Pequeno e Precioso. O Cavalo-marinho, texto de Joana Bértholo e ilustrações de Mariana Malhão, editado pela Imprensa Nacional, com design e direcção de arte do Pato Lógico, é uma edição solidária que integra a coleção «Espécies Ameaçadas».

A história do Hipo (diminutivo de Hippocampus, nome científico de uma parte da família dos cavalos-marinhos) leva-nos numa fantástica viagem desde a Ria Formosa até ao mar alto, onde este cavalo-marinho se perde. O pequeno Hipo, personagem imaginada pela Joana Bértholo e pela Mariana Malhão, tem de perceber como regressar a casa, às águas quentes e rasas da Ria, mas também descobrir afinal o que define a sua identidade, à medida que os outros animais marítimos o confrontam com a sua delicada estranheza. A narrativa da aventura do Hipo alterna com diversos pormenores científicos, em jeito de pergunta-resposta, que enriquecem o texto, e educam miúdos e graúdos. Uma nota para as divertidas e inteligentes analogias entre o cavalo-marinho e a sua amiga estrela-do-mar, que se sente igualmente deslocada, ou para o encontro entre o cavalo e o cavalo-marinho. Até que o Hipo perceba decididamente quem é e não se envergonhe de quão única é a sua natureza, que o permite inclusive ser quase invisível e camuflar-se como o camaleão, e em que os machos são quem transporta a bolsa com centenas de cavalos-marinhos (o parto é uma pequena maravilha da natureza).

É possível encontrar cavalos-marinhos um pouco por todo o mundo. Em Portugal as duas espécies registadas encontram-se a sul, nas penínsulas arenosas da Ria Formosa, desde a praia do Ancão até à praia de Manta-Rota, passando por Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Sto. António. Há 30 anos não era incomum, quando a maré vazava, poder encontrar estes pequenos e belíssimos seres com a sua cauda preênsil (o que é praticamente único entre as espécies marítimas) enrolada em algas ou corais, o que lhes permite descansar sem ter de nadar. A Ria Formosa era aliás o refúgio de uma das maiores populações de Hippocampus gutullatus no mundo inteiro. Hoje infelizmente encontram-se na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza. Antigamente havia mais de um milhão de espécimes, e estima-se que hoje rondem os 155 mil…

Todos os anos são capturadas mundialmente 50 toneladas de cavalos-marinhos, maioritariamente para uso na medicina tradicional chinesa. Outros fatores para a extinção são a captura destes animais, devido à sua beleza e natureza única, como ornamentos, ou a poluição sonora e a passagem inconsequente de barcos de recreio por zonas de ervas marinhas.

Entre uma série de projetos e iniciativas que visam salvar esta espécie, destaca-se a criação em cativeiro. O Grupo de Investigação em Biologia Pesqueira e Hidroecologia do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) realizou um trabalho pioneiro, ao conseguir com sucesso a reprodução em cativeiro do cavalo-marinho de focinho comprido, pela primeira vez a nível mundial, com uma taxa elevada de sobrevivência. Inclusivamente já tiveram trinetos…

Joana Bértholo afirma: «Foi uma sorte ser convidada a escrever sobre um ser tão peculiar. Além de me ter divertido a escrever, aprendi imenso: não sabia que alguns cavalos-marinhos podem atingir 30 cm! Senti orgulho do sotavento algarvio ter um papel tão importante na preservação de cavalos-marinhos. A minha família materna é algarvia. Entristece-me que as suas riquezas sejam afuniladas pelo turismo. Foi bom descobrir o quanto a Ria Formosa é uma pérola de valor incalculável. Um tesouro que o sul nos reserva e que é urgente preservar.»

Pequeno e Precioso. O Cavalo-marinho faz parte da coleção «Espécies Ameaçadas». A sobrecapa do livro, como é usual, desdobra-se num mapa-mundo que localiza as várias espécies de cavalos-marinhos. Esta é uma edição solidária que inclui também moedas comemorativas, cunhadas pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda. A moeda do Hipo foi ilustrada pela Catarina Sobral, outra autora do Pato, e está disponível por 5 Euros. Parte do valor do livro e da moeda reverte a favor do Fundo Ambiental.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.