Numa Londres alternativa nos anos 1980, quando Margaret Thatcher comete a imprudência de uma desastrosa guerra territorial pelas Ilhas Falkland, Charlie Friend usa as suas poupanças – que dariam para comprar um apartamento – num exemplar de um primeiro lote de seres humanos sintéticos, isto é, um robot com aspecto perfeitamente humano e inteligência artificial, que pode inclusive desempenhar funções de brinquedo sexual vivo, e sugestivamente designado como Adão. Charlie talvez preferisse uma Eva, mas estavam esgotadas…
«Quanto à autonomia, conseguia correr dezassete quilómetros em duas horas sem precisar de ser recarregado ou, com um consumo equivalente de energia, conversar ininterruptamente durante doze dias. Tinha uma vida útil de vinte anos. Era corpulento, de ombros direitos, pele escura, cabelo preto espesso penteado para trás; a cara era estreita, com um nariz ligeiramente adunco a sugerir uma inteligência sólida, uns olhos pensativos» (p. 12)
Ian McEwan, um dos mais importantes autores britânicos, depois do irreverente Numa Casca de Noz em que coloca um embrião a meditar sobre a Inglaterra em fase Brexit, continua a meditar sobre o futuro da raça humana nestes tempos conturbados em que a tecnologia ameaça (?) ultrapassar a inteligência humana. Ver artigo
Michel Houellebecq é provavelmente dos autores franceses mais lidos e mais polémicos dos últimos tempos. Nascido na Ilha Reunião, em 1956, tem a sua obra publicada em Portugal pela Alfaguara e está traduzido em mais de quarenta línguas. Venceu em 2010 o Prémio Goncourt com O mapa e o território e este ano foi condecorado com a Legião de Honra, coincidentemente com a publicação do seu mais recente romance, Serotonina – título familiar, e infelizmente actual, para quem já se viu confrontado com a triste notícia de que o seu sistema endócrino não está a produzir serotonina suficiente.
Florent-Claude Labrouste, funcionário do Ministério da Agriculta, de quarenta e seis anos, descontente com o seu nome próprio e com a vida em geral, é um cidadão vulgar e anódino, não fosse ter uma namorada japonesa mais nova de quem descobre uns vídeos pornográficos chocantes para o leitor comum… Numa fuga à sociedade em geral, o nosso anti-herói deixa a namorada, a casa, o emprego e passa a viver de quarto em quarto de hotel, movido a Captorix, um antidepressivo que, supostamente, deveria libertar serotonina. Mas as melhoras são poucas, apesar de ironicamente serem bem manifestos os efeitos secundários como a total inibição de desejo sexual e a disfunção eréctil, mesmo quando a dosagem excede o que seria aconselhável. Ou, por outro lado, talvez seja o Captorix que lhe permitirá ver sem paliativos a realidade desastrosa e desesperançada que se vive, com uma França e uma Europa que ameaçam ruir, num mundo todo ele às avessas.
Politicamente incorrecta, com afirmações imbuídas de machismo e chauvinismo, a prosa de Michel Houellebecq raia o pornográfico ao mesmo tempo que ainda assim disseca, igualmente sem freio na língua, a nossa realidade. Para dar um exemplo mais suave, leia-se a seguinte passagem quando o narrador aceita ficar numa casa sem internet:
«Respondi-lhe que já sabia, que já estava preparado para isso. Vi então passar-lhe pelos olhos um breve momento de temor. Não devem faltar os depressivos que se querem isolar, que querem passar uns meses nos bosques «para fazer um ponto de situação»; mas pessoas que aceitam ficar sem internet, sem pestanejar, por tempo indefinido é porque estão nas últimas, li-lhe no olhar ansioso.
– Não me vou suicidar – disse-lhe, com um sorriso que esperava desarmante, mas que na realidade devia ser suspeito. – Enfim, não agora – acrescentei, como concessão.» (p. 221) Ver artigo
Less, de Andrew Sean Greer, publicado em maio deste ano pela Quetzal, com tradução de Vasco Teles de Menezes, foi um dos livros sensação de 2017, vencedor do Pulitzer de Ficção, do Northern California Book Award, do Washington Post Best Book, bestseller do New York Times e recomendado como um dos melhores livros do ano pela The Paris Review ou America Library Association.
Arthur Less é, como o nome indicia, um homem menor, prestes a fazer cinquenta anos, em tempos o jovem parceiro de um génio literário, agora rejeitado pelo seu jovem amante, escritor aclamado pelo seu romance de estreia, é um homem tão discreto, apesar do seu fato de um azul lessiano (adjectivo que predomina ao longo do livro), que se torna apagado. Arthur Less, o nosso protagonista peripatético, com olhos cor de safira, magro e elegante, com laivos de herói pícaro, trapalhão e vítima de si próprio, é tão menor que até como homossexual parece dar mau nome aos seus amigos gay, por não ser “suficientemente gay”. Além de abandonado pelo amante, Less vê ainda o seu mais recente romance de Less rejeitado pela editora; curiosamente intitulado de Swift (como em Jonathan Swift), esse romance parece aliás reflectir a própria narrativa de Less: «um romance peripatético. Um homem a vaguear por São Francisco, e pelo seu passado, retornando a casa após uma série de reveses e desilusões («Só sabes escrever o Ulisses em versão gay», disse Freddy); um romance melancólico e pungente acerca da vida difícil de um homem. Da meia-idade falida e gay.» (p. 39)
Para contornar esta triste notícia, e para declinar com justa causa o convite para o casamento do seu ex-namorado com outro homem que não ele, Arthur Less decide embarcar numa viagem pelo mundo, em que uma série de convites sobrepostos – que um escritor mais afamado certamente recusaria – lhe permitirão viajar pelo México, por Itália, Alemanha, França, Marrocos, Índia e, por fim, Japão.
Tal como a personagem do seu primeiro romance, Kalipso, uma espécie de reescrita da Odisseia, em versão gay, em que um soldado dá por si numa ilha deserta e se apaixona por outro homem, até que volta para casa e para a mulher, Arthur Less terá as suas próprias peripécias ao longo das viagens que empreende. Apesar de ser visto como um homem distinto, de ar elegante e delicado, por aqueles com quem se cruza, Arthur não deixa de se comprazer na sua dor e na visão menor que tem de si próprio, que impossibilita aliás reconhecer que ainda há quem o veja como um grande autor… talvez por ter vivido largos anos sob a sombra de um génio poeta… e porque entende que aos cinquenta anos já ninguém se pode tornar mais apelativo… quando na verdade Less é ainda uma criança grande e inocente, capaz de se relacionar com o mundo sem consciência dos seus perigos… com azar nas coisas que não interessam e uma sorte pródiga nas que interessam.
«Pois ele já conheceu a genialidade. Já foi acordado pela genialidade a meio da noite, pelo som da genialidade a percorrer os corredores para trás e para a frente; já preparou café à genialidade, e o pequeno-almoço, e a sanduíche de presunto e o chá; já esteve nu ao lado da genialidade, impediu a genialidade de entrar em pânico com falinhas-mansas, foi buscar as calças da genialidade ao alfaiate e passou as camisas a ferro para um recital. Já apalpou cada pedacinho de pele da genialidade; já sentiu o cheiro e o toque da genialidade.» (p. 113)
Less, tal como o romance gorado de Arthur Less que ele acaba por decidir reescrever, nada tem afinal de melancólico, mas sim de risível, de enternecedor, e de revelador, em como o homem dá a volta ao mundo para descobrir o seu destino quando regressa à porta de casa. Sem que, de facto, o leitor consiga sentir tanta piedade pelo nosso herói como a compaixão que ele sente por si próprio, ao viver uma vida que é claramente melhor do que a de qualquer outra pessoa que possamos conhecer, inclusive a nossa… Ver artigo
Julian Barnes, nascido em 1946 e por três vezes finalista do Booker Prize, é um dos grandes autores da literatura inglesa, publicado pela Quetzal, cuja obra revela versatilidade, cruzando géneros e temas diversos de modo a chegar aos sentidos possíveis da vida, em romances sempre inesperados. Depois de O Ruído do Tempo, em que num romance próximo de um ensaio, explorava a vida de Shostakovich e a sua liberdade criativa sob o regime totalitário estalinista, o autor envereda agora por um tema mais próximo, o amor, mas sob a perspectiva de um jovem apaixonado por uma mulher mais velha. Nesta recriação da história de Mrs. Robinson – para quem conhece o filme A Primeira Noite (The Graduate), de 1967, com Dustin Hoffman que se envolve com uma mulher mais velha, interpretada por Anne Bancroft –, Paul Casey, um jovem de dezanove anos, conhece Susan, uma mulher de quarenta e oito anos, no clube de ténis, e de parceiros de ténis passarão gradualmente a companheiros de vida. Num envolvimento muito pouco disfarçado, o casal irá afrontar a boa moral inglesa dos subúrbios, numa época em que os termos cougar ou toy boy eram desconhecidos, e as únicas palavras eram «adúltera e mulher fácil».
Aperceber-nos-emos gradualmente que o narrador é um Paul muito mais velho, a relembrar o grande amor da sua juventude e da sua vida. O narrador, inicialmente na primeira pessoa e mais tarde oscilando entre a primeira e a terceira pessoa, alerta desde logo o leitor: «Entendem (espero) que estou a contar-vos tudo tal qual me lembro? Nunca tive um diário e a maior parte dos que participaram na minha história – minha história e minha vida – ou morreram ou estão longe. Por isso não registo necessariamente os factos pela ordem em que aconteceram. (…) A memória organiza e filtra, segundo as exigências que lhe são feitas por quem lembra. Podemos aceder ao algoritmo das suas prioridades? Provavelmente não.» (p. 29)
Neste belíssimo e sublime romance relembra-se o passado, sem o reconstruir, até porque no amor há uma única história. E todos têm ou tiveram já a sua história de amor, a que se torna única e verdadeira. Especialmente quando a única história é a primeira, que marca a vida para sempre e empalidece todos os futuros amores. Mesmo quando essa única história tem um desfecho infeliz. Ver artigo
O mais recente livro de Kazuo Ishiguro é, na verdade, a obra de estreia do autor japonês, publicada em 1982. A sua obra está publicada pela Gradiva e já aqui recenseámos outros livros do autor, todos eles completamente distintos, pelo que nunca sabemos onde a sua escrita nos conduz.
Etsuko é uma mulher japonesa que vive em Inglaterra, divorciada, com duas filhas de dois homens diferentes. Keiko, a sua filha mais velha, suicidou-se recentemente. E Niki, nascida em Inglaterra, vive com o namorado em Londres mas não tem qualquer intenção de se casar ou ter filhos. Niki tem aliás um nome que resulta de um acordo entre a mãe japonesa e o pai inglês, que insistia que a filha tivesse um nome japonês. Logo nesta informação, avançada nas primeiras linhas do romance, sente-se que a tradição parece aqui colocada em causa… e de facto, é isso que se sentirá ao longo do livro. Como transparece também na relação entre Jiro, o primeiro marido de Etsuko, que menospreza o pai em prol da sua ambição profissional, ou na amiga que vive obcecada com o americano que um dia poderá levá-la para a América, apesar de pressentir que não passa de uma ilusão e de lhe maltratar a filha.
Quando Niki visita a mãe durante os dias chuvosos e frios de Abril, em sequência do suícidio da irmã, a cujo enterro não compareceu, Etsuko dá por si numa retrospectiva dos primeiros tempos da sua gravidez, nos anos seguintes à destruição de Nagasáqui, em que continua presente o impacto da bomba na vida dos que sobreviveram, e revive as memórias da sua amizade com Sachiko, uma mulher que perdeu a sua fortuna e a sua boa posição devido à guerra e vive agora numa casa pobre, com uma filha rebelde e peculiar.
Kazuo Ishiguro viveu em Nagásaqui, sua cidade natal, durante 5 anos, antes de se mudar para Londres. Foi Prémio Nobel de Literatura em 2017. A sua escrita é, como sempre, cristalina e envolvente, e os seus enredos enigmáticos e ambíguos. O presente e o passado explorados na narrativa não parecem interligar-se cabalmente… mas há um enigma neste livro que pede para ser desvendado… contudo revelá-lo aqui seria estragar o prazer da vossa leitura. Ver artigo
Jonah Lehrer, editor da revista científica Seed, tirou uma dupla licenciatura em Neurociência e Inglês na Universidade de Columbia, foi bolseiro em Oxford, trabalhou no laboratório de Eric Kandel, Prémio Nobel de Medicina em 2000, na cozinha de dois dos mais conceituados restaurantes do mundo e colabora com várias revistas científicas. Publicou este livro com apenas 25 anos. Um misto de biografia, ensaio e escrita científica, em que o autor procura demonstrar como a arte antecipou a ciência, através da obra de 8 artistas. Começando por Walt Whitman, que não dissociava o corpo da alma, e terminando em Virginia Woolf, que instaura uma nova forma de romance ditada pelo livre curso da nossa própria consciência, o autor faz uma síntese da vida e obra destes artistas ao mesmo tempo que demonstra como a sua arte antecipou, por vezes, em quase um século, algumas das mais importantes descobertas da neurociência. Destaco, como não podia deixar de ser e fazendo juz ao título do livro, a obra de Marcel Proust (uma das mais importantes da literatura mundial e uma das minhas favoritas) que publicada em 1913 iria dissecar a forma como recordamos, pois a famosa madalena, feita de açúcar, farinha e manteiga, espoleta no narrador a rememoração de todo o seu passado ao longo de 7 volumes. E sabe-se hoje que Proust estava certo, pois está provado que o paladar e o olfacto são os únicos sentidos que se ligam directamente ao hipocampo, o centro da memória de longo prazo do cérebro. Como se sabe também que o acto de recordar altera a própria memória, como Proust faz com o sinal de Albertine, a sua “amada”, que ora surge no queixo, ora no lábio, ora na maçã do rosto… Nesse mesmo ano, também na cidade de Paris, estreia A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, cuja irreverência é vaiada e origina um motim, com direito a intervenção policial…
Jonah Lehrer apresenta-nos ainda como o chef francês Escoffier descobriu o quinto sabor, como Gertrude Stein descodificou a estrutura profunda da linguagem cinquenta anos antes de Chomsky, a forma como vemos com Paul Cézanne, e a biologia da liberdade com George Eliot. O autor demonstra como somos feito de matéria mas também de sonho e como a arte supera a ciência.
Esta obra foi publicada em 2009 pela editora Lua de Papel e encontra-se actualmente esgotada. Mas claro que nos podemos sempre valer das bibliotecas municipais. Ver artigo
Há uma forte convicção de que este livro é uma sequela de Cidade Aberta, não apenas por ter sido lido ou publicado depois, mas porque este narrador, sem nome, regressa à sua cidade natal de Lagos e pode ser perfeitamente identificado com Julius, o jovem médico que calcorreava a cidade de Nova Iorque como forma de reflexão e de desopressão do trabalho, ou, mais ainda, com o próprio autor, se não fosse pelo facto de Teju Cole ser filho de pais nigerianos mas ter nascido nos Estados Unidos. Tendo saído da Nigéria assim que conseguiu uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, o narrador começa a sua narrativa nas vésperas da sua viagem, quando se dirige ao consulado para obter o visto. Já aí se prenuncia o que se seguirá ao longo do seu regresso a Lagos, mesmo sob os cartazes em que se solicita: «Ajude-nos a combater a corrupção.»
Lagos é uma metrópole, nem sempre reconhecível para o narrador que reencontra familiares, amigos e locais da sua infância e juventude, onde o grande «lubrificante social» é o dinheiro que ajuda a mover as rodas da engrenagem burocrática ao mesmo tempo que mantém as hierarquias sociais no seu devido lugar (p. 26): todo o serviço tem o seu preço e requer a devida gratificação. Lagos é uma cidade de contrastes. Ao ver peças de arte nigeriana em museus em cidades como Londres, Paris e Berlim, o narrador ansiou por um regresso às suas origens, mas quando chega ao Museu Nacional a desolação é total, pois o seu conteúdo é parco e pouco representativo. Um professor local é pago com valores inferiores ao de um professor estrangeiro/branco. Não há monumento que assinale como o comércio de escravos era na ordem das dezenas de milhares e entre 1835 e 1840 atingiu o número de 135 000. A Nigéria é um dos maiores produtores de petróleo do mundo mas metade da cidade de Lagos, confrontada diariamente com cortes de energia, funciona com geradores e as áreas de serviço ou estão encerradas ou não têm combustível.
Um retrato cru e realista no que é uma das melhores representações ficcionais de África na actualidade. Ver artigo
Joanne Harris é uma escritora que passa sempre à frente das dezenas de livros que ameaçam fazer a minha cabeceira soçobrar… Este livro, publicado 20 anos depois de Chocolate, o primeiro livro que li da autora, mais ou menos quando saiu o filme, é um regresso ao universo mágico da pequena vila de Lansquenet-sous-Tannes, o que perfaz uma série de 4 romances – com Sapatos de Rebuçado e O Aroma das Especiarias. Todos os livros da autora – da série Chocolate e outros, inclusive infanto-juvenis – integram o catálogo das Edições ASA.
Vianne Rocher – e acho que é difícil dissociar a personagem de Juliette Binoche, actriz que a interpretou, como sempre acontece quando se vê uma adaptação de um livro ao cinema – continua a viver em Lansquenet-sous-Tannes onde mantém a sua chocolataria. Em tempos repudiada, é agora uma mulher respeitada e que, de forma subtil e imperceptível, continua a ajudar os habitantes da vila, através do cheiro enfeitiçante do chocolate quente que tem o condão de os fazer desoprimir-se do fardo que carregam, de segredos e de pecados erroneamente assumidos. Mas esta bruxa boa também carrega um segredo (…) Ver artigo
Este livro publicado pela Actual (Grupo Almedina) é um guia prático com respostas a um dos maiores desafios dos tempos que vivemos. Como nos focarmos no nosso trabalho, ou em qualquer tarefa que tenhamos em mãos sem sermos constantemente interrompidos, por dezenas de notificações de aplicações diferentes que vamos descarregando para o telefone, com telefonemas muitas vezes desnecessários, com chamadas para reuniões que não vão adiantar nada de produtivo, ou com o nosso próprio devaneio, e a convicção que conseguir realizar diferentes tarefas em simultâneo é sinónimo de produtividade.
Chris Bailey, autor também de O Projeto da Produtividade, divide este livro em duas partes, que correspondem a dois modos de atenção que podemos accionar na nossa mente quando queremos ser realmente produtivos. Na primeira parte, HiperFoco, que dá nome ao livro, o autor ajuda a identificar e lidar com distracções; criar um ambiente físico e mental ideal de trabalho; trabalhar mais em menos horas; estabelecer pausas estratégicas; evitar o multitasking e focarmo-nos no que realmente interessa (sabia que uma vez interrompidos levamos uma média de 20 a 30 minutos para realmente nos focarmos no que estávamos a fazer?)
Na segunda parte, contudo, o autor foca-se no DisperFoco, de modo a activarmos o modo criativo do nosso cérebro, pois é muitas vezes quando estamos justamente a fazer tudo menos trabalhar que nos ocorrem as melhores ideias e soluções (lembro-me de quando fiz a tese de mestrado e de doutoramento ter um bloco de notas, conselho avançado por Umberto Eco, pois as ideias mais incríveis surgiam nos momentos mais estranhos).
É um livro técnico, mas sucinto, com dicas úteis, e escrito com base na própria experiência e na investigação levada a cabo pelo autor, licenciado em Gestão, que publicou já centenas de artigos sobre produtividade. O seu trabalho obteve atenção de meios de comunicação tão distintos como o New York Times, a New Yorker ou a TED. Chris Bailey recusou lucrativas ofertas de emprego para viver durante um ano uma espécie de plano pessoal, em que estudou o impacto das suas práticas na qualidade e quantidade do seu próprio trabalho: cortou completamente na cafeína e açúcar; viveu em isolamento durante 10 dias; passou a usar o seu smartphone apenas uma hora por dia; ganhou 5 quilos de massa muscular; e acordava às 5h30 todas as manhãs ao longo de 3 meses (eu pessoalmente revejo-me muito aqui, pois funciono à base de energia solar). Ver artigo
Quando viajo gosto de levar comigo um livro de viagens relacionado com o destino de férias. Desta vez, apesar de haver diversos romances situados em Malta, não encontrei nenhum livro das colecções de viagens de editoras como a Relógio d’Água ou a Tinta da China. Mas houve uma amiga que em boa hora me aconselhou A Deusa Sentada, de Helena Marques.
Laura parte de Lisboa com a sua prima Matilde, oito anos mais nova, numa viagem de busca das suas raízes maltesas, pois diz-se que o avô André era originário de Malta, tendo casado em 1767. Mas acabam por encontrar muito mais do que isso.
A autora cruza locais distintos como a ilha da Madeira, Malta, Inglaterra e Portugal, numa retrospectiva histórica muito bem tecida, e justificada pelo passado das várias personagens que aqui se cruzam. Tão depressa lemos sobre os refugiados de Gibraltar em Junho de 1939 que encontraram no Funchal uma nova morada, como sobre Malta ter sido devastada durante a II Guerra, pelos olhos de personagens que o vivenciaram, com mais de mil toneladas de bombas em Fevereiro de 1942, ou mesmo sobre o 25 de Abril.
A autora apresenta informação histórica, mas sempre de uma forma muito bem conseguida, sem que pareça que está simplesmente a debitar dados como um guia de viagens ou um livro de história. Além disso, aborda-se ainda duas gerações distintas: Matilde, nascida em 1945, «da geração de sessenta, os das lutas universitárias, da resistência académica, e os outros, os franceses de Maio de 68 e os americanos que denunciaram a guerra do Vietname» e os outros, como Matilde, que eram muito novos para vivenciar a Revolução de Abril.
O livro fala-nos sobre as maravilhas naturais e culturais de Malta, lugar de chegadas e partidas, uma ilha onde várias raças se foram cruzando ao longo dos séculos e todos os povos mediterrânicos se miscigenaram, onde a pessoa com a pele mais morena pode revelar uns olhos de um azul meditrrerânico, como o mar que abraça a ilha, onde se fala uma língua derivada do fenício que soa áspera como o árabe mas em que o inglês, apesar de ser geralmente utilizado, dá lugar ao português, pois devido à presença italiana é bem possível que nos dirijamos a alguém em inglês (enquanto falamos em português com a pessoa ao nosso lado) para ele nos responder em italiano revelando que nos compreende claramente.
A prosa da autora corre como um rio e este livro lê-se muito muito bem. Ver artigo
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