Um texto pessoal, para variar…
No périplo de eventos em que tenho acompanhado um escritor, ele pediu-me que falasse da importância da leitura para os jovens de hoje… Sei falar da sua obra, dissecar e analisar os mais variados aspectos, sei dos benefícios da leitura para o cérebro e para a alma… mas não sabia bem afinal o que se esperava que eu falasse. Frente a um público composto por jovens de secundária, de uma escola CAFE – um dos projectos que mais se tem demarcado no trabalho de acompanhamento de alunos e professores no ensino em língua portuguesa em Timor-Leste – dei por mim a relembrar um jovem que passou o Liceu a ler…
Um jovem que pouco estudava, mas que tinha facilidade na leitura, e, por conseguinte, na escrita, e que quando tinha testes, apenas a estudar de véspera, conseguia dar a volta aos textos e ao conteúdo… (os professores não devem ter gostado muito desta parte). Um jovem que passou anos tão embrenhado na leitura e na conjectura de romances e histórias – que muitas vezes chegavam às centenas de páginas (escritas à mão, batidas em máquina de escrever, e depois em computador -, que só no final do 12.º ano percebeu que tinha de escolher um curso e seguir para o ensino superior… Como é óbvio, não correu muito bem, pois a média era miserável. No entanto, ao entrar por acidente num curso de letras esse jovem rapidamente percebeu que as suas capacidades e a sua motivação rapidamente ganharam ímpeto… Não deixou a leitura, mas diversificou-a… E as notas rapidamente falaram por si. Professores houve que chegavam a dar um ponto extra – “pela forma como escreve”…
Um jovem que ao acabar o curso começou a dar aulas, justamente de português, em que trabalhava textos com os mais novos, tentando incentivá-los a apreciar as histórias e a expressar a sua própria voz (e faz agora 20 anos que comecei a dar aulas). Um jovem que, 20 anos depois, continua mais ou menos exactamente onde estava: a gostar de ler e de escrever. Mas agora como convidado por um escritor para falar da sua obra…
E que afinal não precisava de ter entrado em pânico quando percebeu que o Liceu tinha voado e ele se sentiu à deriva sem saber o que fazer… E pensar que essa deriva se transformou numa travessia que dura 10 anos e o levou para o outro lado do mundo)
(As fotos são da conversa na Fundação Oriente e não do encontro em Com, mas ilustram bem estes últimos dias)
Um texto pessoal com muito interesse.
Fui professora e descobria com facilidade os meus alunos leitores.
Muito obrigado… É uma apetência inata 🙂