Numa Londres alternativa nos anos 1980, quando Margaret Thatcher comete a imprudência de uma desastrosa guerra territorial pelas Ilhas Falkland, Charlie Friend usa as suas poupanças – que dariam para comprar um apartamento – num exemplar de um primeiro lote de seres humanos sintéticos, isto é, um robot com aspecto perfeitamente humano e inteligência artificial, que pode inclusive desempenhar funções de brinquedo sexual vivo, e sugestivamente designado como Adão. Charlie talvez preferisse uma Eva, mas estavam esgotadas…
«Quanto à autonomia, conseguia correr dezassete quilómetros em duas horas sem precisar de ser recarregado ou, com um consumo equivalente de energia, conversar ininterruptamente durante doze dias. Tinha uma vida útil de vinte anos. Era corpulento, de ombros direitos, pele escura, cabelo preto espesso penteado para trás; a cara era estreita, com um nariz ligeiramente adunco a sugerir uma inteligência sólida, uns olhos pensativos» (p. 12)
Ian McEwan, um dos mais importantes autores britânicos, depois do irreverente Numa Casca de Noz em que coloca um embrião a meditar sobre a Inglaterra em fase Brexit, continua a meditar sobre o futuro da raça humana nestes tempos conturbados em que a tecnologia ameaça (?) ultrapassar a inteligência humana. Ver artigo
O mais recente livro de Kazuo Ishiguro é, na verdade, a obra de estreia do autor japonês, publicada em 1982. A sua obra está publicada pela Gradiva e já aqui recenseámos outros livros do autor, todos eles completamente distintos, pelo que nunca sabemos onde a sua escrita nos conduz.
Etsuko é uma mulher japonesa que vive em Inglaterra, divorciada, com duas filhas de dois homens diferentes. Keiko, a sua filha mais velha, suicidou-se recentemente. E Niki, nascida em Inglaterra, vive com o namorado em Londres mas não tem qualquer intenção de se casar ou ter filhos. Niki tem aliás um nome que resulta de um acordo entre a mãe japonesa e o pai inglês, que insistia que a filha tivesse um nome japonês. Logo nesta informação, avançada nas primeiras linhas do romance, sente-se que a tradição parece aqui colocada em causa… e de facto, é isso que se sentirá ao longo do livro. Como transparece também na relação entre Jiro, o primeiro marido de Etsuko, que menospreza o pai em prol da sua ambição profissional, ou na amiga que vive obcecada com o americano que um dia poderá levá-la para a América, apesar de pressentir que não passa de uma ilusão e de lhe maltratar a filha.
Quando Niki visita a mãe durante os dias chuvosos e frios de Abril, em sequência do suícidio da irmã, a cujo enterro não compareceu, Etsuko dá por si numa retrospectiva dos primeiros tempos da sua gravidez, nos anos seguintes à destruição de Nagasáqui, em que continua presente o impacto da bomba na vida dos que sobreviveram, e revive as memórias da sua amizade com Sachiko, uma mulher que perdeu a sua fortuna e a sua boa posição devido à guerra e vive agora numa casa pobre, com uma filha rebelde e peculiar.
Kazuo Ishiguro viveu em Nagásaqui, sua cidade natal, durante 5 anos, antes de se mudar para Londres. Foi Prémio Nobel de Literatura em 2017. A sua escrita é, como sempre, cristalina e envolvente, e os seus enredos enigmáticos e ambíguos. O presente e o passado explorados na narrativa não parecem interligar-se cabalmente… mas há um enigma neste livro que pede para ser desvendado… contudo revelá-lo aqui seria estragar o prazer da vossa leitura. Ver artigo
Um retrato psicológico, negro, de como as pessoas vivem desencontradas na contemporaneidade e, mesmo com a família ou com quem estabelecem laços afectivos, a ponte que procuram estabelecer com aqueles que os rodeiam é insuficiente e imperfeita. Na relação entre professora e aluno, entre mãe e filho, entre colegas e amigos, entre marido e mulher, há sempre um fosso em que a pessoa está tão embrenhada nas suas próprias profundezas que quase não consegue tocar o outro, por vezes assombrada ainda pela infância, como é o caso de Hélène, e correndo o risco de projectar num aluno aquilo que sofreu na pele.
A narrativa reparte-se entre Hélène, a professora, Théo, o aluno, Mathis, o colega, e Cécile, a mãe de Mathis. Curiosamente, são apenas as mulheres, a professora e a mãe, que ganham voz no romance através do registo na primeira pessoa.
Perpassa neste romance, publicado pela Gradiva, uma forte noção da contemporaneidade, até porque, como se afirma, a certa altura, o tempo da inocência chegou ao fim (p. 93). Théo imagina-se um participante vencedor de um reality show, de modo a transformar o trabalho em divertimento; as fotografias funcionam como mistificações ilusórias; o marido de Cécile revela-se um perfeito estranho quando ela descobre o seu avatar nas redes sociais e num blogue pessoal, em que ataca e contesta «tudo e mais alguma coisa, sem nunca assumir o teor das suas afirmações» (p. 147), de forma anónima, ambivalente ou extremista, sem nunca se dar a conhecer. Um mundo solitário e negro, em que uma criança de doze anos e meio encontra na bebida a única forma de salvação: «Contrariamente à maioria dos alimentos, o álcool não é digerido. Passa directamente do aparelho digestivo para os vasos sanguíneos. (…) É no cérebro que os efeitos se fazem sentir mais depressa. A ansiedade e o medo diminuem, e às vezes chegam mesmo a desaparecer. Dão lugar a uma espécie de vertigem ou excitação que pode durar várias horas.» (p. 107)
Delphine de Vigan é escritora, realizadora e argumentista, com oito romances publicados em França, onde nasceu, e alguns adaptados ao cinema. É especialmente lida entre os mais jovens e detentora de prémios como o Prémio Elle, Fnac, Televisão Francesa, Goncourt e Renaudot. Ver artigo
Ann Patchett nasceu em Los Angeles em 1963 e cresceu no Tennessee, onde continua a viver. Publicou o seu primeiro romance em 1992, destacado pelo New Yok Times como um dos melhores do ano. Tem recebido diversos prémios e encontra-se traduzida em mais de trinta línguas.
Bel Canto é um dos poucos romances da autora que se pode encontrar traduzido em português – assim Comunidade (Minotauro), já apresentado aqui – e foi publicado pela Gradiva em 2002, um ano imediatamente após a publicação do original. O romance parece ter passado despercebido por cá, mas recebeu os prémios Orange e Pen/Faulkner, e pode agora ser lido a propósito da adaptação cinematográfica que estreou recentemente nas salas de cinema portuguesas.
O livro começa com um beijo roubado na escuridão, um beijo invisível, mas que todos estão seguros de ter visto. Esse é o primeiro indício de uma estranha realidade que se começa a desenhar no romance, havendo até a sensação de que a narrativa vagabundeia um pouco até se centrar naquilo que se torna a intriga principal. Num país não nomeado da América do Sul, onde se fala espanhol e quechua, o Vice-Presidente dá uma festa na sua casa em honra de Mr. Hosokawa como forma de celebrar o seu aniversário, sendo Roxane Coss, cantora lírica americana, a estrela convidada como forma de aliciar este empresário a estar presente. Foi no seu décimo primeiro aniversário que Mr. Hosokawa foi levado pela mão do pai a ver o Rigoletto em Tóquio e desde então ficou apaixonado pela ópera, descobrindo depois, pela mão da filha que lhe oferece um álbum, a voz daquela que se considera ser a melhor soprano da época e que ele irá seguir incansavelmente ao longo dos próximos 5 anos, assistindo a 18 dos seus espectáculos: «a voz maravilhosa de Roxane Coss está a cantar Gilda para o jovem Katsumi Hosokawa, fazendo vibrar os ossos minúsculos dos seus ouvidos. A voz dela permanece dentro dele, transforma-se nele. Ela está a cantar aquela personagem para ele, e para mais mil pessoas. Ele é anónimo, igual aos outros, amado.» (p. 55)
Contudo, rapidamente o cenário de festa após o concerto se altera, quando os convidados são tomados como reféns por um grupo de guerrilheiros. Mais tarde, mulheres, crianças e alguns homens com a saúde mais debilitada são libertados, restando cerca de 50 reféns, mas os dias sucedem-se, até que duas semanas depois continua a não haver qualquer perspectiva de se superar o impasse deste rapto que começa a ganhar laivos surreais, em que os próprios reféns parecem preferir manter-se dentro daquela casa. O quotidiano na casa e as relações que se estabelecem entre os reféns e com os próprios raptores começam a afigurar-se uma metáfora da vida, à semelhança de Os Inconsolados, de Kazuo Ishiguro. Há alguns elementos pouco “realistas”, como Mr. Hosokawa e o seu intérprete Gen Watanabe, quase um assistente pessoal, serem estranhamente idênticos, na aparência e na voz. Gen Watanabe é o intérprete que estabelece a comunicação entre os diversos reféns, pois são de nacionalidades distintas e estão num país estrangeiro. Há guerrilheiros que revelam ser mulheres. A própria Roxanne Coss, que se julgaria ser a protagonista, dado o fascínio que exerce sobre todos, pela voz e pela presença que o seu canto irradia nela, só “entra em cena” já no terceiro capítulo, o que lembra a Turandot de Puccini, em que a princesa japonesa, apesar de omnipresente, apenas entra (que é como quem diz canta) na segunda cena. E não falta, principalmente nos primeiros capítulos, uma deliciosa ironia que denuncia a intrusão do humor da autora.
Este é um livro sobre o amor e a amizade, em que a música é enaltecida como alimento da alma e como uma magia capaz de quebrar as convenções do real: «Nunca tinha pensado, nem só uma vez, que pudesse existir uma mulher assim, uma mulher que estivesse tão perto de Deus que a voz Dele era decantada através dela. Quão fundo teria ido dentro de si própria para invocar aquela voz. Era como se a voz viesse do centro da Terra, e ela, só com um ligeiro esforço e com a diligência da sua vontade, conseguisse puxá-la através da terra, das pedras, pelo chão da casa, pelos pés, perpassando-a, pairando com o calor do seu corpo, até sair pelo lírio branco da sua garganta directamente para Deus lá no céu. Era um milagre, e a dádiva de o testemunhar fê-lo chorar.» (p. 59)
O filme conta com a interpretação de Julianne Moore e de Ken Watanabe. Ver artigo
Hubert Reeves, astrofísico, ensinou cosmologia, e é um reconhecido divulgador da ciência, sendo a sua obra publicada em Portugal pela Gradiva. O seu mais recente livro é O banco do tempo que passa e pode muito bem ser a melhor forma de ficarmos a conhecer o autor e despertar a curiosidade pela sua obra. Como aliás indica Carlos Fiolhais num texto citado na badana do livro: «Este é o livro dos livros de Reeves: uma súmula dos seus conhecimentos e dos seus pensamentos sobre o Universo e sobre nós próprios.»
«Próximo da lagoa de Malicorne, em frente do grande salgueiro-chorão que se vê reflectido na água calma, instalámos um banco. Chamámos-lhe «o banco do tempo que passa». Sento-me nele com frequência para tentar apanhar o fiozinho do tempo que nos conduz ao longo de toda a nossa existência.» (pág. 13)
Este livro tem origem nos momentos de reflexão que o ilustre astrofísico experienciou frente a essa lagoa e é uma sequência de meditações mais ou menos dispersa mais ou menos organizada por temas caros ao autor, que o próprio leitor pode ir lendo sem linearidade ou compulsividade, tomando este livro como um guia ou um diário, impulsionando-o às suas próprias reflexões e divagações. Estas notas, umas vezes estendendo-se por 2 ou 3 páginas, outras limitando-se a uma frase ou a uma citação, são essencialmente pessoais, por vezes cruzadas com memórias do próprio cientista, onde este não só recupera ideias já abordadas nas suas outras obras como apresenta, em alguns momentos, breves sínteses. E apesar da sua formação empírica, o autor não descura um espaço para a religiosidade: «Entre os dogmas religiosos e as certezas ateias há espaço para as espiritualidades inquisitivas.» (pág. 92)
Destaca-se sobretudo a linguagem clara e simples, sem pretensiosismos nem complexificações científicas, e a capacidade de maravilhamento permanente perante o universo e a vida que o autor consegue transmitir ao leitor, nesta singela tentativa de «humanizar uma Humanidade que muito disso necessita.» (pág. 113) Ver artigo
O autor, publicado pela Gradiva e laureado com o Nobel da Literatura em 2017, parece aqui fazer uma reflexão subtil da arte ao mesmo tempo que nos leva àquela que é a sua herança cultural, pois apesar do autor ter nascido em Nagasáqui, vive em Londres desde os 5 anos de idade.
A intriga decorre entre Outubro de 1948 e Junho de 1950, época em que o Japão recupera da Segunda Grande Guerra e está em franca reconstrução e reorganização, inclusive em termos culturais. Pela voz do mestre pintor Masuji Ono, ficamos assim a conhecer um país em busca de uma nova identidade e fôlego, ao mesmo tempo que apesar de já estar na reforma acompanhamos a memória desse período conturbado, época que coincide ainda com a formação do então jovem pintor. Ver artigo
Nos anos 60, quando a Grã-Bretanha se tornou numa potência menor, quando ainda não existe a palavra adolescente, nem se entraram nos loucos tempos de liberdade sexual, quando ainda se vive segundo alguns convencionalismos burgueses, mas a masturbação já não é tabu nem pressupõe a crença de que causa cegueira, um jovem casal vive a sua noite de núpcias, passadas cerca de oito horas da cerimónia do casamento. O livro não o indica directamente, mas estamos em Julho de 1962, no final de um dia de verão, Florence e Edward esperam ansiosamente que lhes acabem de servir a refeição no quarto, para poderem ficar finalmente a sós. Mas o momento que Edward deseja com crescente excitação, é igualmente temido por Florence, que receia o instante em que terá de render o seu corpo ao noivo. As 128 páginas deste livro alternam entre o discorrer da sua “noite de núpcias” e o rememorar das suas vidas e relação com os pais, bem como dos últimos anos desde que se conheceram.
«Eles eram jovens, licenciados, ambos virgens naquela sua noite de núpcias, e viviam numa época em que uma conversa sobre dificuldades sexuais, que nunca é fácil, era simplesmente impossível.» (p. 7)
Pode ler-se que esta é «mais uma obra-prima de Ian McEwan – uma história de vidas transformadas por um gesto não feito ou uma palavra não dita», à semelhança da obra de Kazuo Ishiguro, cuja intriga gira muitas vezes em torno de um equívoco ou mal-entendido.
Um livro tão brilhante quanto incómodo, na forma como indicia que por vezes é só no fim do decurso de uma existência que verdadeiramente reconhecemos como uma só palavra ou cedência poderia ter resultado num desfecho de uma vida completamente diferente. E mais realizada.
O filme foi adaptado ao cinema e deverá estrear em Maio, com realização de Dominic Cooke, e Saoirse Ronan e Billy Howle nos principais papéis. Saoirse Ronan é a mesma jovem que despoleta toda a confusão de Expiação (2007 – outra das várias adaptações ao grande ecrã das obras do autor).
Este jovem casal contracenará ainda este ano noutro filme, A Gaivota, uma adaptação a partir da peça de Tchékhov. Ver artigo
Roger Scruton é filósofo, escritor e crítico cultural, com uma vasta e multifacetada obra, é um intelectual com presença assídua e um contributo importante na discussão pública de ideias, nos vários campos da filosofia ou mesmo na metafísica. A obra agora publicada pela Gradiva é a versão revista de 3 conferências proferidas na Universidade de Princeton em 2013.
O autor começa por considerar as teorias geneticistas e evolucionistas para depois se demarcar delas com vista a sustentar a sua defesa, a partir de diversas leituras sempre referenciadas, de que a natureza humana não é simplesmente um outro estádio evolutivo da natureza animal. Isto é, o riso, a moral, a cultura, a arte, e as várias formas de prazer que o ser humano pode experienciar são condições que distinguem o Homem dos outros animais. Ver artigo
Kazuo Ishiguro, publicado pela Gradiva e Prémio Nobel de Literatura em 2017, nasceu em Nagasáqui, Japão, em 1954, e vive na Grã-Bretanha desde os 5 anos. De toda a sua obra, Os Inconsolados é muito provavelmente a obra mais complexa e desafiante, podendo ser lido como uma metáfora sobre a vida.
Mr. Ryder é o convidado ardentemente esperado para dar um concerto numa cidade inominada, que pode ser em qualquer ponto da Europa, mas mais provavelmente algures na Alemanha. Sem programa, e com uma memória dúbia do que realmente está ali a fazer, o leitor vai captando o desenrolar da narrativa através da perspectiva amnésica desta personagem, e só gradualmente vamos percebendo que afinal Mr. Ryder, um ilustre maestro, está de regresso àquela que é a sua cidade-natal. As personagens com quem se vai cruzando, e que nunca dá mostras de reconhecer, acabam por se revelar amigos de infância. Nem mesmo quando encontra a mulher e o filho se Ryder demonstra sentir qualquer reconhecimento inicial.
Um livro intrigante, quase kafkiano, até pela forma labiríntica como vamos passando de uma situação para outra, e uma porta leva sempre a um sítio inesperado, como se num edifício desembocassem várias realidades paralelas, com uma natureza que tem tanto de sonho como da ilógica própria de Alice no País das Maravilhas (como quando num enterro a viúva pede que arranjem alguma coisa para servir o chá e os presentes começam a vasculhar os bolsos).
Um tributo à música e à arte. Uma reflexão sobre a vida. Um livro com mais de 400 páginas que se torna desafiante, mas igualmente intrigante, cativando o leitor que vai tentando desfiar o fio desse labirinto por onde o maestro se parece perder ao longo de três dias em que está de regresso à sua cidade-natal, onde irá ser a estrela de um importante concerto ao mesmo tempo que parece imbuído da missão de ajudar a comunidade a reencontrar a verdadeira arte. Ver artigo
Este livro (originalmente publicado em 2009) cristaliza um diálogo que resulta de um encontro em Paris, entre o sobejamente conhecido Umberto Eco, autor cuja obra tem vindo a ser publicada pela Gradiva, e Jean-Claude Carrière, cineasta e ensaísta.
As questões são diversas, nesta conversa, ou conversas, tidas em vários momentos, conduzidas por Jean-Philippe de Tonnac, escritor, ensaísta e jornalista.
A Internet significa o desaparecimento do livro? Não representa o ebook uma maior comodidade, capaz de fazer transportar de forma mais ligeira e prática num só equipamento toda uma biblioteca?
«As variações em torno do objecto livro não lhe modificaram a função, nem a sintaxe, há mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.» (p. 16)
Ao contrário de outros suportes de armazenamento de memória que se tornam continuamente obsoletos, como os CD-ROM, as disquetes, as cassetes, defende Eco que o suporte do livro é insuperável, mais fácil de transportar e de abrir/ligar do que um computador, pois não requere nenhuma alimentação a não ser a vontade do leitor.
Num diálogo vibrante e culto, onde não falta humor, situações anedóticas e pequenas piadas que fazem também parte da cultura e da história humana, os autores revelam como o saber (e a idiotia, a par e passo) continua vivo, por muito que a tecnologia se supere a si própria, e o conhecimento nunca ocupa espaço, desde que haja naturalmente uma selecção em função daquilo que nos dá prazer. Um pouco como os colecionadores que uma vez reunida a colecção ou encontrado o objecto tão desejado acabam por descartar logo de seguida o fruto dessa demanda, pois ficou saciada essa sede de descoberta e aventura.
«A cultura é um cemitério de livros e outros objectos desaparecidos para sempre. Existem, hoje, trabalhos sobre esse fenómeno que consiste em renunciar tacitamente a certos vestígios do passado, e, logo, a filtrar, e por outro lado colocar outros elementos dessa cultura numa espécie de câmara frigorífica, para o futuro. Os arquivos, as bibliotecas, são essas câmaras frias em que armazenamos a memória, de modo que o espaço cultural não esteja atravancado de toda essa aglomeração, sem contudo renunciar a ela. Poderemos sempre, no futuro, recuperá-la, se o coração assim no-lo ditar.» (p. 60) Ver artigo
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