Submersos, de Bruno Patino, foi agora publicado pela Gradiva, com tradução de Pedro Elói Duarte. Com o subtítulo «Como recuperar a liberdade num mundo demasiado cheio?», este é um ensaio essencial, atual, pessoal e oportuno que desenha uma saída possível. O peixe vermelho, que somos nós, incapazes de reter a atenção por mais de meros segundos, sobre o qual Bruno Patino dissertou no seu anterior livro, A Civilização do Peixe Vermelho, foi tragado por um imparável dilúvio de ícones, textos, imagens, sons. Estamos agora na era da submersão. Ver artigo
A Civilização do Peixe-Vermelho – Como peixes vermelhos presos aos ecrãs dos nossos smartphones, de Bruno Patino, publicado pela Gradiva, é um breve tratado sobre o mercado da atenção que se lê no equivalente a duas horas de deriva pelas redes sociais. Da autoria do director do canal Arte France e da escola de jornalismo do Instituto de Estudos Políticos de Paris, condensa em 117 páginas alguns dados assustadores que nos ajudam a tomar consciência da nossa relação com os smartphones. Os peixes que em criança colocávamos num aquário têm uma curta memória, cuja atenção dura 8 segundos. Depois disso, o seu «universo mental reinicia-se» e a repetição transforma-se em novidade. No caso do homem, o attention span resume-se a 9 segundos.
«Vivemos no mundo dos drogados da conexão estroboscópica.» (p. 14)
Estima-se que 30 minutos é o tempo máximo adequado de exposição às redes sociais, e à Internet em geral, sem que a nossa saúde mental fique comprometida.
«O nosso inferno diário somos nós mesmos. Sem descanso possível, repletos de dopamina, mantemo-nos constantemente despertos.» (p. 30)
A Universidade de Oxford tentou fazer um cálculo entre o tempo livre disponível para cada indíviduo e o acesso à informação, cultura e entretenimento, mas a oferta é hoje infinita. E contudo, com um sentimento crescente de culpa, conforme sentimos o tempo a esvair-se, numa era em que temos tudo para ganhar mais tempo de vida e mais tempo na vida, o nosso cérebro funciona num círculo vicioso, enquanto passamos em revista todas as notificações do nosso telefone, quase sempre assim que acordamos: «De dois em dois minutos, 30 vezes por hora de vigília, uma vez a cada três horas de sono, 542 vezes por dia, 198 mil vezes por ano» (p. 18). Nos Estados Unidos, um jovem passa 5 horas e meia ligado a algum dispositivo digital e mais de 8 horas frente a um ecrã de computador; 22 % dos jovens (entre os 22 e os 30 anos) não têm qualquer actividade académica ou profissional.
«A vertigem provocada pela nossa separação das ferramentas conectadas e respectivas aplicações é um objecto de laboratório, tal como a necessidade compulsiva de responder às solicitações digitais que nos invadem os ecrãs.» (p. 24)
Vivemos numa era de reflexos e condicionamentos, em que o nosso tempo e os nossos dados são espiados, controlados e manipulados pelos GAFAM (os gigantes da Web: Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft). Se renunciarmos durante algum tempo ao Facebook, este automaticamente lança um alerta de que há já algum tempo que não publicamos nada e os nossos amigos querem saber de nós… Se bem que, pelo menos no caso do iphone, já somos notificados todos os domingos, mediante um relatório semanal, da média de horas que dispendemos nas redes sociais durante essa semana. Se assistimos a uma série na Netflix, nem sequer precisamos de decidir se veremos um episódio mais, pois esta plataforma automaticamente passa ao capítulo seguinte, deixando-nos num transe de dependência e de «frustração associada à visualização incompleta» (p. 29). Quando uma criança é confrontada desde tenra idade com estímulos visuais e auditivos (como quando lhes colocamos um ecrã em frente para que ela se silencie a ver os desenhos animados enquanto come), instalar-se-á depois uma «fadiga decisória» e «abandona a luta contra o prazer imediato originada pela reacção a um estímulo eléctrico» (p. 27), por isso é perfeitamente natural que nos anos vindouros não pegue num livro…
«Dependência dos ecrãs, extremismo do debate público, polarização do espaço público, reflexos que se sobrepõem à reflexão, a ágora transformada em arena: assim é a nossa época. É o melhor e o pior dos tempos.» (p. 38)
«Vivemos no mundo dos drogados da conexão estroboscópica.» (p. 14)
Estima-se que 30 minutos é o tempo máximo adequado de exposição às redes sociais, e à Internet em geral, sem que a nossa saúde mental fique comprometida.
«O nosso inferno diário somos nós mesmos. Sem descanso possível, repletos de dopamina, mantemo-nos constantemente despertos.» (p. 30)
A Universidade de Oxford tentou fazer um cálculo entre o tempo livre disponível para cada indíviduo e o acesso à informação, cultura e entretenimento, mas a oferta é hoje infinita. E contudo, com um sentimento crescente de culpa, conforme sentimos o tempo a esvair-se, numa era em que temos tudo para ganhar mais tempo de vida e mais tempo na vida, o nosso cérebro funciona num círculo vicioso, enquanto passamos em revista todas as notificações do nosso telefone, quase sempre assim que acordamos: «De dois em dois minutos, 30 vezes por hora de vigília, uma vez a cada três horas de sono, 542 vezes por dia, 198 mil vezes por ano» (p. 18). Nos Estados Unidos, um jovem passa 5 horas e meia ligado a algum dispositivo digital e mais de 8 horas frente a um ecrã de computador; 22 % dos jovens (entre os 22 e os 30 anos) não têm qualquer actividade académica ou profissional.
«A vertigem provocada pela nossa separação das ferramentas conectadas e respectivas aplicações é um objecto de laboratório, tal como a necessidade compulsiva de responder às solicitações digitais que nos invadem os ecrãs.» (p. 24)
Vivemos numa era de reflexos e condicionamentos, em que o nosso tempo e os nossos dados são espiados, controlados e manipulados pelos GAFAM (os gigantes da Web: Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft). Se renunciarmos durante algum tempo ao Facebook, este automaticamente lança um alerta de que há já algum tempo que não publicamos nada e os nossos amigos querem saber de nós… Se bem que, pelo menos no caso do iphone, já somos notificados todos os domingos, mediante um relatório semanal, da média de horas que dispendemos nas redes sociais durante essa semana. Se assistimos a uma série na Netflix, nem sequer precisamos de decidir se veremos um episódio mais, pois esta plataforma automaticamente passa ao capítulo seguinte, deixando-nos num transe de dependência e de «frustração associada à visualização incompleta» (p. 29). Quando uma criança é confrontada desde tenra idade com estímulos visuais e auditivos (como quando lhes colocamos um ecrã em frente para que ela se silencie a ver os desenhos animados enquanto come), instalar-se-á depois uma «fadiga decisória» e «abandona a luta contra o prazer imediato originada pela reacção a um estímulo eléctrico» (p. 27), por isso é perfeitamente natural que nos anos vindouros não pegue num livro…
«Dependência dos ecrãs, extremismo do debate público, polarização do espaço público, reflexos que se sobrepõem à reflexão, a ágora transformada em arena: assim é a nossa época. É o melhor e o pior dos tempos.» (p. 38)
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