Montevideu é o novo romance de Enrique Vila-Matas, publicado pela Dom Quixote, com tradução de José Teixeira de Aguilar. Um dos maiores escritores espanhóis, como este livro confirma e bem, considerado um dos melhores romances do ano passado em Espanha, segundo o jornal El Mundo.
O livro divide-se por vários locais, como Paris, Cascais, Montevideu, Reiquiavique (uma breve passagem literária) e Bogotá. O narrador é um escritor – nunca identificado – de Barcelona que, depois de escrever o fragmento «Paris», a que corresponde a primeira parte do livro (em cerca de 60 páginas), enfrenta um bloqueio criativo que se estenderá, afinal, ao longo de todo o livro – que o leitor tem em mãos.
Um bloqueio que é, afinal, um possível sintoma de uma síndrome que o próprio narrador parece ter conjurado sobre si, quando se pôs a lançar “arremetidas contra o narrável, contra o narrativo, contra os enredos” (p. 67). Ao bloqueio segue-se ainda a morte de um familiar próximo.
Conforme nos dá conta do seu périplo por várias cidades, como por exemplo quando é convidado para o festival de cinema de Lisboa pelo produtor Paulo Branco, o narrador vai desfiando uma série de histórias cómicas, caricatas, de encontros e desencontros com outros escritores. Simultaneamente vê nascer em si uma obsessão com portas escondidas por armários e em quartos contíguos, uma imagem que recorda de um conto de Cortázar.
Um livro delirante, cheio de senhas de entradas para outros livros, pleno de citações e referências. Será arriscado dizer que há de facto uma intriga, porque na verdade o autor nos leva por um labirinto, um jogo de espelhos, onde entra a metaficção, a análise literária, a paródia, recheando o livro aqui e ali de reflexões sobre a vida e a literatura. Por exemplo, quando rejeita o rótulo de autoficção, afirmando que esta “não existe, porque tudo é autoficcional, visto que aquilo que se escreve vem sempre de nós mesmos; até a Bíblia é autoficção, porque começa com alguém a criar alguma coisa)” (p. 50). No fim deste livro, fica no leitor a inquietação de como como afinal é arriscado querer definir a literatura pela verossimilhança quando a própria vida é cheia de ambiguidades e acasos – em que um escritor procura ver sinais em tudo, chegando a confundir pessoas com personagens, da mesma forma que ao viver já está a pensar como pode contar no papel aquilo que vive.
“Sobre um bom romance, disse eu, não há nada a acrescentar por parte do autor, nada para contar (…) se o escritor fez bem o seu trabalho, e o facto de assim ser sempre deve-se a que a própria escrita do romance já é uma explicação de algo que sucedeu na vida ou na mente do narrador; algo que exigia ser posto em palavras” (p. 187)
Enrique Vila-Matas (Barcelona, 1948) é um dos mais consagrados escritores espanhóis da atualidade. Traduzido em 36 línguas, da sua vasta obra destacam-se História Abreviada da Literatura Portátil, Suicídios Exemplares, Filhos sem Filhos, Bartleby & Companhia, O Mal de Montano, Doutor Pasavento, Paris nunca Se Acaba, Exploradores do Abismo, Diário Volúvel, Dublinesca, Chet Baker Pensa na Sua Arte, Ar de Dylan, Kassel não Convida à Lógica, Marienbad Eléctrico, Mac e o Seu Contratempo e Esta Bruma Insensata. Cavaleiro da Legião de Honra francesa, recebeu os mais importantes prémios literários, entre os quais o Prémio FIL, o Prémio Rómulo Gallegos, o Prix Médicis Étranger, o Prémio Nacional de Cultura da Catalunha, o Prémio da Real Academia Espanhola e o Prix du Meilleur Livre Étranger.
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