A segunda obra de Eleanor Catton, Os Luminares, publicada pela Bertrand Editora, confirmou o seu talento ficcional, que arriscou com um livro denso de 888 páginas, cuja originalidade foi reconhecida com o Man Booker Prize 2013, e faz de si a mais jovem autora de sempre a receber o prémio, ao que acresce que o prémio foi conferido ao romance mais extenso até à data.
Numa noite de tempestade, para realçar desde logo o ambiente de mistério, um jovem de Edimburgo, Walter Moody, entra no primeiro hotel que lhe aparece assim que desembarca da sua viagem até à cidade de Hokitika, na Nova Zelândia. É curioso notar como ao tentar guiar-se pelas estrelas, o jovem descobre que o céu agora lhe aparece invertido, com as constelações fora do seu lugar habitual, o que acentua todo o sentimento de estranheza em que se vê mergulhado bem como do que se seguirá. Apesar de abalado pelo incidente sobrenatural que presenciou no barco, aperceber-se-á que interrompeu uma reunião entre 12 homens que estão, eles próprios, a tentar deslindar o seu próprio mistério, cujo segredo cruza peças tão díspares como uma prostituta, um traficante de ópio, um jovem misteriosamente desaparecido, uma fortuna desaparecida e a, até então, desconhecida viúva de um eremita, também vidente.
Os Luminares situa-se, ao jeito pós-moderno, entre géneros, pois tem tanto de romance policial como de romance histórico, e arrisca a vários níveis: inovador pelo tema, com um mistério por resolver no século XIX; pelo número extenso de personagens, pois em torno desse mistério agrupa-se o destino desses 12 personagens, desde europeus a chineses, passando por uma personagem Maori, o que serve para definir a variedade intercultural desse novo mundo; pela estrutura que lembra a dos romances vitorianos, com pequenos resumos dos acontecimentos centrais de cada capítulo a abrir o mesmo; pela divisão do livro em várias secções, novamente em doze, bem como pelo tratamento sequencial da intriga, que no final, é contada de trás para a frente, em capitulos cada vez mais curtos, dado o conhecimento prévio que o leitor tem do que já leu e cujas peças começam finalmente a fazer sentido; e pela novidade da introdução de cartas astrológicas a abrir cada secção do romance, onde há inclusivamente a referência da posição dos planetas nas respectivas casas.
Um desafio a não perder e ainda vai a tempo de ler o livro antes de ver a série da HBO com a grande Eva Green (já a adorava ainda antes de Penny Dreadful!
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