O Colibri, de Sandro Veronesi, com tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra, chegou às livrarias com o selo da Quetzal. Um dos mais aclamados romances deste ano, que valeu o prestigiado Prémio Strega ao autor, pela segunda vez. O seu romance Caos Calmo (ASA, 2008), também distinguido com o Prémio Strega (além do Fémina, em França), foi adaptado ao cinema com Nanni Moretti, que também participa no filme como ator, tendo sido nomeado para o Urso de Ouro do Festival de Berlim em 2008. O Colibri terá também uma adaptação ao cinema. Sandro Veronesi passou o mês de abril em Cascais, no âmbito das Residências Internacionais de Escrita da Fundação D. Luís I. Ver artigo
Morte no Nilo, de Agatha Christie, foi relançado agora numa nova edição pela ASA, com tradução de Isabel Alves. Um dos livros mais emblemáticos de Agatha Christie que conhece agora uma nova adaptação ao cinema. Publicado originalmente em 1937, Morte no Nilo foi escrito depois de Agatha Christie ter regressado de um inverno passado no Egipto. Identificado pela própria autora como um dos seus melhores livros das “viagens pelo estrangeiro”, Morte no Nilo é o 18.º volume da coleção de livros de Agatha Christie expressamente pensada para jovens leitores. Este aclamado mistério de Hercule Poirot, protagonista de uma saga que foi eleita a Melhor Série Policial do século XX, integra ainda o Plano Nacional de Leitura 2027. Ver artigo
O Poder do Cão, obra-prima de Thomas Savage, publicado pela Leya/ASA, com tradução de Elsa T. S. Vieira, revivifica uma poderosa voz da literatura americana do século XX. Este romance escrito originalmente em 1967 ficou votado ao esquecimento durante décadas, ressurgindo agora, a partir de uma adaptação ao pequeno ecrã por Jane Campion, disponível na Netflix desde 1 de dezembro. A realizadora de O Piano recebeu aliás o prémio de Melhor Realizadora no Festival de Veneza por este filme, protagonizado por Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst. Ver artigo
Cães Maus Não Dançam é o novo romance de Arturo Pérez-Reverte, autor cuja obra tem sido publicada pela ASA (LeYa), traduzido do castelhano por Cristina Rodriguez e Artur Guerra. Uma narrativa negra e assombrosa, que reflecte sobre a vida pela perspectiva do ser mais leal, o cão. Ver artigo
Melhor livro do ano pelo New York Times e a National Public Radio. Vencedor do LA Times Book Prize, Stonewall Book Award e Andrew Carnegie Medal. Finalista do Pulitzer Prize e do National Book Award.
Já referi antes que por vezes me incomoda quando os livros são demasiado etiquetados, todavia este romance, publicado pela ASA, e que está a ser adaptado para televisão, é para mim um dos livros do ano e aborda um tema que eu estranhava não ter sido ainda devidamente tratado num romance. Temos o filme Filadélfia, ou a série Um Coração Normal, podemos até lembrar-nos do escritor que se suicida em As Horas, de Michael Cunningham, mas não havia nenhum romance, ainda mais de grande fôlego, que abordasse a epidemia da SIDA nos anos 80 nos Estados Unidos da América.
Em Novembro de 1985, um grupo de amigos fazem uma festa em Chicago que é, na verdade, um funeral, enquanto a “verdadeira” missa fúnebre decorre a quilómetros dali, assistida apenas pela família. Nico, um jovem belo, promissor, querido por todos, morreu. A sua irmã Fiona vira as costas à família, da mesma forma que os seus pais, que agora o choram, expulsaram em tempos Nico de casa quando souberam da sua homossexualidade. Nos meses seguintes, decorre uma espécie de jogo, quase como num mistério policial, em que nunca se sabe quem vai morrer a seguir, enquanto o grupo de amigos de Yale Tishman vai sendo dizimado.
(…)
Já referi antes que por vezes me incomoda quando os livros são demasiado etiquetados, todavia este romance, publicado pela ASA, e que está a ser adaptado para televisão, é para mim um dos livros do ano e aborda um tema que eu estranhava não ter sido ainda devidamente tratado num romance. Temos o filme Filadélfia, ou a série Um Coração Normal, podemos até lembrar-nos do escritor que se suicida em As Horas, de Michael Cunningham, mas não havia nenhum romance, ainda mais de grande fôlego, que abordasse a epidemia da SIDA nos anos 80 nos Estados Unidos da América.
Em Novembro de 1985, um grupo de amigos fazem uma festa em Chicago que é, na verdade, um funeral, enquanto a “verdadeira” missa fúnebre decorre a quilómetros dali, assistida apenas pela família. Nico, um jovem belo, promissor, querido por todos, morreu. A sua irmã Fiona vira as costas à família, da mesma forma que os seus pais, que agora o choram, expulsaram em tempos Nico de casa quando souberam da sua homossexualidade. Nos meses seguintes, decorre uma espécie de jogo, quase como num mistério policial, em que nunca se sabe quem vai morrer a seguir, enquanto o grupo de amigos de Yale Tishman vai sendo dizimado.
(…)
«Como podia explicar-lhes que aquela cidade era um cemitério? Que todos os dias passavam por ruas onde tivera lugar um holocausto, um homicídio em massa por negligência e antipatia, como podia perguntar-lhes se quando passavam por uma bolsa de ar frio não percebiam que era um fantasma, um rapaz que o mundo cuspira?» (p. 256)
Jules Moreau vive com os pais e com os dois irmãos mais velhos. Mas aos onze anos perde os pais num acidente de automóvel. A essa tragédia segue-se o seu ingresso num internato. E à dor dessa perda sucede-se ainda a quebra dos laços de irmandade. A irmã Liz e o irmão Marty apesar de estarem no mesmo colégio de Jules tornam-se eles mesmos uns estranhos, enquanto Jules passa o final da infância e a adolescência na demanda da sua identidade, agora como órfão. Do pai herda o cabelo negro e a barba forte, bem como o amor pela fotografia. A sua outra paixão, e consolo para a sua solidão, será Alva, uma menina de pele pálida e cabelos ruivos, com quem partilha as suas paixões menores na leitura, na música, ou no silêncio de uma amizade cúmplice que prenuncia já um amor adulto. E é já como adulto que o jovem Jules perceberá que a vida é feita de regressos e reencontros.
Ao longo do livro, entre 1980 e 2014, sensivelmente, assistimos assim ao crescimento de Jules e à sua tentativa de sanar a solidão, até que esta atinge o ponto máximo de uma dor tão avassaladora que pode implicar o corte desejado da própria vida: «Há muito que conheço a morte. Agora, porém, também ela me conhece.» (p. 11)
O livro peca apenas por na parte final se tornar um pouco repetitivo, quase como se o autor e a personagem fossem um só e procurassem exorcizar os seus demónios através da escrita, até porque «Uma infância difícil é como um inimigo invisível (…). Nunca se sabe quando nos vai atingir.» (p. 123)
Afirma o autor que este seu quarto romance é uma «catarse»: «Este foi o livro que eu tive de escrever. Os próximos são os livros que eu quero escrever. Agora sinto-me totalmente livre.»
Benedict Wells nasceu em Munique em 1984 e passou por 3 colégios internos, a partir dos 6 anos de idade. Este romance foi escrito ao longo de 7 anos e é inspirado em factos da sua vida. Publicado pela Asa e vencedor do Prémio de Literatura da União Europeia, o romance encontra-se traduzido para 30 línguas.
Ao longo do livro, entre 1980 e 2014, sensivelmente, assistimos assim ao crescimento de Jules e à sua tentativa de sanar a solidão, até que esta atinge o ponto máximo de uma dor tão avassaladora que pode implicar o corte desejado da própria vida: «Há muito que conheço a morte. Agora, porém, também ela me conhece.» (p. 11)
O livro peca apenas por na parte final se tornar um pouco repetitivo, quase como se o autor e a personagem fossem um só e procurassem exorcizar os seus demónios através da escrita, até porque «Uma infância difícil é como um inimigo invisível (…). Nunca se sabe quando nos vai atingir.» (p. 123)
Afirma o autor que este seu quarto romance é uma «catarse»: «Este foi o livro que eu tive de escrever. Os próximos são os livros que eu quero escrever. Agora sinto-me totalmente livre.»
Benedict Wells nasceu em Munique em 1984 e passou por 3 colégios internos, a partir dos 6 anos de idade. Este romance foi escrito ao longo de 7 anos e é inspirado em factos da sua vida. Publicado pela Asa e vencedor do Prémio de Literatura da União Europeia, o romance encontra-se traduzido para 30 línguas.
Este livro (publicado pela ASA) inicia uma saga em 5 volumes das Crónicas da Família Cazalet.
Entre os anos 30 e 50, conta-se a história das três gerações desta família «tão grande e chegada, com todos os seus costumes e tradições e piadas» (p. 94).
O primeiro volume começa com as férias de Verão de 1937, em que a família se reúne na sua casa de campo no Sussex. Os irmãos Hugh, Edward e Rupert com as suas mulheres e filhos, a irmã solteira Rachel e os pais.
A escrita é estranhamente actual e ligeira, bastante aditiva, que nos leva a folhear rapidamente as páginas, enquanto lemos os eventos descritos entre os adultos e as crianças, entre a aristocracia e a criadagem, num ritmo voraz. A autora contudo nasceu em 1923, trabalhou como modelo e actriz antes de se tornar romancista. Kingsley Amis foi o seu terceiro marido.
Consta que está a ser realizada uma série da BBC em cinco temporadas. Ou que já foi realizada…?
Entre os anos 30 e 50, conta-se a história das três gerações desta família «tão grande e chegada, com todos os seus costumes e tradições e piadas» (p. 94).
O primeiro volume começa com as férias de Verão de 1937, em que a família se reúne na sua casa de campo no Sussex. Os irmãos Hugh, Edward e Rupert com as suas mulheres e filhos, a irmã solteira Rachel e os pais.
A escrita é estranhamente actual e ligeira, bastante aditiva, que nos leva a folhear rapidamente as páginas, enquanto lemos os eventos descritos entre os adultos e as crianças, entre a aristocracia e a criadagem, num ritmo voraz. A autora contudo nasceu em 1923, trabalhou como modelo e actriz antes de se tornar romancista. Kingsley Amis foi o seu terceiro marido.
Consta que está a ser realizada uma série da BBC em cinco temporadas. Ou que já foi realizada…?
O Deus das Pequenas Coisas
Arundhati Roy nasceu em Shilong, na Índia, em 1959, estudou Arquitectura em Deli, onde vive actualmente. Foi autora de guiões para séries televisivas e filmes, e estreou-se na ficção com O Deus das Pequenas Coisas em 1997, publicado entre nós pelas Edições Asa em 1998. Essa obra constituiu um acontecimento literário, tendo sido traduzida para 42 línguas, vendido 8 milhões de exemplares por todo o mundo e, só em Portugal, 80 mil exemplares. O livro constitui um marco da ficção pós-colonial e fez de Arundhati Roy a primeira autora indiana a vencer o Booker Prize, nesse ano de 1997, tendo sido comparada a autores como Salman Rushdie e Gabriel García Márquez. Desde aí, a autora publicou algumas obras de não ficção, incluindo os ensaios O Fim da Imaginação (1999) e Pelo Bem Comum (2001), ambos publicados pela ASA. Existe ainda uma obra, O Perfil do Monstro (2010), publicada pela Bertrand, que reúne conversas com a autora. Arundhati Roy, que chegou a estar presa, destacou-se como activista política contra a globalização, a industrialização, as armas nucleares, e foram-lhe atribuídos prémios humanitários como o Woman of Peace em 2003 e o Sydney Peace Prize em 2004.
Depois de um interregno de 20 anos, chegou às livrarias no dia 6 de Junho o segundo romance da autora, O Ministério da Felicidade Suprema. Esta obra foi publicada uma vez mais pela ASA numa edição simultânea com a edição inglesa, enquanto estão já a ser preparadas traduções para outras 29 línguas.
Em O Deus das Pequenas Coisas narrava-se a história de três gerações de uma família de Kerala, no sul da Índia, com especial enfoque nos gémeos Estha e Rahel, nascidos em 1962.
O «subcontinente indiano»
Neste O Ministério da Felicidade Suprema a narrativa é mais dispersa, como se pode ler na contracapa, como forma de dar a conhecer o «subcontinente indiano» na sua diversidade e diferença, desde «os bairros superlotados da Velha Deli e os centros comerciais reluzentes da nova metrópole às montanhas e os vales de Caxemira». As personagens são várias, também para dar ideia desse mosaico em que muitas vezes as histórias puxam outras histórias e uma personagem que entra em cena traz sempre a sua biografia. Pode mesmo ler-se a certa altura que «As pessoas – comunidades, castas, raças e até países – carregam as suas histórias trágicas e os seus infortúnios como se fossem troféus, ou ações para comprar e vender no mercado livre. Infelizmente, e falando por mim, nesse aspeto não tenho acções para negociar, sou um homem sem tragédias. Da casta superior, um opressor de casta superior, visto de todos os ângulos.» (p. 210). As personagens centrais são Garson Hobart, que nos fala aqui como a voz do Estado mas também como um resistente, ou Tilottama, com o seu triângulo amoroso em que ama um homem, casa-se com outro e cuja história é sobretudo contada por outro. Mas é com a história de Anjum que se inicia a narrativa, o quarto de cinco filhos, pelo menos segundo anuncia a parteira quando deposita a criança nos braços da mãe que apenas no dia seguinte ao explorar o corpinho da criança à luz do dia descobre «aninhada por baixo das partes masculinas, uma parte pequena e mal formada mas indubitavelmente feminina» (p. 17).
Ensaio político?
A autora proferiu em entrevista que não tinha intenção de fazer desta obra que foi nascendo gradualmente um ensaio político, mas perpassa pelo texto uma intenção de denúncia onde se faz uma revisão crítica dos últimos 20 anos da história da «Mãe Índia – uma deusa de muitos braços» (p. 113). Ou, como se pode ler noutro sítio, dessa Índia que não devia pertencer «aos punjabis, biharis, guzerates, madrasis, muçulmanos, sikhs, hindus, cristãos, mas sim a estas belas criaturas… pavões, elefantes, tigres, ursos…» (p. 183).
Tilo na sua ocupação de estenógrafa pode ser considerada um alter ego da autora: «tirava fotografias estranhas. Escrevia coisas estranhas. Recolhia fragmentos de histórias e recordações inexplicáveis que pareciam não ter qualquer finalidade. O seu interesse não parecia ter um padrão ou tema. Não tinha uma tarefa definido, um projeto. Não estava em reportagem para uma revista ou jornal, não estava a escrever um livro nem a fazer um filme. Não prestava atenção a coisas que a maioria das pessoas consideraria importante. Com os anos, este seu arquivo peculiar e desconexo tornou-se particularmente perigoso. Era um arquivo de coisas recuperadas, não de uma inundação, mas de outro tipo de desastre.» (p. 287). A certa altura, declara-se mesmo como, numa história semelhante a esta, existe «demasiado sangue para dar boa literatura» (p. 300).
Com especial ênfase na luta pela independência de Caxemira, tudo é entretecido e filtrado por um crivo crítico nesta imensa tapeçaria que desdobra a realidade indiana, da globalização à poluição: «Parou numa ponte e viu um homem a remar uma jangada circular, construída com velhas garrafas de água e bidões de plástico, pelo rio espesso, lento e imundo. Búfalos afundavam-se ditosamente nas águas negras. No passeio, vendedores ambulantes vendiam melões suculentos e pepinos verdes e lisos, cultivados com efluentes fabris puros.» (p. 125). O humor e a ironia são muitas vezes a arma utilizada para a denúncia social, como na passagem: «A vantagem da casa de hóspedes no cemitério era que, ao contrário de todos os outros bairros da cidade, incluindo os mais elegantes, não sofria cortes de energia. Nem mesmo no verão. Isto porque Anjum roubava a electricidade à morgue da cidade, onde os cadáveres precisavam de refrigeração vinte e quatro horas por dia. (Os pobres da cidade, que ali jaziam no esplendor do ar condicionado, nunca tinham vivido em condições semelhantes enquanto eram vivos.)» (p. 79). Ou quando Anjum é notificada pelas autoridades municipais de que não pode viver no cemitério, ao que ela responde «que não estava a viver no cemitério, mas sim a morrer – e para isso não precisava de autorização do município porque tinha autorização do Todo-Poderoso.» (p. 78).
Retratar uma pluralidade
A instabilidade e o fervilhar político, religioso e social, estão sempre latentes. Note-se como quando se escreve sobre Bhopal, onde o desastre ambiental de 1984 é evocado, se refere que «A normalidade, no nosso lado do mundo, é parecida com um ovo cozido; a superfície monótona esconde, no coração uma gema de violência absoluta. É a nossa ansiedade constante com essa violência, a nossa memória das suas obras passadas e o temor das suas manifestações futuras, que estabelecem as regras para que pessoas tão diversas e complexas como nós mesmas possam continuar a coexistir – a viver juntos, a tolerarmo-nos uns aos outros e, de vez em quando, a assassinarmo-nos uns aos outros… Desde que o centro se aguente, desde que a gema não se desfaça, está tudo bem. Em momentos de crise, ajuda ter uma perspetiva de longo prazo.» (p. 165). Tal como Anjum coexiste com os seus dois eus…
Anjum pelo seu hibridismo, note-se como a personagem possui duas vozes «separadas mas unidas, uma rouca, outra profunda e distinta» (p. 131), revela-se, mais do que um transsexual, uma personalidade bipartida em permanente conflito, personificando as várias vozes em permanente conflito da Índia: «Ele, um revolucionário preso na mente de um contabilista. Ela, uma mulher presa no corpo de um homem. Ele, furioso com um mundo no qual o deve e o haver não batiam certo. Ela, furiosa com as suas glândulas, os seus órgãos, a sua pele, a textura do seu cabelo, a largura dos seus ombros, o timbre da sua voz. (…) Ele que acreditava estar sempre certo. Ela, que sabia que estava errada, sempre errada. Ele, reduzido pelas suas certezas. Ela, ampliada pela sua ambiguidade.» (p. 135).
Se em tempos Salman Rushdie teve de fugir ao Paquistão, não é difícil crer que este romance irá perturbar muita gente na Índia. «Os exóticos não condiziam com a imagem da Nova Índia – uma potência nuclear e um destino emergente das finanças internacionais.» (p. 49). Podemos incluir entre os exóticos o/a fascinante Anjum, dada a excentricidade da sua dupla condição bem como a sua posição ex-cêntrica/periférica quando se decide instalar no cemitério da cidade, onde estende um tapete persa entre duas campas para dormir. É nesse cemitério que se reúne uma conglomeração de exilados, quase todos alienados e sem família. E, especialmente perto do fim, sente-se na escrita da autora todo o exotismo da sua primeira obra, conforme uma atmosfera que tem sido considerada como realismo mágico se vai impondo.
Comecei ontem o último livro deste autor nascido em Newark em 1947, que nos encanta há 30 anos e depois de um interregno de 7 anos lança-nos agora esta obra magna. Esta obra, publicada pela ASA, é ambiciosa não só pelo tamanho, pois é constituída por 870 páginas de letrinha miudinha e sem bonecos, mas igualmente pela complexidade, ao narrar em 7 partes 4 caminhos alternativos para a vida de Archibald Isaac Ferguson, e pelo cuidado em narrar em simultâneo com os passos da personagem a História da América. Com o mote na contracapa «O que nos motiva verdadeiramente? O que nos leva a optar por um caminho em detrimento de outro? De que futuros abdicamos pelo simples facto de termos apenas uma vida para viver?», esta obra lembra Vida após Vida, de Kate Atkinson, que segue uma premissa idêntica, ou talvez tenham visto o filme Instantes Decisivos, com Gwyneth Paltrow, onde tudo se resumia a ela ter ou não conseguido apanhar o metro, momento em que a sua vida se bifurcou.
Cada parte do livro, depois do primeiro capítulo, 1.0, é constituída por 4 capítulos alternativos, até que já perto do final temos capítulos em branco, isto é, não-capítulos, como o 7.2 ou o 7.3… Paul Auster vai mais longe nesta obra e mostra como a cada caminho de vida tomado pelo jovem Ferguson corresponde também uma natureza e relações distintas. O título 4321 soa a contagem decrescente, talvez para dar ênfase a que, afinal, apesar de aspirarmos a várias vidas (e a ficção dá-nos tantas mais) temos apenas uma vida…
É curioso que Ferguson tenha nascido no mesmo ano que o autor, o que reforça, na minha leitura, aspectos que me parecem autobiográficos, como por exemplo o cuidado em enumerar todas as leituras feitas e os álbuns ouvidos pelo jovem Archie. Todas as 4 vidas de Ferguson giram em torno de um eixo comum, o amor pela mesma mulher, Amy Schneiderman (a obra é dedicada a Siri Hustvedt, a esposa do autor, também escritora).
Apesar do tamanho da obra a verdade é que há muito tempo não mergulhava tão facilmente num livro ou me sentia tão próximo de um protagonista, pelo que estas 870 páginas devoram-se rapidamente. Paul Auster revela-se um exímio contador de histórias, mesmo quando não se narra mais que o quotidiano banal de uma vida comum.
Cada parte do livro, depois do primeiro capítulo, 1.0, é constituída por 4 capítulos alternativos, até que já perto do final temos capítulos em branco, isto é, não-capítulos, como o 7.2 ou o 7.3… Paul Auster vai mais longe nesta obra e mostra como a cada caminho de vida tomado pelo jovem Ferguson corresponde também uma natureza e relações distintas. O título 4321 soa a contagem decrescente, talvez para dar ênfase a que, afinal, apesar de aspirarmos a várias vidas (e a ficção dá-nos tantas mais) temos apenas uma vida…
É curioso que Ferguson tenha nascido no mesmo ano que o autor, o que reforça, na minha leitura, aspectos que me parecem autobiográficos, como por exemplo o cuidado em enumerar todas as leituras feitas e os álbuns ouvidos pelo jovem Archie. Todas as 4 vidas de Ferguson giram em torno de um eixo comum, o amor pela mesma mulher, Amy Schneiderman (a obra é dedicada a Siri Hustvedt, a esposa do autor, também escritora).
Apesar do tamanho da obra a verdade é que há muito tempo não mergulhava tão facilmente num livro ou me sentia tão próximo de um protagonista, pelo que estas 870 páginas devoram-se rapidamente. Paul Auster revela-se um exímio contador de histórias, mesmo quando não se narra mais que o quotidiano banal de uma vida comum.
Este mês de Junho pode ser assinalado por dois grandes romances. O regresso de Arundhati Roy com O Ministério da Felicidade Suprema, vinte anos depois de O Deus das pequenas coisas (obra por que me encantei logo quando saiu tinha eu uns 18 anos, nomeadamente pela forma como brincava com a linguagem enquanto me enfeitiçava numa travessia por um dos países que mais me fascina até hoje e ainda não pude conhecer). E também a tão aguardada tradução de Swing Time, a última obra de Zadie Smith, autora de Dentes Brancos (para quando uma reedição?) e Uma questão de beleza. Deixo para já apenas a sensação de me estar a perder numa míriade de histórias dentro de histórias, em rocambolescas espirais tergiversais à história de Anjum, um homem-mulher que para dormir estende um tapete persa entre duas campas do cemitério.
Abaixo fica o texto da nota de imprensa da editora para divulgação da obra:
«Vinte anos após o enorme sucesso de O Deus das Pequenas Coisas, vencedor do Booker Prize, surge o tão aguardado segundo romance de Arundhati Roy. O Ministério da Felicidade Suprema publicado pela ASA/LeYa a 6 de junho, em lançamento mundial simultâneo com as edições de língua inglesa.
O regresso de Arundhati Roy à ficção, após duas décadas de interregno, tem sido destacado pela imprensa internacional como o acontecimento literário do ano. O Ministério da Felicidade Suprema é um dos mais aguardados romances da história recente da literatura, estando já a ser traduzido para 29 línguas.
O Ministério da Felicidade Suprema é uma viagem íntima pelo subcontinente indiano, desde os bairros superlotados da Velha Deli e os centros comerciais reluzentes da nova metrópole às montanhas e os vales de Caxemira, com um elenco glorioso de personagens inesquecíveis, apanhadas pela maré da História, todas elas em busca de um porto seguro. Contada num sussurro, num grito, com lágrimas e gargalhadas, é uma história de amor e ao mesmo tempo uma provocação. Os seus heróis, presentes e defuntos, humanos e animais, são almas que o mundo quebrou e que o amor curou.
Os primeiros ecos da crítica internacional ao novo romance de Arundhati Roy têm sido unânimes ao elogiarem a escrita profundamente literária da autora, o que já lhe valeu comparações com Gabriel García Márquez e Salman Rushdie.
Para a Booklist, “O segundo romance de Arundhati Roy é a sua segunda obra-prima. A escritora junta-se a Charles Dickens, Gabriel García Márquez e Salman Rushdie ao contar histórias com tanta magia e humanidade.” E segundo a Kirkus Review “O novo romance de Arundhati Roy lembra Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, uma história que, como esta, começa e acaba com a morte. Mas há outros ecos, que incluem uma subtil piscadela de olho a Salman Rushdie, na medida em que ambos constroem universos em que os personagens atravessam barreiras étnicas, religiosas e de género, em busca da felicidade suprema mencionada no título.”
Nascida em 1959, na Índia, Arundhati Roy escreveu o seu primeiro romance em 1997. O Deus das Pequenas Coisas fez dela a primeira escritora de nacionalidade indiana a receber o Booker Prize e transformou-se num clássico da literatura moderna, num dos livros mais amados e aclamados da atualidade e num dos mais mediáticos de sempre. O romance foi traduzido para 42 línguas e vendeu mais de oito milhões de exemplares em todo o mundo. Só em Portugal, vendeu oitenta mil exemplares.
Seguiu-se um interregno durante o qual a escritora escreveu várias obras de não ficção, incluindo os ensaios O Fim da Imaginação e Pelo Bem Comum, e dedicou-se ao ativismo contra a globalização, a proliferação de armas nucleares e a industrialização, tendo sido distinguida com diversos galardões, com destaque para o Woman of Peace, nos Global Exchange Human Rights Awards em 2003, e o Sydney Peace Prize em 2004. Atualmente vive em Deli.»
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