu em Inglaterra em 1947, foi professor em Oxford e começou a escrever em 1985, alcançando sucesso uma década depois com a trilogia Mundos Paralelos (His Dark Materials), amplamente premiada, traduzida em mais de 40 línguas e com mais de 18 milhões de exemplares vendidos. O primeiro volume da saga foi adaptado ao cinema, com o título «A Bússola Dourada», e Nicole Kidman num dos principais papéis.
Quinze anos depois de Os Reinos do Norte ter sido publicado em Portugal, o autor regressa ao mundo encantado de Lyra, sob a chancela da Editorial Presença que tem publicado todos os livros na colecção infanto-juvenil Via Láctea e aproveitou, aliás, este novo livro para reeditar, com novas capas, os volumes anteriores: Os Reinos do Norte, A Torre dos Anjos e O Telescópio de Âmbar.
O Livro do Pó aparenta ser um retomar da trilogia, fazendo-nos recuar no tempo, mas o autor revelou em entrevistas que a acção é paralela. A história da trilogia anterior ficou encerrada, mas ainda há muito a dizer sobre a misteriosa matéria do Pó, e faz reviver a sua jovem heroína, Lyra Belacqua, começando por contar como ela em bebé passa a viver em Oxford, para depois avançar 10 anos em relação à conclusão de Mundos Paralelos.
Numa Inglaterra entre o clássico e o fantástico, o herói da história é agora Malcolm, um jovem aplicado, trabalhador, amigo e sensível, que vive com os pais, a quem ajuda com a sua estalagem, A Truta. Extremamente inquisitivo, quase sempre na companhia dos mais velhos, e sempre mantendo as mãos ocupadas, ajudando como pode nas mais variadas tarefas, Malcolm depara-se com uma surpresa. Numa das suas visitas ao priorado, descobre que as freiras têm a seu cargo uma misteriosa criança. Lyra é apenas um bebé mas Malcolm fica rendido aos seus encantos e torna-se no seu maior protector. Mais tarde, o nosso jovem herói é avisado de que haverá uma enorme inundação que colocará a região em perigo.
A obra tem um ritmo que, apesar de pretender acelerar com os desenlaces, parece resultar mais lento. No entanto, o universo fantástico está lá: feiticeiras, demónios, engenhos entre o mecânico e o mágico, deuses do rio, e os fantásticos génios com forma de animal que acompanham os humanos e parecem formar um só com eles, como se representassem a sua alma. É neste pormenor que reside a maior originalidade deste mundo encantado imaginado pelo autor. Estes génios acompanham permanentemente os humanos, muitas vezes pousados no seu ombro, com quem formam um par, como se fossem um só, capazes de adquirir formas de animais que se revelam úteis embora tenham uma forma que é normalmente aquela que preferem adoptar e que revela um pouco da sua verdadeira natureza. Asta, o génio de Malcolm, é muitas vezes uma ave.
Não se pense que esta obra é exclusivamente destinada ao público mais jovem. Dado o rigor na recriação de um ambiente histórico, passagens onde se aludem a actos sexuais que não parecem muito adequados aos mais novos, e por vezes alguma linguagem mais gráfica, o autor revela-se muito mais entretido com o acto de contar uma história à criança em nós que queremos manter desperta e interessada.
Aparentemente o segundo volume já se encontra escrito e o terceiro em vias de ser concluído, pelo que é possível que não tenhamos de aguardar muito tempo pelo desenlace da história. Ver artigo
Outono, o sétimo romance de Ali Smith, uma das escritoras britânicas mais aclamadas nos últimos anos, é um romance complexo que faz ainda uma subtil análise a um período actual e conturbado da história e da política inglesas, a questão do Brexit. Ali Smith nasceu em Inverness, na Escócia, em 1962 e vive em Cambridge. Publicado em Portugal pela Elsinore, este romance foi um dos finalistas do Man Booker Prize de 2017.
Elisabeth nasceu em 1984, e cria uma improvável amizade com Daniel, um homem mais velho que, aliás, tem já a idade do século, com 101 anos de idade. Pela forma como Daniel constantemente pergunta a Elisabeth o que está a ler, sempre que a vê, traçam-se assim os contornos de uma relação que não é de todo sexual, como aliás Elisabeth enfatiza a certa altura, mas socrática. Esta relação de amizade começa aliás quando Elisabeth tem apenas oito anos e a despeito das admoestações da mãe, para não incomodar o vizinho mais velho e certamente gay, a imaginação e a curiosidade e a retórica desta criança começarão a ser alimentadas por Daniel. E são esses diálogos entre os dois que versam de tudo um pouco, começando pela arte e a vida, que constituem não só as melhores partes do livro mas sim o próprio cerne deste fantástico romance.
Quando Daniel fica em coma numa instituição é Elisabeth que toma a si a responsabilidade de o assistir, como se fosse ela a familiar mais próxima (desconhece-se aliás que Daniel tenha alguma família), e faz-lhe companhia, lendo para si.
Este romance é o primeiro de uma tetralogia que parece começar no ocaso da vida para atravessar um ciclo através das quatro estações do ano. Winter, o próximo volume desta tetralogia, já se encontra publicado em inglês, pelo que esperamos que esteja prestes a sair a sua tradução. Ver artigo
Guionista e produtor do filme A Teoria de Tudo (sobre o famoso físico Stephen Hawking), com o qual venceu dois Óscares, Anthony McCarten é um aclamado romancista e dramaturgo. Motivado pela admiração que o seu pai, combatente da Segunda Guerra Mundial, nutria por Winston Churchill, o autor decide perceber melhor o homem e menos a figura no pedestal.
A Hora Mais Negra procura dar a conhecer um dos maiores líderes do século XX, com as suas fragilidades e angústias, nos primeiros dias da sua inesperada ascensão a primeiro-ministro, justamente num período histórico, Maio de 1940, em que se viveu uma grande incerteza, com a Grã-Bretanha em guerra com a Alemanha, que vai derrubando democracias na Europa.
Com recurso ao Legado Churchill e aos Arquivos Churchill, há referências retiradas de obras históricas, cartas, discursos, bem como um arquivo fotográfico e conjecturas de como certas conversas terão decorrido – e aí inicia a magia da realidade ficcionada, do como poderia ter sido… Mas este livro não se trata de um romance mas sim de um documento histórico, resultante da investigação pessoal do autor, enquanto preparava o filme. Pode até surpreender pela forma como se considera como Winston Churchill teria mesmo considerado fazer um pacto com Hitler, entregando de forma definitiva a Europa Central e a França ao domínio nazi e a devolução de colónias alemãs arrestadas durante a Primeira Guerra.
Para quem viu a série The Crown (onde a rainha Isabel II começa justamente o seu reinado quando Churchill, brilhantemente interpretado por John Lithgow, é primeiro-ministro) ou viu o filme Dunkirk, não pode deixar de ter curiosidade em ler esta obra, trazida ao público português pela Objectiva, que se foca entre a promoção improvável deste homem ao poder, a 10 de Maio de 1940, e a evacuação do ameaçado exército britânico em Dunquerque, acontecimento que assinalou a queda da França.
O filme estreia esta semana nas salas de cinema portuguesas, realizado por Joe Wright (Expiação) e a interpretação do primeiro-ministro britânico está a cargo do fantástico Gary Oldman (esse autor quase sempre irreconhecível nos filmes em que entra) com a qual venceu o Globo de Ouro deste ano. Ver artigo
Este livro (originalmente publicado em 2009) cristaliza um diálogo que resulta de um encontro em Paris, entre o sobejamente conhecido Umberto Eco, autor cuja obra tem vindo a ser publicada pela Gradiva, e Jean-Claude Carrière, cineasta e ensaísta.
As questões são diversas, nesta conversa, ou conversas, tidas em vários momentos, conduzidas por Jean-Philippe de Tonnac, escritor, ensaísta e jornalista.
A Internet significa o desaparecimento do livro? Não representa o ebook uma maior comodidade, capaz de fazer transportar de forma mais ligeira e prática num só equipamento toda uma biblioteca?
«As variações em torno do objecto livro não lhe modificaram a função, nem a sintaxe, há mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.» (p. 16)
Ao contrário de outros suportes de armazenamento de memória que se tornam continuamente obsoletos, como os CD-ROM, as disquetes, as cassetes, defende Eco que o suporte do livro é insuperável, mais fácil de transportar e de abrir/ligar do que um computador, pois não requere nenhuma alimentação a não ser a vontade do leitor.
Num diálogo vibrante e culto, onde não falta humor, situações anedóticas e pequenas piadas que fazem também parte da cultura e da história humana, os autores revelam como o saber (e a idiotia, a par e passo) continua vivo, por muito que a tecnologia se supere a si própria, e o conhecimento nunca ocupa espaço, desde que haja naturalmente uma selecção em função daquilo que nos dá prazer. Um pouco como os colecionadores que uma vez reunida a colecção ou encontrado o objecto tão desejado acabam por descartar logo de seguida o fruto dessa demanda, pois ficou saciada essa sede de descoberta e aventura.
«A cultura é um cemitério de livros e outros objectos desaparecidos para sempre. Existem, hoje, trabalhos sobre esse fenómeno que consiste em renunciar tacitamente a certos vestígios do passado, e, logo, a filtrar, e por outro lado colocar outros elementos dessa cultura numa espécie de câmara frigorífica, para o futuro. Os arquivos, as bibliotecas, são essas câmaras frias em que armazenamos a memória, de modo que o espaço cultural não esteja atravancado de toda essa aglomeração, sem contudo renunciar a ela. Poderemos sempre, no futuro, recuperá-la, se o coração assim no-lo ditar.» (p. 60) Ver artigo
Juliet Marillier, autora de culto do fantástico, tem agora a sua primeira obra relançada pela Planeta, numa novíssima edição da obra A Filha da Floresta. Este livro originalmente publicado em 1999 marcou a estreia da autora e o início da trilogia Sevenwaters, que teve ainda, mais tarde, outras obras que se podem enquadrar neste ciclo como A Vidente de Sevenwaters e A Chama de Sevenwaters.
A autora recupera nas suas obras mitos e lendas da tradição céltica, sendo que o cenário das suas obras remonta quase sempre à antiga Irlanda. Desta vez, a autora não se baseia numa história da Escócia ou da Irlanda, mas sim numa história alemã, «Os seis cisnes», recolhida pelos irmãos Grimm.
Sorcha é a sétima filha de um sétimo filho, o Lorde Colum. Todos os outros seis irmãos são rapazes. Lady Oonagh consegue seduzir Lorde Colum com a sua beleza mas não ilude completamente os seus sete filhos. Frustrada e furiosa por ver que os seus planos podem fracassar, acaba por enfeitiçar os irmãos de Sorcha, transformando-os. Cabe a Sorcha desfazer a maldição, enfrentando temíveis provas com determinação e amor, para que os seus seis irmãos possam recuperar a forma humana e sobreviver à maldição.
Conforme ao espírito dos contos populares, existe uma madrasta malvada, uma transformação, e uma maldição a ser resolvida com a ajuda de intervenientes mágicos, pois Sorcha conta com a ajuda das Criaturas Encantadas do Outro Mundo, que a tomam sob a sua protecção, pois Sevewaters é um espaço mágico no coração da Bretanha:
«A nossa casa tinha o nome dos sete riachos que desciam dos montes para o grande lago cercado de árvores. Era um lugar remoto, calmo, estranho, bem vigiado por homens silenciosos que deslizavam pelos bosques vestidos de cinzento e que mantinham as armas bem afiadas.» (p. 18)
Neste recanto isolado, no centro da floresta, num anel formado pelos montes, os habitantes de Sevenwaters estão a salvo de salteadores, reis, assaltantes, dos nórdicos ou dos pictos. Mas não estarão completamente a salvo da magia de Lady Oonagh. Ver artigo
Escrito em 1961, este é um romance belo, melancólico, perturbante, em que se realiza uma meditação sobre a sexualidade e a morte.
Eguchi é um senhor que ouve falar numa casa de prazer para «clientes no inativo», o que não é de todo o seu caso, como a personagem constantemente lembra o leitor, apesar de a narração ser feita na terceira pessoa, mas realizada a partir da corrente de consciência e da focalização do próprio Eguchi.
«O velho Eguchi, ao longo dos seus sessenta e sete anos de vida, tinha conhecido, evidentemente, noites bastante desagradáveis com mulheres. (…) Eguchi não sentia nenhuma vontade, com a idade que tinha, de experimentar uma nova sensação desagradável com uma mulher.» (p. 19)
Mas apesar de haver memórias indeléveis, Eguchi apenas parece lembrar boas recordações das mulheres que passaram pela sua vida, enquanto dá por si a entrar naquela casa, primeiro por curiosidade, depois por uma ânsia cada vez maior que não chega nunca a ser sexual.
As belas adormecidas são como «bonecas vivas»: «tinham feito dela um brinquedo vivo a fim de evitar qualquer sentimento de vergonha a velhotes que já nada tinham de homens.» (p. 25)
Durante o seu sono profundo, Eguchi pode observar estas jovens virgens, que serão quatro, uma por capítulo, ao longo das suas quatro espaçadas visitas a essa Casa, belas inconscientes que cheiram ainda literalmente a leite, pois são postas a dormir durante toda a noite, sem haver o risco de acordarem e testemunharem a companhia dos velhos que as procuram para as mirar ou dormir a seu lado.
A Casa das Belas Adormecidas inspirou Gabriel García Márquez, com o seu Memória das Minhas Putas Tristes.
Nascido em Osaka, em 1899, ficou órfão aos dois anos de idade. Formou-se em Letras pela Universidade Imperial de Tóquio, em 1924, e publicou o seu primeiro livro em 1927.
Yasunari Kawabata foi Prémio Nobel da Literatura em 1968. Suicidou-se em 1972, com 72 anos.
As suas obras mais populares estão publicadas pela Dom Quixote. Ver artigo
«O meu nome é Karim Amir, e sou inglês de nascimento e criação, ou quase. É frequente considerarem-me um tipo de inglês singular, estranho, uma espécie de raça nova, uma vez que sou fruto de duas velhas civilizações.» (p.9)
Assim inicia este retrato irreverente de um “indiano” nascido na Inglaterra e da sua entrada na vida adulta, numa Londres diversa étnica e culturalmente, de frenesim musical, de liberdade sexual, de devaneio artístico, onde o leitor acredita mesmo que Karim frequenta a mesma escola onde David Bowie estudou.
Karim tem dezassete anos e é um adolescente dos subúrbios do Sul de Londres na década de 1970. Além da sua própria ambivalência sexual, tão depressa atraído por Charles como envolvido com Jamila ou Eleanor, Karim, duplamente à margem, como suburbano e como fruto do casamento de um imigrante com uma inglesa, está desesperado por se mudar para o centro de Londres para poder pulsar nas suas veias e viver a vida no único meio que o cativa, o da arte do palco.
Um livro que conta uma vida de excessos, de descoberta e ascensão de classes, com uma linguagem cómica e enfeitiçante. Mas onde se sente também como o autor procura desfazer os próprios mitos criados em torno dos imigrantes, como acontece tão exemplarmente na personagem do pai que dá nome ao livro.
Hanif Kureishi, é ele próprio filho de pai paquistanês e mãe inglesa. Nasceu em Londres, cenário dos seus romances, contos, ensaios, peças de teatro e argumentos para cinema, como A Minha Bela Lavandaria, filme de Stephen Frears de 1985, filme em que um paquistanês beija um skinhead branco.
A obra do autor tem sido publicada na íntegra pela Relógio d’Água. Ver artigo
Constituído por onze capítulos, cada um subdividido em maneiras diferentes de melhorar a escrita nas mais variadas situações («Doze maneiras de evitar que o leitor o odeie» ou «Dez maneiras de melhorar o seu estilo»), inclusivamente quando não estamos a escrever.
Publicado pela Guerra & Paz, este livro «ensina o meu caro leitor a escrever melhores notas de resgate» e também «melhores cartas de amor, histórias, artigos de revista, cartas ao editor, propostas de negócio, sermões, poemas, romances, pedidos de liberdade condicional, boletins da paróquia, canções, memorandos, ensaios, trabalhos escolares, teses, grafitis, ameaças de morte, anúncios e listas de compras».
Fica claro logo desde as primeiras linhas da introdução o espírito irreverente do autor que torna aprazível e divertida uma leitura que poderia ser meramente técnica, enquanto se revê cuidados a ter com gramática, pontuação, estilo, ortografia, revisão, etc..
Com tradução de Marco Neves, autor de A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa, houve oncuidado em adaptar à língua portuguesa os cuidados a ter sobre gramática ou referências bibliográficas a consultar, ainda que possa parecer estranho a certa altura termos Gary Provost a citar Camões ou a remeter o leitor para a Gramática de Celso Cunha e Lindley Cintra.
O escritor e professor norte-americano Gary Provost (1944-1995) percorreu a América à boleia durante um ano, terminado o secundário, e dedicou-se em seguida à ficção durante os próximos dez anos, para depois passar a escrever não-ficção, trabalhar como jornalista freelancer, e nos anos 80 e 90 dedicou-se ao ensino da arte da escrita, tendo publicado este livro em 1985.
Para Gary Provost, a escrita não é pintura, mas sim música, por isso nada como ganhar senso comum e seguir da melhor forma os conselhos deste livro para depois fazer soar as frases de modo a sentir a sua musicalidade. Ver artigo
Daphne du Maurier nasceu em Londres, em 1907, no seio de uma família de artistas e intelectuais. Filha de actores e neta de escritor, revelou-se desde tenra idade, não só uma leitora voraz, mas também possuidora de uma imaginação fértil. Começou a escrever artigos e contos em 1928 e publicou o seu primeiro romance, The Loving Spirit, em 1931. Foi no entanto Rebecca, o seu quinto romance, que a popularizou. Ao longo da sua carreira, continuou a escrever contos e escreveu igualmente peças e biografias.
Rebecca foi em boa hora relançado pela Editorial Presença, que publicou ainda outras obras da autora, como A Pousada da Jamaica e A Minha Prima Rachel.
A Minha Prima Rachel inicia quando Philip se recorda com nitidez de um momento da sua infância em que viu um homem de grilhetas enforcado nos Quatro Caminhos.
Philip sabe bem que «não se pode voltar atrás» mas é a partir dessa estranha lembrança que nos conduz pela história de como perdeu o seu pai adoptivo e encontrou a sua prima Rachel.
«Na vida não se pode voltar atrás. Não há recuo. Não há segunda oportunidade. Aqui sentado, vivo e na minha própria casa, é-me tão impossível retirar uma palavra proferida ou desfazer um ato realizado como o era ao pobre Tom Jenkyn a oscilar nas suas grilhetas.» (p. 13)
Passaram-se dezoito anos, e entretanto Philip tem vinte e cinco, mas é a partir da recordação nítida desse homem suspenso, com o rosto e o corpo cobertos de alcatrão, que se espoletam as memórias que constroem o fio da narrativa.
«O rapaz que estava debaixo da janela dela na véspera do seu aniversário, o rapaz que permaneceu à entrada da porta do quarto dela na noite da sua chegada, desapareceu, tal como desapareceu a criança que atirou uma pedra a um homem morto num patíbulo para criar uma falsa coragem.» (p. 13)
Quase como se um condenado à morte por ter morto a mulher estivesse na mesma condição humana de um desgraçado que se apaixona pela mulher errada. Como lhe vaticina o seu padrinho: «Há mulheres, Philip, boas mulheres, muito possivelmente, que, sem que a culpa seja sua, atraem a fatalidade. Tudo o que tocam se transforma em tragédia. Não sei porque te digo isto, mas sinto que devo dizê-lo» (p. 13).
Philip é criado pelo seu primo Ambrose, após a morte dos seus pais quando ele tinha cerca de dezoito meses, altura em que se muda para o solar do primo onde é criado inicialmente por uma ama que acaba por ser despedida quando esta dá umas palmadas no rabo de Philip, então com três anos, altura em que Ambrose toma definitivamente a seu cargo a educação e a criação da criança, começando por lhe ensinar o alfabeto usando a letra inicial de todos os palavrões.
Philip considera que ele era como o seu primo Ambrose: «dois sonhadores, pouco práticos, reservados, cheios de grandes teorias nunca postas à prova, e, como todos os sonhadores, adormecidos para o mundo real» (p. 12). Ver artigo
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