Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento, de Marina Colasanti
Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento, de Marina Colasanti, publicado pela Tinta-da-china (com o apoio do Instituto Guimarães Rosa), é o mais recente título a integrar a colecção Pererê.
«A língua pode ser uma cor. A língua pode ser uma festa. A língua que cá brinca à apanhada e lá brinca de pega‑pega é a mesma aqui e acolá, e cresce como uma roda gigante sempre que a deixamos girar.»
Está lançado o mote para esta colecção, lançada numa parceria com o jornal Público, que publica em Portugal os maiores clássicos da literatura infanto‑juvenil brasileira. Uma série que abriu justamente com Flicts, um livro dedicado à cor – aqui apresentado -, que nos relembra como o português é uma língua composta por muitas outras línguas, e que se reveste de muitos outros tons e melodias.
Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento reúne 13 contos escritos e ilustrados por Marina Colasanti. São contos breves que bebem dos contos de fadas conferindo-lhes um toque de modernidade. Por estas várias histórias perpassa sobretudo o tema da identidade e do papel da mulher, mesmo nos contos em que é um homem o protagonista.
O primeiro conto, que aqui destacamos, é talvez o mais emblemático da prosa desta autora. «A Moça tecelã» parte da mitologia própria dos contos de fadas, ao mesmo tempo que se inspira na mitologia clássica, reevocando tecedeiras como Penélope, que bordava para matar o tempo, Clio, a deusa que tecia a História na sua tapeçaria, ou até Branca, personagem de Lídia Jorge em O Dia dos Prodígios, a quem o marido impõe que borde um dragão – que se torna também o seu carcereiro.
Esta jovem moça que adorava tecer, e tecer era tudo o que sabia, a certa altura sente um anseio de companhia… Ao tecer, ela dá vida à realidade, pelo que acaba por tecer para si um marido. Um marido que ao perceber o condão da mulher, de que tudo pode criar com as suas artes de tecedeira, de um palácio a filhos, rapidamente confirma a velha expressão de “Cuidado com aquilo que desejas”.
Um livro de contos que se contam rápido, num ritmo encantatório que logo se torna vertiginoso, e que muitas vezes escondem um negrume indefinível, pois neles palpitam os nossos desejos e medos subliminares, os anseios que tantas vezes habitam o nosso inconsciente, essa «coisa intemporal», como afirma a autora
Este livro que, num tempo que é cada vez mais veloz, recuperam o encantamento interior dos contos de fadas — e aquela capacidade que eles têm de revelar os desejos e medos que tantas vezes habitam o nosso inconsciente, essa «coisa intemporal», como afirma a autora. As personagens de Marina Colasanti até podem habitar lugares e tempos distantes, mas buscam, como se fosse aqui e agora, a liberdade, a justiça, o amor, o sonho e a própria identidade.
Marina Colasanti (1937, Asmara) é escritora, tradutora, jornalista e artista plástica. Nasceu em Asmara, actual capital da Eritreia, passou parte da infância na Líbia e em Itália, e emigrou para o Brasil com a família em 1948, vivendo no Rio de Janeiro desde então. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes, fez gravura em metal e trabalhou na imprensa como editora e cronista. Apesar de ser mais reconhecida pelos títulos infanto-juvenis — área em que já foi distinguida com inúmeros prémios, como o da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil ou o Jabuti —, os mais de 70 livros que publicou incluem ainda poesia, contos e crónicas. Traduziu dezenas de livros para português, nomeadamente autores como Alberto Moravia, Giovanni Papini ou Carlo Collodi. Em 2023, pelo conjunto da sua obra, tornou-se a primeira mulher a vencer o Prémio Machado de Assis, atribuído pela Academia Brasileira de Letras.
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