Elogio do Amor, de Alain Badiou e Nicolas Truong, publicado pela Edições 70, chancela das Edições Almedina, é aquilo que o próprio título revela: uma elegia do amor. E cumprindo o espírito dos primórdios da filosofia, conforme aos diálogos socráticos, este elogio ao amor surgiu sob a forma de uma conversa pública, pois o texto do livro reelabora o discurso do autor proferido em Julho de 2008, no âmbito do Teatro das Ideias, um ciclo de encontros intelectuais e filosóficos do Festival de Avinhão. A discussão filosófica aqui reproduzida corre com a espontaneidade e clareza de um diálogo entre amigos, e bebe da energia complexa e profunda de uma conversa que brota entre a mente de dois intelectuais: Alain Badiou, licenciado em Filosofia, um dos fundadores da Faculdade de Filosofia da Universidade de Paris VIII com Gilles Deleuze, Michel Foucault e Jean François Lyotard, e Nicolas Truong, interrogador-sábio e jornalista (dirige a secção «Ideias – debates» do jornal Le Monde), e organizador do Teatro das Ideias.
Alain Badiou cita Platão, defendendo que «quem não começar pelo amor nunca saberá o que é a filosofia», até porque, como se sabe, o sentido etimológico da palavra Filosofia é amor à sabedoria.
A definição de amor permanece fugidia e ilusória. Curiosamente, a conversa do autor inicia pela noção enganosa de que seja possível um amor seguro, sem riscos, como acontece com certas redes sociais que prometem a união perfeita entre pessoas com o mínimo de dor e de desilusão. O autor defende então como o amor vive do acaso e de encontros fortuitos, sendo «aquilo que dá intensidade e significado à vida» (p. 16), pelo que uma pesquisa cuidadosa na internet em demanda do parceiro perfeito é tão passível de resultar como quando um país anuncia uma guerra sem mortos. Parece extrema a comparação entre amor e guerra (ainda que não seja inédita), mas para este filósofo compete também à filosofia manter a necessidade de um amor em que o risco e a aventura se reinventam, pois só isso traz sentido à vida e à milagrosa união entre duas pessoas. Se a sexualidade é egoista e solitária – mesmo que implique vislumbrar no corpo do outro a ideia do Belo –, o amor concentra-se sobretudo nesse outro, tal como ele nos aparece, invadindo-nos o ser, reformulando e subvertendo a nossa vida: «o que é o mundo quando o experienciamos a partir de dois e não a partir de um? O que é o mundo, analisado, praticado e vivido a partir da diferença e não a partir da identidade?» (p. 29)

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.