Filhos da Chuva é o romance de estreia de Álvaro Curia, publicado pela Manuscrito.

Em Domínio, a chuva não tem fim e todos os relógios pararam nas cinco da tarde. Numa terra sem tempo, as pessoas vivem em horários desencontrados, num reino onde é impossível saber se é dia ou noite.

Muda percorre as ruas, carregada de sacos, distribuindo as compras aos habitantes de Domínio. O facto de não poder falar não lhe retira a capacidade de conhecer bem os hábitos de cada um. O seu momento alto do dia é quando se cruza com o filho, Amor, um jovem esbelto, atlético, aprisionado numa fábula que o padrasto lhe conta desde pequeno, inventada para explicar quem foi o seu pai. O padrasto é um homem obeso e disforme, confinado à sua cama; um homem que mal come, mas da fama não se livra.

Ao largo de Domínio está a Ilha da Fortaleza, onde encontramos Mãe, mulher possessiva, que nunca deixou o seu Filho conhecer o mundo. Quanto mais ele manifesta intenção de partir e conhecer o mundo de que a mãe o protege e priva, mais ela lhe pede que ele volte a entrar no seu útero, pois só aí ficará seguro.

Um primeiro romance onde o domínio da escrita e o trabalho sobre a linguagem lembra autores como Valter Hugo Mãe. Uma prosa poética, oralizante, experimental – onde não se entra facilmente, e depois entranha-se. Uma narração que atravessa o limbo do realismo mágico e nos leva para domínios mais próximos da fantasia. As próprias personagens são muitas vezes alegorizações, como os seus nomes indicam.

Álvaro Curia é filho de mãe brasileira e pai português, diz-se de nacionalidade atlântica com coração portuense. Trabalhou na RTP2, no JN e na Greenpeace, em Amesterdão.

Doutorado em História, ensina cultura e língua portuguesas a estrangeiros, na Universidade do Porto e na Universidade Fernando Pessoa.

Com o seu namorado Ludgero Cardoso, fundou em 2019 o «Literacidades», conta no Instagram que é uma referência, com conteúdos de promoção de hábitos de leitura e divulgação literária, com mais de 20 mil seguidores.

Álvaro Curia gosta de temperaturas acima de 40 graus, de São Paulo, de Sevilha e de Lucca, e dos seus três cães: Oliver, Lídia e Lucas.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.