Este interessantíssimo livro, publicado pela Temas e Debates, está dividido em seis capítulos e explica o funcionamento do cérebro, abordando de forma apelativa o modo como decidimos, sentimos e pensamos, desde a mais tenra idade. O autor recorre aos mais variados estudos para comprovar como o cérebro de um bebé já está predisposto para a linguagem, ainda antes de começar a falar, que o bilinguismo pode inclusivamente trazer benefícios à nossa saúde mental e física, que ocorre uma grande transformação no cérebro quando aprendemos a ler e que o ser humano forma as noções do bem e do justo, da cooperação e da competição, logo nos primeiros meses de idade. A escrita é acessível, empolgante, com momentos de humor por parte do autor, que continua a discorrer com entusiasmo e erudição, recorrendo, em vários passos, a citações literárias de variados autores, como, por exemplo, José Saramago.
É particularmente interessante como o autor procura justificar que o inato não é o oposto do aprendido, mas sim «algo aprendido na cozinha lenta da história evolutiva do Homem» (p. 35), ou que o cérebro na sua magnificente arquitectura está preparado para a linguagem mas precisa de estímulo social, que «o bilinguismo ajuda uma criança a ser o piloto do seu próprio pensamento» (p. 41), pois desenvolve a capacidade executiva do cérebro, a forma como o cérebro calcula o tempo (o que explica finalmente porque é que quando fazemos exercício físico o tempo parece muito mais lento, mas porque o contamos muito mais rápido, em função da pulsação acelerada), e o modo como muitas vezes perante uma tomada de decisões o melhor é agir impulsivamente, pois o cérebro intuitivamente encontra a melhor resposta numa fracção de segundo.
Mariano Sigman é neurocientista, físico de formação, fundador do Laboratório de Neurociência Integrativa da Universidade de Buenos Aires e uma figura internacionalmente conhecida no domínio da neurociência cognitiva da aprendizagem e da decisão. Foi galardoado com os mais variados prémios, como o Human Frontiers Career Development, National Prize of Physics, Young Investigator do Collège de France e o IBM Scalable Data Analytics for a Smarter Planet Innovation Award. Ver artigo
O cientista e escritor António Damásio recebeu no passado dia 20 de março o Prémio de Vida e Obra na Gala da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). A cerimónia decorreu no Centro Cultural de Belém e será transmitida em direto pela RTP.
O seu mais recente livro, publicado o ano passado, é A Estranha Ordem das Coisas: A Vida, os Sentimentos e as Culturas Humanas.
O autor aborda as emoções, os afectos humanos, os sentimentos (que defende como uma combinação única de corpo e cérebro) como propulsores da actividade cultural. Numa escrita acessível e ligeira, com espaço para o humor, o autor tenta perceber como é que a vida humana está ligada hoje ao que era no seu início, há 3,8 mil milhões de anos, procurando explicar como é que os sentimentos estão na base da cultura produzida pelo homem tanto então como agora. O autor considera ainda como apesar de até as culturas de bactérias se poderem comportar como comunidades humanas, na forma como se agrupam para sobreviver, o condão da criatividade humana cabe exclusivamente ao homem, pois esta capacidade «assenta na vida e no facto extraordinário de que a vida vem equipada com uma ordem precisa: resistir e projectar-se para o futuro, aconteça o que acontecer.» (pág. 50)
Autor conhecido internacionalmente, tem publicado a sua investigação lá fora, antes de ser traduzido para Portugal, e as suas ideias estão descritas em diversos livros, como O Erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano (1995), O Sentimento de Si: O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência (2000), Ao Encontro de Espinosa: As Emoções Sociais e a Neurologia do Sentir (2003); O Livro da Consciência: A Construção do Cérebro Consciente (2010) e o mais recente A Estranha Ordem das Coisas: A Vida, os Sentimentos e as Culturas Humanas, publicado o ano passado.
Os seus livros são publicados em Portugal pela Temas e Debates, estão traduzidos em mais de trinta línguas e estudados em universidades do mundo inteiro.
Destaque-se ainda, em jeito de conclusão, a luminosa frase: «As ciências, por si só, não podem iluminar a experiência humana sem a luz que provém das artes e das humanidades.» (p. 17) Ver artigo
Este livro (da Temas e Debates) debruça-se de forma científica sobre a forma como a meditação, uma prática cada vez mais corrente e assente em diversos contextos, inclusive empresas e escolas, passou nas últimas décadas a ser vista como uma panaceia. Não se infira, contudo, que os autores estão contra a meditação. Pretendem sim estudá-la com bases científicas e evidenciar com recurso a provas fundamentadas na ciência que a meditação pode alterar o funcionamento da mente, do cérebro e até mesmo do nosso corpo. Falar de meditação é também falar de outra prática que se tem tornado bastante divulgada recentemente: o mindfulness. Os autores começam por diferenciar a vida profunda da via larga, sendo a via profunda a vivência plena da meditação na sua forma mais pura, como em antigas linhagens budistas do sudeste asiático ou entre os iogues tibetanos, ou ainda a forma como a meditação deixou gradualmente de fazer parte de um estilo de vida total para ser adaptada ao gosto ocidental. Consoante se sobe de nível a meditação vai sendo considerada nas suas formas mais diluídas, tendo-se tornado também acessível a um conjunto mais amplo de pessoas.
Os autores viveram durante alguns anos em países como a Índia ou o Sri Lanka, onde imergiram noutro modo de vida, estudando os antigos textos, conhecendo estudiosos de meditação, praticando os antigos métodos e vivendo em retiros. São professores e investigadores reputados da Psicologia, Psiquiatria, ou Neurologia, e puderam usar instrumentos modernos para, por exemplo, obter, em ambiente controlado de laboratório, tomografias do cérebro de praticantes de meditação a “nível olímpico”.
«Um traço alterado – uma nova característica que resulta da prática da meditação – perdura para lá da meditação em si. Os traços alterados mudam a forma como nos comportamos na vida quotidiana e não apenas enquanto meditamos, ou imediatamente a seguir.» (p. 13)
Este é um estudo sério e sólido, num tempo em que já é possível inclusive realizar Doutoramentos ou Pós-Doutoramentos em meditação, com referência a diversos estudos de caso. Ver artigo
Considerando o tema e a dimensão, ou mesmo o peso, deste livro (publicado pela Temas e Debates), não se mergulha de ânimo leve nestas 823 páginas, em que o autor disserta sobre o nascimento de uma nova mentalidade no século XVII. Mas com leveza e até algum humor, aliados à sua erudição e a uma extensa pesquisa, David Wootton acaba por nos levar numa viagem à invenção da ciência moderna, balizada entre o avistamento de uma nova estrela em 1572 e 1704, quando Isaac Newton publica um estudo em que pretende demonstrar como a luz branca é composta por todas as cores do arco-íris em 1704. Considerando como vivemos num mundo quase novo, apesar de a nossa espécie ter já duzentos mil anos, o autor faz uma complexa análise de como o homem teve de inventar novas palavras à medida que se foi criando novo conhecimento, apesar de muitas vezes grandes sábios e filósofos se recusarem a aceitar aquilo que viam porque, simplesmente, ia contra tudo aquilo que os Antigos defendiam. Pode até defender-se, segundo o autor, que a ciência moderna começou com os Portugueses do século XV, na sua navegação rumo à Ásia, que originou o cunho da palavra «descobrimento», que significou exploração e depois descoberta. Numa sociedade onde se cria que o conhecimento era um conjunto estanque de dados assumidos, sem mais nada a aprender, a descoberta de novos continentes, como a América, revelou que o mundo estava ainda todo por descobrir e o conhecimento era um caminho inteiro à espera de ser percorrido. Conforme o racionalismo ceifa o interesse pelo oculto e as crenças no sobrenatural, a sociedade vai sendo encaminhada para a revolução industrial, depois de passar pela revolução cultural.
Esta portentosa obra procura evidenciar como a revolução científica ocorre entre 1572 e 1704 e como a ciência moderna daí decorrente foi o verdadeiro motor de desenvolvimento da revolução intelectual e cultural, conduzindo-nos à atualidade de um mundo inteiramente assente na ciência. Para Wootton, a modernidade começa portanto com a revolução científica, na Europa, e foi a mais importante transformação na história humana, desde a época do Neolítico. Ver artigo
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