Empúsio é o primeiro romance da autora polaca de Olga Tokarczuk, após a atribuição do Prémio Nobel de Literatura em 2019. A tradução é de Teresa Fernandes Swiatkiewicz.

Celebrada como uma das melhores escritoras europeias da actualidade, é autora de oito romances e de três volumes de contos. Este é o quarto romance publicado por cá. A autora, publicada pela Cavalo de Ferro, nasceu em Sulechów, uma pequena cidade polaca, em 1962.

Empúsio resulta da amálgama linguística entre Empusa, figura mitológica grega, e Simpósio. Empusa, criatura menos conhecida da mitologia grega, apresenta-se como uma bela mulher, capaz de subitamente revelar uma aparência assustadora, este demónio alimentava-se de sangue e carne humanos. A crença nesta criatura é ainda relatada noutras culturas da região mediterrânea; na Fenícia os pastores atribuíam-lhe a culpa pelo desaparecimento dos seus animais. Embora não figure em mitos e lendas, a Empusa é conhecida por aparecer em As Rãs de Aristófanes.

O título também remete para Simpósio, pois esta obra pode ser lida como um diálogo com a grande tradição literária europeia, em particular A Montanha Mágica, de Thomas Mann.

Setembro de 1913. Mieczyslaw Wojnicz, estudante de Engenharia de Lviv, chega à cidade termal de Görbersdorf, na Baixa Silésia, sede de um dos mais famosos sanatórios da Europa e do mundo. É aqui, no sopé das montanhas, onde se respira o melhor dos ares, que espera – pensa-se primeiramente – curar a sua tuberculose. No decorrer da acção, no entanto, perceberemos por alusões subtis que, na verdade, Mieczyslaw Wojnicz espera tornar-se ali o homem que o pai espera dele.

Na hospedaria cruza-se com outros cavalheiros, doentes oriundos de Viena, Königsberg, Breslau e Berlim, uns mais débeis outros mais másculos. Os dias decorrem sem grande novidade, entre métodos inovadores de cura da tuberculose, passeios pela montanha e localidades vizinhas, refeições em grupo e serões de animada discussão, em torno de um cálice do retemperante e enigmático licor Schwärmerei (com um sabor térreo que lembra cogumelos). Esses simpósios versam a natureza do mundo, de Deus, a política, mas sobretudo o papel das mulheres que é exaustivamente dissecado por estes homens – ao longo de um romance onde estas praticamente não entram, e que inicia ironicamente com um suicídio de uma mulher. A autora esclarece, aliás, numa nota final que todas as teorias apresentadas sobre o papel inferior da mulher resultam da leitura de autores – homens, claro está.

Entretanto, e a subverter o que parecia ser um romance de época, correm notícias preocupantes de corpos mutilados, homens sem vida encontrados na floresta, num estranho fenómeno que parece causado por forças obscuras e intemporais.

Um romance fantástico – nas várias acepções da palavra -, com uma criatividade genial e de leitura viciante.

Olga Tokarczuk recebeu por duas vezes o mais importante prémio literário do seu país, o Prémio Nike. Em 2018, foi finalista do Prémio Femina Estrangeiro e vencedora do Prémio Internacional Booker, com Viagens. Os seus livros estão traduzidos em mais de trinta línguas. Em 2019, foi distinguida pela Academia Sueca com o Prémio Nobel de Literatura pela sua «imaginação narrativa, que com uma paixão enciclopédica representa o cruzamento de fronteiras como forma de vida».

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.