Café Filosófico. O som do pensamento, de Maria João Neves, foi agora publicado pela Sereia Editora. A apresentação do livro será dia 16 de Dezembro, no AP Maria Nova Lounge Hotel (Lobby Bar) em Tavira, pelas 20h00.

Este livro é uma selecção dos artigos publicados pela autora no Caderno de Artes Cultura.Sul entre 2015 e 2022.  O prefácio é da autoria de Adriana Freire Nogueira, que declara como “Somos uns privilegiados, no Algarve, por podermos participar nos Cafés Filosóficos promovidos, há vários anos, por Maria João Neves. Porque esta modalidade de prática filosófica, iniciada na última década do séc. XX (mas com inspiração na antiguidade), não é comum em Portugal.” (pág. 2)

Podemos ainda fazer eco das palavras de Adriana Freire Nogueira quando afirma que os textos de Maria João Neves, “agora reunidos nesta seleção, são artigos despretensiosos, dirigidos a um público abrangente, onde se percebe o propósito de levar o leitor a questionar, a argumentar, a querer saber mais.” (pág. 2)

Na Introdução, assinada pelo Professor Doutor Jon Borowicz, podemos ler como o primeiro Café Filosófico (café-philo), no Café des Phares em Paris, foi estabelecido em 1992 pelo filósofo francês Marc Sautet: “Democrático, mas rigoroso, o café-philo surgiu para proporcionar às pessoas a oportunidade de considerar ideias sérias num espírito de solidariedade intelectual. Hoje os cafés filosóficos podem ser encontrados em todo o mundo, existindo uma enorme variedade de abordagens que reflectem a diversidade cultural. O que une esses esforços é a paixão pela filosofia. Dada a formidável dificuldade de pensar em conjunto, os participantes dos cafés filosóficos cultivam a capacidade de ouvir e formular os seus pensamentos de forma cuidadosa.” (pp. 9-10)

A autora do livro apresenta os seus 3 pilares: o pensamento de “razão poética de María Zambrano” (pág. 15); o budismo e a prática regular de meditação desde há mais de uma década; e o seu trabalho como instrutora de yoga vinyasa flow, desde 2012, e depois de yoga aéreo, profissão que exerce a par da sua investigação filosófica.

Por isso, nestes vários ensaios, a autora demonstra uma sólida formação académica em filosofia e artes, e simultaneamente oferece-nos cafés filosóficos tão variados quanto a sua experiência, formação e apetências. Como afirma Jon Borowicz, “Os textos deste volume refletem a rica diversidade de experiências e interesses desta filósofa dedicada à prática filosófica.” (pág. 10)

Num dos seus ensaios, provocadoramente intitulado «Os estóicos praticavam mindfulness?», Maria João Neves alerta-nos como este aparente ecletismo não é propriamente novo: “Somos herdeiros de distintas escolas filosóficas e algumas delas, para espanto de muitos, incluem exercícios espirituais.” (pág. 46)

Estas dissertações são igualmente imbuídas de um certo sincretismo, fazendo reviver a tradição e a história da filosofia, à luz dos nossos dias, por exemplo, quando se passa do caos algarvio dos meses de Verão para os ginásios dos jovens gregos, das dietas radicais e milagrosas para a ginástica da mente e do corpo. Não se pense, contudo, que estes são textos ligeiros. Leve é, na verdade, a forma como a autora consegue tratar temas sérios. Acresce que, muitas vezes, a ensaísta não advoga certezas ou arroga conhecimento (não obstante as referências variadas à literatura e às artes). Antes opta por tecer as suas reflexões em torno de profusas questões (isto é, interrogações retóricas) que interpelam o leitor, como podemos ver em, por exemplo, «Sobre o Amor»: “Diz-se da paixão que é irresistível. Será assim realmente? Será a paixão uma droga que coloca o indivíduo à sua mercê, perdendo o seu livre-arbítrio? Por esse motivo tudo se justifica? Por esta razão tudo se desculpa?” (pág. 70)

Café Filosófico resulta de uma antologia de cerca de 70 breves textos. Estes repartem-se mais ou menos livremente por afinidades temáticas em sete secções, intituladas «Corpo e Mente», «Amor e Prazer», «Inquietudes», «Pandemia», «Bem Viver», «Arte» e «Nós & Outros».

Maria João Neves é doutorada em filosofia contemporânea (2002) com uma tese sobre o pensamento de María Zambrano. Única neste campo por aliar o treino fenomenológico a um conhecimento profundo das disciplinas do corpo, é igualmente instrutora de yoga e praticante de meditação.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.