Kazuo Ishiguro, publicado pela Gradiva e Prémio Nobel de Literatura em 2017, nasceu em Nagasáqui, Japão, em 1954, e vive na Grã-Bretanha desde os 5 anos. De toda a sua obra, Os Inconsolados é muito provavelmente a obra mais complexa e desafiante, podendo ser lido como uma metáfora sobre a vida.
Mr. Ryder é o convidado ardentemente esperado para dar um concerto numa cidade inominada, que pode ser em qualquer ponto da Europa, mas mais provavelmente algures na Alemanha. Sem programa, e com uma memória dúbia do que realmente está ali a fazer, o leitor vai captando o desenrolar da narrativa através da perspectiva amnésica desta personagem, e só gradualmente vamos percebendo que afinal Mr. Ryder, um ilustre maestro, está de regresso àquela que é a sua cidade-natal. As personagens com quem se vai cruzando, e que nunca dá mostras de reconhecer, acabam por se revelar amigos de infância. Nem mesmo quando encontra a mulher e o filho se Ryder demonstra sentir qualquer reconhecimento inicial.
Um livro intrigante, quase kafkiano, até pela forma labiríntica como vamos passando de uma situação para outra, e uma porta leva sempre a um sítio inesperado, como se num edifício desembocassem várias realidades paralelas, com uma natureza que tem tanto de sonho como da ilógica própria de Alice no País das Maravilhas (como quando num enterro a viúva pede que arranjem alguma coisa para servir o chá e os presentes começam a vasculhar os bolsos).
Um tributo à música e à arte. Uma reflexão sobre a vida. Um livro com mais de 400 páginas que se torna desafiante, mas igualmente intrigante, cativando o leitor que vai tentando desfiar o fio desse labirinto por onde o maestro se parece perder ao longo de três dias em que está de regresso à sua cidade-natal, onde irá ser a estrela de um importante concerto ao mesmo tempo que parece imbuído da missão de ajudar a comunidade a reencontrar a verdadeira arte.
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