A segunda obra de Eleanor Catton, Os Luminares, publicada pela Bertrand Editora, confirmou o seu talento ficcional, que arriscou com um livro denso de 888 páginas, cuja originalidade foi reconhecida com o Man Booker Prize 2013, e faz de si a mais jovem autora de sempre a receber o prémio, ao que acresce que o prémio foi conferido ao romance mais extenso até à data. Ver artigo
Sete Casas Vazias, de Samanta Schweblin, da Elsinore, é um pequeno livro de contos, tão breves quanto tensos, deixando o leitor com o coração na boca. Sete contos, a condizer com o título, que pouco parecem ter em comum, não fosse o vazio destas personagens, confinadas às suas pequenas casas, enredadas nos seus muros de insegurança. Mas mesmo entre quatro paredes, nessas casas onde «com apenas três passos largos atravesso a sala, saio de casa e fecho a porta» (p. 112), estas personagens, mulheres, raramente se sentem seguras. Nessas sete casas vazias, despidas de sentimento, apesar dos objectos, dos móveis, das estantes e louceiros arrumados nos seus lugares, atravancando as vidas de quem ali dorme. Quarenta centímetros quadrados de espaço para viver, pois quando as casas são demasiado grandes perde-se o controlo sobre elas, essas casas despojadas de emoções e vibrações humanas, onde a vida é absorvida numa voragem e se cava um abismo profundo como a morte. Vidas vazias de quem não tem sequer alguém para quem morrer, de seres cuja existência nem enche uma caixa. Essas habitações vivas com a sua própria respiração, onde o vazio ressoa como um vácuo e ameaça tragá-las: «ouviu um som rouco atrás de si. Silencioso, mas percetível para ela, que estava alerta e conhecia o seu espaço. Voltou a ouvi-lo, desta vez vinha do teto, e ouviu outra vez, muito mais perto, rodeando-a totalmente. Ia e vinha, como um ronco áspero e profundo, como a respiração de um grande animal dentro de casa.» (p. 87) O seu estado, esse «insólito estado de alerta» (p. 112) que atravessa as personagens, é também o sentimento com que o leitor vira as páginas, quase a medo, pois predomina, conto a conto, um «receio que alguma coisa se quebre irremediavelmente» (p. 117). Sete narrativas cuja intriga é sempre enigmática, insólita, quase nunca clarificada.
Samanta Schweblin, cujos livros de contos e romances estão publicados na Elsinore, nasceu na Argentina, em 1978, e é uma das vozes mais originais da literatura contemporânea em língua espanhola. Sete Casas Vazias e Pássaros na Boca (2018) venceram prémios internacionais como Casa de las Américas e Juan Rulfo, e em 2017 esteve entre os finalistas para o Prémio Internacional Man Booker com o romance «Distância de Segurança» (2017), a ser adaptado a série pela Netflix. Ver artigo
Pesquisar:
Subscrição
Artigos recentes
Categorias
Arquivo
- Maio 2022
- Abril 2022
- Março 2022
- Fevereiro 2022
- Janeiro 2022
- Dezembro 2021
- Novembro 2021
- Outubro 2021
- Setembro 2021
- Agosto 2021
- Julho 2021
- Junho 2021
- Maio 2021
- Abril 2021
- Março 2021
- Fevereiro 2021
- Janeiro 2021
- Dezembro 2020
- Novembro 2020
- Outubro 2020
- Setembro 2020
- Agosto 2020
- Julho 2020
- Junho 2020
- Maio 2020
- Abril 2020
- Março 2020
- Fevereiro 2020
- Janeiro 2020
- Dezembro 2019
- Novembro 2019
- Outubro 2019
- Setembro 2019
- Agosto 2019
- Julho 2019
- Junho 2019
- Maio 2019
- Abril 2019
- Março 2019
- Fevereiro 2019
- Janeiro 2019
- Dezembro 2018
- Novembro 2018
- Outubro 2018
- Setembro 2018
- Agosto 2018
- Julho 2018
- Junho 2018
- Maio 2018
- Abril 2018
- Março 2018
- Fevereiro 2018
- Janeiro 2018
- Dezembro 2017
- Novembro 2017
- Outubro 2017
- Setembro 2017
- Agosto 2017
- Julho 2017
- Junho 2017
- Maio 2017
- Abril 2017
- Março 2017
- Fevereiro 2017
- Janeiro 2017
- Dezembro 2016
- Novembro 2016
- Outubro 2016
Etiquetas
Alfaguara
Ana Teresa Pereira
Antígona
ASA
Bertrand
Bertrand Editora
Caminho
casa das Letras
Cavalo de Ferro
Companhia das Letras
Dom Quixote
Editorial Presença
Edições Tinta-da-china
Elena Ferrante
Elsinore
Fábula
Gradiva
Haruki Murakami
Hélia Correia
Isabel Allende
Isabel Rio Novo
José Eduardo Agualusa
João de Melo
Juliet Marillier
Kate Atkinson
Kazuo Ishiguro
Leya
Livros do Brasil
Lídia Jorge
Margaret Atwood
Minotauro
New York Times
Patrícia Reis
Pergaminho
Planeta
Porto Editora
Publicações Dom Quixote
Quetzal
Relógio d'Água
Relógio d’Água
Saída de Emergência
Série
Temas e Debates
Teorema
Tânia Ganho