Elena Varvello nasceu em Turim, em 1971. Publicou poesia e venceu os prémios Settembrini e Bagutta com o seu primeiro romance, publicado em 2011. A Vida Feliz publicado em 2016, venceu o English Pen Award, e foi agora traduzido e publicado pela Quetzal. Como se anuncia numa citação retirada do The Independent – «Vire a página Ferrante, há uma nova Elena na cidade» –, este romance não pretende de todo copiar esse modelo. O que se afigurava um romance de formação, cuja acção ocorre no Verão de 1978, decisivo na vida de Elia Furenti, sobre a sua juventude, a sua amizade com Stefano, a paixão pela mãe do amigo (uma bela mulher de 36 anos com má reputação em Ponte), rapidamente toma contornos de um thriller de Hitchcock ou de uma narrativa de Daphne du Maurier e dá lugar a mais de 200 páginas de tensão permanente, numa linguagem escorreita e concisa, em que os capítulos alternam entre a perspectiva do jovem Elia e a sua reconstrução, 30 anos depois, do que aconteceu nesse Verão.
«O vale estreito, uma mina de pirite abandonada, um rio serpenteante, cascatas, uma velha ponte de pedra numa garganta, outra dois caminhos acima dos rápidos do rio e bosques em toda a volta.» (p. 17)
Nesta aldeia isolada e idílica, um rapazinho surge assassinado numa mina abandonada. A jovem que trabalha na casa ao lado da de Elia desaparece no bosque. O pai é despedido de uma fábrica em falência e começa a evidenciar um comportamento estranho, os primeiros sinais de uma doença mental: «As coisas que amaste desaparecem no escuro. / Chegaste aonde estás. É o que te aconteceu, e não há forma de explicar isto.» (pág. 180)
Elia rapidamente lê os sinais, num gradual despojamento da sua própria inocência, enquanto a mãe continua em negação dos pecados do pai: «Durante aquele verão, cada um de nós os três manteve para si qualquer coisa, os seus segredos» (p. 53)
Um romance de cortar a respiração que se quer ler de um fôlego.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.