Miguel Real, nascido em Lisboa em 1953, formado em Filosofia, disciplina que ensinou até recentemente se ter reformado, especialista em cultura portuguesa, investigador do CLEPUL, ficcionista, tem-se imposto como um dos mais produtivos pensadores da actualidade, com estudos sobre diversos temas e figuras da nossa cultura, além de se ter ainda destacado na crítica literária, por exemplo no Jornal de Letras.
Na sequência de Introdução à Cultura Portuguesa, onde o autor estabelecia uma teoria que divide a História de Portugal em quatro correntes de pensamento, a Planeta publicou Traços fundamentais da cultura portuguesa.
Escreve José Eduardo Franco que «o escritor Miguel Real pode ser considerado uma síntese invulgar, na nossa época apelidada de pós-moderna, de várias correntes de análise e de crítica». Escolástico, renascentista, positivista, iluminista e pós-moderno, na medida em que tem o cuidado de não impor o seu pensamento nem «absolutizar nenhuma destas propostas de método de conhecimento», chamando o leitor para o texto, ao colocar-lhe questões que lhe permitam problematizar a informação recebida. São constantes as citações e referências a obras de outros pensadores e inclusivamente a artigos de imprensa.
O autor procura distinguir claramente História e Cultura, de modo a procurar constantes históricas que deram origem ao que ele define como quatro constantes culturais: a origem exemplar de Portugal, a nação superior, a nação inferior e o canibalismo cultural.
A obra divide-se em duas partes, sendo a primeira parte mais teórica, onde o autor começa por problematizar a questão de se poder falar em identidade nacional ou dessa essência identitária que definiria o homem português, e uma segunda parte, «Práticas histórias: constantes culturais», onde se enumeram e explanam os traços fundamentais da cultura portuguesa geralmente referidos – sebastianismo, saudade, cultura de fronteira (o desejo do Outro), lusofonia – para depois se debruçar sobre algumas figuras históricas que, segundo o autor, personificam essas constantes culturais: Viriato, Padre António Vieira, Marquês de Pombal, e os canibais culturais (Tribunal do Santo Ofício, Pina Manique, jacobinos, Estado Novo).
O autor faz ainda uma céptica (por vezes bastante descontente) mas lúcida análise de Portugal hoje, cumpridas algumas etapas fundamentais do processo de modernização do país, assente em quatro visões políticas ou Mitos, e salienta que estamos num intervalo civilizacional entre o passado e o futuro, deixando no ar a questão: «Continuaremos a possuir uma identidade ou diluir-nos-emos numa Europa sem identidade?».
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