Na linha de A Civilização do Espetáculo, a Quetzal Editores publica um novo livro de não-ficção do autor peruano, Mario Vargas Llosa, que foi condecorado com o Nobel de Literatura em 2010, em que se alerta para os perigos da submissão intelectual, da negação da racionalidade e da importância da liberdade de pensar e questionar.
Mario Vargas Llosa esclarece que, não parecendo, este é um livro autobiográfico, pois nos 7 ensaios biográficos que constituem O Apelo da Tribo – sobre filósofos e pensadores como Adam Smith, José Ortega y Gasset, Friedrich Hayek, Karl Popper, Raymond Aron, Isaiah Berlin e Jean-François Revel – o autor descreve simultaneamente a sua história intelectual e política: «o percurso que me foi levando, desde a minha juventude impregnada de marxismo e de existencialismo sartriano ao liberalismo da minha maturidade, passando pela revalorização da democracia, para a qual me ajudaram as leituras de escritores como Albert Camus, George Orwell e Arthur Koestler» (p. 10). Depois, num processo intelectual que levou vários anos, o autor converte-se ao liberalismo, devido a «certas experiências políticas» e, sobretudo, às ideias dos 7 autores apresentados neste livro.
No contexto de um continente imerso em revoluções e conturbações, o autor descobriu a política logo aos 12 anos, com um golpe militar no Peru. Terminado o liceu, rejeita a Universidade Católica em detrimento de uma universidade pública e popular, insubmissa à ditadura militar, para poder filiar-se no Partido Comunista. Estuda marxismo em grupos clandestinos, mantém-se socialista, vive a Revolução Cubana, visita a URSS, até que ao mudar-se para Inglaterra depois dos finais dos anos sessenta, e viver de perto os 11 anos do governo de Margaret Thatcher, uma conservadora guiada por convicções profundamente liberais, Mario Vargas Llosa opta pelo liberalismo.
Nestes ensaios biográficos, de leitura acessível e aprazível, o autor aborda a obra destes pensadores, analisando os seus principais aspectos, pesando os prós e contras da sua filosofia, filtrando o pensamento destes com o seu cunho pessoal. Este é um livro essencial para o controverso cenário político que agora se vive, pois subjacente a esta obra está sobretudo o apelo de um liberalista (fazendo suas as palavras de Ortega Y Gasset) que invoca à necessidade de praticarmos a liberdade de pensamento e de livre escolha, num mundo que empurra, cada vez mais, o cidadão enquanto indivíduo para uma massa anódina: «o indivíduo tende cada vez mais a ser absorvido por conjuntos gregários aos quais cabe agora o protagonismo da vida pública, um fenómeno em que ele vê um retorno do primitivismo (o «apelo da tribo») e de certas formas de barbárie disfarçadas sob as vestes de modernidade.» (p. 74)
O autor traça aqui o risco avassalador de o leitor se deixar absorver por uma massa cuja acção é determinada pela influência da televisão, mas sobretudo da internet e das redes sociais, e que implicará a sua anulação e um retrocesso histórico para a civilização democrática, como acontece actualmente, por exemplo, com os nacionalismos emergentes na Europa: «O apelo da tribo, a atração daquela forma de existência em que o indivíduo, escravizando-se a uma religião, doutrina ou caudilho que assume a responsabilidade de dar resposta por ele a todos os problemas, evita o compromisso árduo da liberdade e a sua soberania de ser racional, toca, claramente, cordas íntimas do coração humano.» (p. 165) Ver artigo
Pesquisar:
Subscrição
Artigos recentes
Categorias
- Álbum fotográfico
- Álbum ilustrado
- Banda Desenhada
- Biografia
- Ciência
- Cinema
- Contos
- Crítica
- Desenvolvimento Pessoal
- Ensaio
- Espiritualidade
- Fantasia
- História
- Leitura
- Literatura de Viagens
- Literatura Estrangeira
- Literatura Infantil
- Literatura Juvenil
- Literatura Lusófona
- Literatura Portuguesa
- Música
- Não ficção
- Nobel
- Policial
- Pulitzer
- Queer
- Romance histórico
- Sem categoria
- Séries
- Thriller
Arquivo
- Setembro 2024
- Agosto 2024
- Julho 2024
- Junho 2024
- Maio 2024
- Abril 2024
- Março 2024
- Fevereiro 2024
- Janeiro 2024
- Dezembro 2023
- Novembro 2023
- Outubro 2023
- Setembro 2023
- Agosto 2023
- Julho 2023
- Junho 2023
- Maio 2023
- Abril 2023
- Março 2023
- Fevereiro 2023
- Janeiro 2023
- Dezembro 2022
- Novembro 2022
- Outubro 2022
- Setembro 2022
- Agosto 2022
- Julho 2022
- Junho 2022
- Maio 2022
- Abril 2022
- Março 2022
- Fevereiro 2022
- Janeiro 2022
- Dezembro 2021
- Novembro 2021
- Outubro 2021
- Setembro 2021
- Agosto 2021
- Julho 2021
- Junho 2021
- Maio 2021
- Abril 2021
- Março 2021
- Fevereiro 2021
- Janeiro 2021
- Dezembro 2020
- Novembro 2020
- Outubro 2020
- Setembro 2020
- Agosto 2020
- Julho 2020
- Junho 2020
- Maio 2020
- Abril 2020
- Março 2020
- Fevereiro 2020
- Janeiro 2020
- Dezembro 2019
- Novembro 2019
- Outubro 2019
- Setembro 2019
- Agosto 2019
- Julho 2019
- Junho 2019
- Maio 2019
- Abril 2019
- Março 2019
- Fevereiro 2019
- Janeiro 2019
- Dezembro 2018
- Novembro 2018
- Outubro 2018
- Setembro 2018
- Agosto 2018
- Julho 2018
- Junho 2018
- Maio 2018
- Abril 2018
- Março 2018
- Fevereiro 2018
- Janeiro 2018
- Dezembro 2017
- Novembro 2017
- Outubro 2017
- Setembro 2017
- Agosto 2017
- Julho 2017
- Junho 2017
- Maio 2017
- Abril 2017
- Março 2017
- Fevereiro 2017
- Janeiro 2017
- Dezembro 2016
- Novembro 2016
- Outubro 2016
Etiquetas
Akiara
Alfaguara
Annie Ernaux
Antígona
ASA
Bertrand
Bertrand Editora
Booker Prize
Caminho
casa das Letras
Cavalo de Ferro
Companhia das Letras
Dom Quixote
Editorial Presença
Edições Tinta-da-china
Elena Ferrante
Elsinore
Fábula
Gradiva
Hélia Correia
Isabel Allende
Juliet Marillier
Leya
Lilliput
Livros do Brasil
Lídia Jorge
Margaret Atwood
Minotauro
New York Times
Nobel da Literatura
Nuvem de Letras
Pergaminho
Planeta
Porto Editora
Prémio Renaudot
Quetzal
Relógio d'Água
Relógio d’Água
Série
Temas e Debates
Teorema
The New York Times
Trilogia
Tânia Ganho
Um Lugar ao Sol