Elena Varvello nasceu em Turim, em 1971. Publicou poesia e venceu os prémios Settembrini e Bagutta com o seu primeiro romance, publicado em 2011. A Vida Feliz publicado em 2016, venceu o English Pen Award, e foi agora traduzido e publicado pela Quetzal. Como se anuncia numa citação retirada do The Independent – «Vire a página Ferrante, há uma nova Elena na cidade» –, este romance não pretende de todo copiar esse modelo. O que se afigurava um romance de formação, cuja acção ocorre no Verão de 1978, decisivo na vida de Elia Furenti, sobre a sua juventude, a sua amizade com Stefano, a paixão pela mãe do amigo (uma bela mulher de 36 anos com má reputação em Ponte), rapidamente toma contornos de um thriller de Hitchcock ou de uma narrativa de Daphne du Maurier e dá lugar a mais de 200 páginas de tensão permanente, numa linguagem escorreita e concisa, em que os capítulos alternam entre a perspectiva do jovem Elia e a sua reconstrução, 30 anos depois, do que aconteceu nesse Verão.
«O vale estreito, uma mina de pirite abandonada, um rio serpenteante, cascatas, uma velha ponte de pedra numa garganta, outra dois caminhos acima dos rápidos do rio e bosques em toda a volta.» (p. 17)
Nesta aldeia isolada e idílica, um rapazinho surge assassinado numa mina abandonada. A jovem que trabalha na casa ao lado da de Elia desaparece no bosque. O pai é despedido de uma fábrica em falência e começa a evidenciar um comportamento estranho, os primeiros sinais de uma doença mental: «As coisas que amaste desaparecem no escuro. / Chegaste aonde estás. É o que te aconteceu, e não há forma de explicar isto.» (pág. 180)
Elia rapidamente lê os sinais, num gradual despojamento da sua própria inocência, enquanto a mãe continua em negação dos pecados do pai: «Durante aquele verão, cada um de nós os três manteve para si qualquer coisa, os seus segredos» (p. 53)
Um romance de cortar a respiração que se quer ler de um fôlego. Ver artigo
Um dos nomes maiores da literatura, Herman Hesse venceu o Prémio Nobel de Literatura em 1946 e assinala-se em 2019 o centenário da primeira das grandes obras do autor alemão, com este livro agora reeditado pela Dom Quixote.
Um romance de formação, onde se dá a conhecer a infância e juventude de Emil Sinclair, ao jeito de romances como Retrato do Artista quando Jovem, de James Joyce, As perturbações do Jovem Torless, de Robert Musil, ou Werther, de Goethe. Contudo, a narrativa de vida deste jovem burguês vai mais longe, conforme a sua existência é abalada pela ameaça de um jovem malfeitor, que o quer extorquir e manipular, e a sua alma é devassada por um conflito interno entre o mundo da ilusão – isto é, o real – e o mundo real – o da verdade espiritual. Irremediavelmente desadaptado da vida familiar, do conforto burguês, e cheio de perguntas, o nosso herói é salvo pela amizade de um novo aluno na sua escola de Latim, que se torna uma constante na sua vida, como um mentor, mesmo quando se separam por alguns anos. Max Demian tem um pensamento profundo e revolucionário, capaz de contestar as verdades mais inabaláveis, como a marca de Caim ser não um sinal físico mas uma qualidade espiritual que o distinguia e lhe conferia uma superioridade sobre os homens. Max Demian tem essa marca e é por a distinguir em Sinclair que se aproxima dele. E não é por acaso que o nome de Demian, sempre descrito de forma misteriosa, como um ser intemporal, pode ser lido como um sinónimo de Demónio, da mesma forma que a sua mãe se chama Eva. Quando na sua juventude Sinclair se torna um frequentador de tabernas e um alcoólico, numa orgia destruidora do ser, ainda que, curiosamente, mantenha a sua castidade intacta ao longo de todo o livro, o herói condensa em si a dualidade do ser humano mas também a crise de valores advinda da Primeira Guerra Mundial e o prenúncio de uma nova guerra que deflagra no final do romance. Ver artigo
Diário de viagens, ensaio antropológico e registo zoológico, onde não faltam fotos, as Aventuras de um Jovem Naturalista – As Expedições Zoológicas são contadas em 448 páginas de puro deleite, neste livro publicado pela Temas e Debates. David Attenborough está na sua sétima década de carreira televisiva e é uma voz inconfundível que acompanhou muitos de nós desde a tenra infância em que às manhãs de domingo de desenhos animados se seguiam os programas de vida animal. Estudou Ciências Naturais em Cambridge, começou a trabalhar na BBC em 1952 como produtor estagiário, até que aos 26 anos, com a sua licenciatura em zoologia e dois anos de experiência como produtor de televisão novato, concebe o plano de recolher animais, numa expedição conjunta organizada pela BBC e pelo Zoo de Londres, e filmar a sua captura e recolha, para por fim mostrá-los em estúdio. Em Março de 1955 parte para a Guiana Britânica e desde aí desenvolve o hábito de escrever as suas experiências nessas expedições, cujo relato das três primeiras nos chega agora, actualizado e abreviado, onde se encontram animais para todos os gostos (como uma pitão, uma preguiça, um tamanduá, uma cria de urso, um orangotango, dragões-de-komodo e tatus). Este método de captura de animais poderá parecer ultrapassado e gerar controvérsia no revisionismo constante que vivemos na actualidade, contudo o maravilhamento e o respeito do autor pela vida animal e pela sua preservação são inegáveis, bem como o interesse pelos povos que vai conhecendo e a importância da preservação do seu meio – se bem que, ao longo dos relatos, sentimos que a ocidentalização já tinha chegado, com maior ou menos impacto, às mais remotas comunidades visitadas. E curiosamente perceberemos como é comum estas pessoas terem animais domesticados, como as duas capivaras que foram criadas juntas com duas crianças e só entram no rio quando estão todos juntos.
Tão inconfundível quanto a voz de David Attenborough, é a ironia e sentido de humor que transparece nestas páginas que, a certa altura, se afigura uma recriação do episódio bíblico da Arca de Noé:
«A viagem de regresso pelo rio abaixo começou bem. Tínhamos construído uma caixa grande para o pecari com troncos finos de árvores jovens atados com tiras de casca, e colocámo-la na proa da canoa. Houdini [um porco] portou-se muito bem na primeira meia hora; o mutumporanga, de patas amarradas com um pedaço de fita, estava calmamente empoleirado na lona que cobria o nosso equipamento; as tartarugas passeavam pelo fundo da canoa, papagaios e araras guinchavam amigavelmente aos nossos ouvidos e os macacos-capuchinhos estavam sentados todos juntos numa caixa de madeira, catando afetuosamente o pelo uns dos outros.» (p. 98) Ver artigo
Em 1768 uma expedição deixou a Inglaterra sob o comando do capitão James Cook e regressou em 1771, depois de fazer o reconhecimento de várias ilhas do Pacífico e visitar a Austrália e a Nova Zelândia. Nos cem anos subsequentes, as terras mais férteis foram retiradas aos seus ocupantes, os aborígenes na Austrália e os maoris na Nova Zelândia, cuja população decresceu em 90 % e foram racialmente discriminados. Na Tasmânia, os nativos depois de viverem 10.000 anos em isolamento, foram completamente exterminados. Não sobrou ninguém. Mesmo depois de mortos, os seus corpos foram profanados e estudados por antropólogos e curadores de museus.
Neste magnífico novo romance, publicado pela Sextante, talvez um dos melhores da carreira de Peter Carey, autor nascido na Austrália que vive actualmente em Nova Iorque, duas vezes premiado com o Booker Prize, a intriga remonta a 1954, depois da Segunda Guerra Mundial portanto. Em capítulos alternados na primeira pessoa, entre Irene Bobs, a mulher de Titch, o melhor vendedor de carros do sudoeste da Austrália, e Willie Bachhuber, um jovem alemão, louro e bonito de 26 anos, em fuga à justiça, um mestre-escola suspenso, rato de biblioteca e vencedor (sem prémio) de um conhecido concurso radiofónico de cultura geral, o autor faz uma longa circunvolução na primeira parte do romance, isto é, em 160 páginas, o que constitui quase metade do livro. Percebemos, gradualmente, e conforme as personagens vão sendo despidas e reveladas na sua densidade psicológica, que a narrativa nos prepara para a eminente viagem em torno da Austrália, pois Titch quer a todo o custo entrar na Prova Redex Trial, ao ponto de convencer a mulher a juntar-se-lhe, para o poder controlar neste seu arroubo, se bem que ela própria percebe de carros e é boa condutora. E é também imediatamente antes da narração da viagem, uma corrida em volta do continente australiano à velocidade de 50 milhas por horas a que poucos carros sobrevivem, ficando atravessados na paisagem inóspita como carcaças, que percebemos afinal o segredo que Willie guarda. Note-se quando logo no início do romance ele se apresenta a Irene Bobs, sua vizinha: «Eu sou Willie Bachhuber, disse eu, porque a guerra tinha terminado há menos de dez anos e era melhor arrumar logo com a questão alemã.» (p. 20) Mas não é esse o segredo do nosso Willie, um jovem que fugiu à mulher e aos pais, a partir do momento em que o médico num esgar lhe mostra o filho, que nasceu negro e de cabelo preto.
Na última parte do romance, que se chama justamente «Uma bifurcação na estrada», temos 140 páginas de desfecho, em que a prova Redex – que primeiro serviu para apresentar o continente na sua magnitude e nos seus perigos, assim como o seu tecido social complexo e racista – é quase esquecida, conforme o romance dá uma guinada súbita para algo que foi sendo indiciado muito subtilmente, e apanha todos de surpresa, o leitor e a própria personagem que desconhecia as suas verdadeiras origens. Há pistas, naturalmente, como quando Irene Bobs encontra a caveira de uma criança na terra e tenta entregá-la às autoridades.
O narrador declarou em entrevista que há muito tempo que evitava abordar o tema do racismo, pois achava que não era essa a função de um escritor branco, mas neste seu décimo quarto romance, e o mais ousado, percebeu que não podia continuar a fugir à evidência de ser um escritor australiano branco beneficiário de um genocídio.
O final do romance tem alguma coisa de mito, e o próprio título ganha um sentido que vai além da corrida Redex, na forma como depois de descobrir a sua verdadeira origem étnica, aparentemente óbvia para todos os outros com que se confrontava, um mestiço (que se julgava branco) que em criança foi levado por uma águia passa a viver como um aborígene, enquanto procura preservar o legado cultural desse povo em extinção, a «registar a verdade e manter o segredo» (p. 396) e educar a geração mais nova de puros nativos.
«O meu pai pode ter sido, como tantos deram a entender, um bem-intencionado antropólogo amador abelhudo, mas era também um homem instruído e muito culto, um intelectual cuja alma tinha sido seriamente deformada devido à prática de limpeza étnica do seu país.» (p. 391) Ver artigo
Esta pequena pérola constituiu a estreia do poeta e crítico literário Eduardo Pitta na ficção, em 2000, e é publicada agora Dom Quixote nesta 3.ª reedição, a partir da revisão feita à 2.ª edição em 2007. Persona é, como o título indica, uma revisitação da memória pessoal do autor, pois há uma certa quota de autobiografia, e é uma «versão moderna de uma educação sentimental». Classificado como uma «trilogia de contos morais», este livro é, na verdade, um pequeno romance em que cada micronarrativa corresponde a uma fase de vida da mesma personagem. Afonso Sacadura, primeiro aos 12, depois aos 18, e na terceira e mais longa narrativa, como uma curta novela, aos 22, vive o seu coming of age, em que, ironicamente, o evento que parece determinar o início da sua infância ou inocência é quase idêntico ao que ocorre de novo em jovem adulto. Em 1962, Afonso é punido por ter tido relações contranatura com um colega. Apesar de Tiago ser 10 meses mais velho, mas por ser um jogador de basquete, um belo rapaz louro naturalmente masculino, a culpa recai inteiramente sobre Afonso, mais efeminado, conforme apontado pelo médico que o chama para examinação quando lhe pergunta porque é que ele cruza as pernas, «atitude tão pouco masculina» (p. 18). Esse mesmo psiquiatra que despe as calças e leva a mão de Afonso à sua braguilha, de onde retira o seu pénis erecto e sugere a Afonso que pense nele como um sorvete que pode ir lambendo e mordiscando gentilmente, para se poder avaliar a sua «capacidade de resposta» (p. 21). Este evento de assédio e culpabilização, que é rapidamente narrado, numa linguagem que tem tanto de estilizada como de crua e directa, pode ser esquecido rapidamente conforme passamos para o segundo conto, em que Afonso viaja pelo Kalahari em 1967 com Ralph, um típico sul-africano branco com ar de jogador de râguebi. Mas em Pesadelo, o último conto da trilogia, com 50 páginas, enquanto os outros rondam a dezena de páginas, Afonso parece reviver o episódio de antes, mas agora nas devidas proporções, em que se vê como arguido num auto colectivo sobre homossexualidade nos três ramos das Forças Armadas, no Moçambique de 1971, onde há muitos «tubarões» (p. 49) envolvidos, incluíndo um tenente-coronel e um capelão. É aí que Afonso descobre o nojo, quando se torna vítima de uma investigação descabida, que aliás convirá esquecer como se nunca tivesse acontecido, dirigida exclusivamente a homossexuais «suspeitos de pouca simpatia pelo regime» (p. 80), pois ao contrários dos heteros são «facilmente manobráveis» (p. 59), além de que se a FRELIMO visse uma foto do sargento com a boca cheia isso iria comprometer seriamente a guerra.
O que impressiona na escrita de Eduardo Pitta é que na vivência da sexualidade de Afonso, e dos que o rodeiam, não há cedência à vergonha nem ao pudor, até porque Afonso move-se no contexto social da alta burguesia onde os podres são imensos, independentemente da orientação sexual de cada um, pois também temos homens que em menos de 24 horas despacham em viagem, como se fossem bagagem, mulher e filhos para aproveitar uma nova paixão, e mulheres sobejamente conhecidas pelo seu apetite insaciável por jovens bem constituídos de 20 anos. Inclusivamente num mundo de etiqueta onde é sabido que «um homem não bebe Sauternes» (p. 74), a homossexualidade de Afonso parece não chocar ninguém na família, embora o pai considere tal como «um desporto arriscado» (p. 82).
Persona é uma narrativa ousada e corajosa em que se reconta os últimos anos da guerra colonial a partir da perspectiva de uma minoria, melhor dizendo, de uma perspectiva outra. Tal como escritoras mulheres escreveram sobre a guerra colonial na sua perspectiva íntima, pois mesmo não tendo participado activamente na guerra, em pleno combate, nem por isso a vivenciaram menos. Uma das cenas mais memoráveis (também exemplarmente ilustrada na adaptação cinematográfica da obra) é o tiroteio gratuito aos flamingos em A Costa dos Murmúrios, de Lídia Jorge, que aliás viveu em Moçambique nesse tempo, praticado pelos dois militares, como se de um desporto se tratasse, na presença das suas mulheres, Eva Lopo e Helena de Tróia (e repare-se na força simbólica destes dois nomes, associados quer ao mito, quer à guerra, quer ao princípio dos tempos). Eduardo Pitta, dizíamos, escreve agora numa perspectiva queer (para fazer uso de uma palavra já em desuso, ligada aos estudos de literatura gay) sobre o que significou ser homossexual em tempos de guerra e de tirania, ao mesmo tempo que, conforme se percebe na última frase, se prenuncia já o final dos tempos de então, com a queda de um Estado normativo e policiado, o término de uma guerra sem sentido, e a subsequente descolonização e liberdade. Ver artigo
Este pequeno livro de bolso da Bertrand Editora começa como um trabalho de metaficção, em que um argumentista, instalado numa casa de férias nos Alpes com a mulher e a filha de 4 anos, tenta escrever o argumento da sequela do seu filme de sucesso. Mas se de início a narrativa é perpassada por uma escrita que se pensa a si própria e onde não faltam referências a uma linguagem cinematográfica, com alguns fade in e flashback, a história começa rapidamente a transformar-se em mais do que a tentativa de escrita de um argumento muito imberbe, pois assemelha-se a um diário, organizado com entradas por datas, entre 2 a 7 de Dezembro de um ano qualquer. Pode até bem ser o caderno inacabado a que o escritor se refere, onde escreve os seus pensamentos, intercalado com as cenas e diálogos do argumento, e descreve alguém que parece transpôr o limiar da loucura.
Se de início o narrador, sempre sem nome, começa por dar conta de como o seu casamento parece estar em crise, com discussões constantes, e ele próprio parecer um pouco alienado e preferir isolar-se no seu próprio mundo, enquanto tenta dar mostras de progresso no trabalho, que na verdade pouco evolui, a partir de metade do livro a narrativa ganha contornos de um thriller psicológico. Curiosamente, assim que se sai do cenário da casa e o narrador vai até à aldeia para se reabastecer de provisões, uma mulher avisa-o: «Vá-se embora depressa.»
A partir daí o livro descende numa espiral de distorção do real. Os estranhos sonhos e pesadelos são recorrentes. A casa ganha quartos novos e outros há que mudam de lugar. No seu caderno aparecem palavras que ele não escreveu. As leis da geometria são abolidas. Os reflexos nas janelas surgem distorcidos em relação à realidade espelhada, pois não reflectem o escritor na sala. Fotografias aparecem e desaparecem das paredes. Outra pessoa parece andar pela casa. Ou talvez a dissociação entre escritor e pessoa seja tão forte que ele se começa a projectar a si próprio. E é pela escrita que ele tenta salvar-se e reencontrar-se:
«Escrevo muito depressa, anoto o que se passou. Tenho de escrever isso para não enlouquecer. Ou para o caso de qualquer coisa me acontecer.» (p. 63)
Daniel Kehlmann, alemão, é um dos escritores favoritos de Ian McEwan e de Jonathan Franzen. O livro está a ser adaptado ao cinema, numa produção e interpretação de Kevin Bacon. A sua obra A Medida do Mundo é um dos mais conhecidos bestseller da literatura alemã, traduzido para mais de quarenta línguas, e igualmente adaptado ao cinema.
Esta obra de Daniel Kehlmann foi adaptado ao cinema no ano de 2020 com o título idêntico, You Should Have Left, e conta com a interpretação de Kevin Bacon e de Amanda Seyfried. Ver artigo
Não é a primeira vez que sou desafiado para isto, mas tenho resistido. Contudo, aqui vai a minha resposta ao desafio, a quem interessar, mas feita à minha maneira.
Pensei primeiro em referir Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, pelo que só aí arrecadava logo a posição 1 a 7 dos 10 dias, mas vou fazer jogo limpo e indicar um título por cada dia, por ordem de importância e uma breve explicação do porquê desse título.
1- A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende. É um livro a que voltei várias vezes. Foi-me proposto por uma colega do básico, com quem caminhava todos os dias para a escola, e falávamos de tudo, especialmente dos livros que os pais dela liam e que ela também começou a ler. Inevitavelmente os pais dela acabaram por mos emprestar e seja por terem sido os meus primeiros romances adultos lidos na juventude, ou seja por mera coincidência, foram as leituras que mais me marcaram até hoje. Ao ponto de terem determinado o meu futuro académico. Já explico… Lembro-me ainda hoje da bibliotecária, que depois passou a ser uma boa amiga, que me recusou levar o livro da biblioteca, por não ser indicado para a minha idade. Mal sabia ela que eu ia passar a visitá-la todas as semanas e a requisitar aos 3 livros de cada vez. A Casa dos Espíritos marcou-me tanto que quando o li pela primeira vez, aos 15 anos, comecei a escrever eu próprio uma tentativa de romance familiar. E a minha sobrinha hoje chama-se Clara. Falta saber se será clarividente.
2- Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Se a mãe da Tatiana lia Isabel Allende, o pai era fã de Gabo e convenceu-me a não perder tempo com “livros de senhoras”. Este romance marcou-me indelevelmente e de tal forma que a minha tese de mestrado e depois de doutoramento foi sobre o realismo mágico na literatura portuguesa – está publicada em livro e também disponível online. Inclusivamente fiz um estudo comparativo, que depois teve de ser profundamente reformulado e acho que o perdi, entre Cem Anos de Solidão e O meu mundo não é deste reino, de João de Melo, e entre A Casa dos Espíritos e O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge. Segundo os próprios autores as afinidades entre as obras eram muitas mais do que eles próprios se aperceberam.
3- O meu mundo não é deste reino, de João de Melo. Pelas razões que já apontei. E por ser um romance belíssimo, de uma escrita apaixonante. Ainda hoje sigo a obra deste escritor e tomei os Açores como meus, apesar de ter costela madeirense.
4- O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge. Acho que já disse tanto sobre esta escritora, que tem sido uma espécie de fada-madrinha para mim que já nem sei que mais possa escrever. Apaixonei-me por Branca, a Senhora do Dragão, a mulher capaz de ver no interior das pessoas e de prever o futuro.
5- Os Filhos da Meia-Noite, de Salman Rushdie. Outra obra basilar do realismo mágico, lida sem ser por isso, e que aos 16 anos foi lida de rajada, quando eu não iria perceber metade. Mas as gargalhadas que dei com o livro. Penicos voadores, tapetes mágicos, uma criança com orelhas de elefante que sintoniza na sua mente os pensamentos de todos os outros filhos da Índia. Não vejo a hora de reler este romance. Salman Rushdie é hoje um dos meus autores favoritos.
6- As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Li tudo da autora, desde que descobri As Brumas. Apaixonei-me pela Morgana. Pelas lendas arturianas que nunca mais ninguém recontou como a Marion. Ou a guerra de Tróia, recontada em Presságio de Fogo. A sua escrita marcou muito os meus próprios rascunhos.
7- Lillias Fraser, de Hélia Correia. Li o livro muito antes de saber que um dia o trabalharia na minha tese de doutoramento ou de saber que um dia seria recebido pela escritora na sua casa em Sintra. Um romance onde o mágico permite rever a história. Uma menina que vê a morte nas pessoas e se destaca pelo seu brilho dourado e o seu mutismo animal que um dia chega a Lisboa e passa pelo Terramoto de 1755. Tenho um fraco por mulheres fortes, por isso apaixonei-me, tal como a autora, pela Lillias.
8- Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Porquê? Não é por eu ser pretensiosamente pseudo. Foi um romance que me arrebatou, mesmo com as suas frases que se alongam por páginas, como uma sinfonia em crescendo que interliga tudo no último volume. O meu professor de teoria da literatura tanto falou deste livro que eu sabia que o teria de ler. Simplesmente não segui o seu conselho (ainda!) de depois de ler o primero volume passar directamente para o último e depois reler tudo de início…
9- A Montanha Mágica, de Thomas Mann. A outra obra querida ao meu professor de Teoria. Quando finalmente o li pronto, rendi-me, e nada mais tenho a dizer sobre esta obra essencial à humanidade.
10- Regresso a Reims, de Didier Eribon. Hesitei um pouco porque quem lê mais de 52 livros por ano não consegue fazer jus a tudo. Pensei no Guerra e Paz, mas achei que ninguém me ia acreditar. Por isso deixo aqui o Regresso a Reims, de Didier Eribon. Não porque foi o livro que li ontem, mas porque mexeu tanto comigo que me fez desvelar um pouco de mim próprio este fim-de-semana. E porque é um livro em que me revejo muito. Podem ler no blogue porquê. Ver artigo
Já o escrevi antes. Quando começo um livro raramente leio a sinopse, por isso, um pouco como a vida, nunca sei o que vou encontrar nas primeiras páginas do livro que retiro da estante. Mas há livros que nos agarram desde a primeira página e que nos perturbam tanto que o formigueiro nas pontas dos dedos para escrever se torna insuportável e impossível de ignorar.
Regresso a Reims é um ensaio onde a escrita autobiográfica, uma vez mais, se entrelaça com a reflexão sociológica. Quando o filósofo francês Didier Eribon perde o pai, que não via há décadas, ao ponto de não o reconhecer numa foto tirada poucos dias antes de morrer, não comparece ao seu funeral, nem faz qualquer tentativa para ver os irmãos, de quem se separou há 30 anos e provavelmente também já não seria capaz de reconhecer. Mas quando visita a sua mãe, no dia seguinte ao funeral, acaba por dar início a um reencontro com o eu que tanto procurou, sem sequer se aperceber, reprimir. Tendo saído de Reims pelos vinte anos para viver em Paris, fugindo a um pai violento e homofóbico, para poder começar a ser verdadeiramente ele, verdadeiramente livre, sem ter de se envergonhar da sua sexualidade, Didier Eribon percebe que afinal ao libertar a sua sexualidade acaba por reprimir o seu passado sócio-cultural enquanto prossegue numa ascensão social. Sai de um armário sexual para se meter num armário social.
Este livro analisa como quanto mais nos afastamos no espaço mais difícil se torna, por vezes, reconhecer os nossos pais, aquela que era a nossa casa, e as nossas referências identitárias passam a ser um universo estranho. Nunca saí de casa para fugir à família, mas primeiro a 300 km de distância e depois a 7000 km, sensivelmente, em linha recta, percebo como foi preciso correr mundo para encontrar liberdade, para me libertar de um certo jugo, mesmo quando involuntário, em que constantemente somos interpelados a responder para onde vamos, com quem estivemos, o que fizemos. E como apesar da distância acabamos por ainda assim nunca nos encontrarmos de facto, pois há vozes interiores que nos perseguem. Ao contrário do autor deste livro, ou de James Baldwin, constantemente referido, que também viajou para Paris para se encontrar como homem negro e gay, não tive a infelicidade de ter um pai violento ou opressor. Pelo contrário, foi ele o primeiro a estender a mão, a querer ouvir, a tentar perceber. O mesmo não aconteceu, em contrapartida, com a minha mãe, que recriminou tanto como se culpava a si própria, querendo perceber em que errara, que apoio poderia solicitar, a vergonha que seria se os outros soubessem. Mas se Didier Eribon optou pela atitude mais cobarde ou simplesmente desesperada de cortar todas as ligações, há aqueles que são incapazes de cortar o cordão umbilical e se mantêm firmes e presentes, mesmo quando longe. E se bem que eu nunca tenha vivido num bairro social em Reims, também os meus pais são da classe operária e nenhum acabou a escolaridade. Por isso, quando as pessoas me viam sempre agarradas a um livro para onde quer que eu fosse, se questionava «A quem é que será que ele sai?». Por isso, mesmo quando concluí a licenciatura, e depois o mestrado, e um dia o doutoramento, e outro mestrado, etc., etc., eu sabia que havia um brilho de orgulho nos olhos dos meus pais, mas porque foram educados com poucas manifestações de carinho, aliás ambos foram criados por outras pessoas que não os pais, e por isso nunca foram de rasgados elogios. Levou muito tempo a perceber que ainda que pudesse haver, de facto, algum complexo em relação a mim, o orgulho falou mais alto. Não vivíamos em Reims, mas vivíamos na periferia da cidade. O meu pai trabalhava todos os dias de manhã à noite, e pela noite fora, e aos sábados, chegando a casa com uma farda a tresandar a óleo e a pele dos dedos estalada e enegrecida do óleo dos motores. Lavava as mãos com detergente da roupa em pó na banheira. Aos 12 anos, mudámos do campo para um apartamento. Aos 25, compraram o nosso segundo apartamento. Sempre fizemos viagens em família ao estrangeiro, em que os meus pais faziam sempre questão de nos levar. Quando eu era criança os meus pais contavam os tostões para o meu leite, mas na vida nunca me faltou nada, e quando cheguei à universidade tive uma bolsa. Não estou a querer dizer que ao contrário do autor deste livro, eu também não tive momentos em que a classe social me poderia envergonhar, em que por vezes os corrijo no seu português. Mas é o orgulho que também do meu lado fala mais forte e a grata percepção de que eles sempre me apoiaram, mesmo quando não sabiam como fazê-lo. Tal como eu os tenho ajudado como posso a serem mais fortes. Quando um pai morre ou adoece, é o nosso próprio sentido de mortalidade que dispara e é a nossa vida que colocamos em causa, numa angústia existencial de incerteza, de perda de referência, de abalo das fundações. O meu pai, mecânico, trabalhou tanto para nos fazer subir na vida que se perdeu pelo caminho. A minha mãe deu-me o que tinha de melhor, o seu amor incondicional e a esmerada educação que recebeu dos avós. E mesmo que haja uma clivagem social e cultural gradual, nunca senti que não precisava dos meus pais, ao ponto de os negar e dar por mim a negar-me. Mas estou grato por eles próprios terem sido capazes de rasgar as suas certezas na vida e, mais do que me aceitarem, sentirem orgulho. Orgulho esse que é recíproco, mesmo quando ainda hoje esbarramos tantas vezes em línguas diferentes de atitutes distintas perante a vida. E um amor imenso por uma mãe que teve de cortar as suas asas para as emprestar aos filhos e depois, quando quis voar, teve de passar pela dor de fazer as suas asas voltarem a crescer. Ver artigo
Neste livro originalmente publicado em 1975, e lançado em junho deste ano pela Dom Quixote, Norman Mailer parece escrever um ensaio sobre boxe, com o rigor e a profundidade de quem escreve um ensaio literário. Refere o narrador que «A estética do boxe é muito difícil de explicar, ainda que superficialmente» (p. 199). Mas se no primeiro capítulo um leitor que nada percebe de boxe se pode sentir atemorizado, a verdade é que a prosa e a ironia do autor depressa nos agarra e gradualmente constatamos que este é um hino ao boxe de pesos-pesados e especialmente a Muhammad Ali: «No auge da sua preparação, os pugilistas vivem em dimensões de aborrecimento que as outras pessoas nem conseguem imaginar. É assim que tem de ser. O aborrecimento cria uma impaciência com a vida e um desejo violento de a melhorar. O aborrecimento cria aversão à derrota.» (p. 17)
Mas este livro é também uma memória, pois foi o autor que acompanhou o combate entre Ali e George Foreman que se realizou em Kinshasa, no então Zaire, e que sofreu um atraso de um mês devido a um corte numa sobrancelha. É ainda uma análise à identidade afro-americana, que o autor começa finalmente a perceber através do boxe, e uma elegia ao povo africano ou, melhor dizendo, congolês. Bem como uma denúncia à corrupção que assola o país:
«Considerando que Mobutu também tinha ficado conhecido pelo seu pagode chinês nacionalista e comunista, pelas residências particulares que tinha na Bélgica, em Paris e em Lausanne, pelas contas em bancos suíços, pelo namoro em curso com os árabes e pelos notáveis serviços que a CIA lhe prestava em Kinshasa, incluindo, ao que se dizia, a montagem do golpe que o havia posto no poder, não era injusto pensar no presidente Mobutu como um eclético. (Era, na verdade, a quinta-essência do ecletismo!)» (p. 34)
Norman Mailer é claramente um fã de Ali, mas não se coíbe de o descrever de forma tão humana ao ponto de assinalar as suas falhas. Um peso-pesado que «flutua como uma borboleta, ferra como uma abelha» (p. 15), «um dos melhores lutadores corpo a corpo no ringue» (p. 13) que era também um fala-barato, servindo-se aliás disso mesmo para de alguma forma desarmar os seus oponentes, um boxeador que escrevia poemas que impingia à imprensa, talvez como arma de silenciar as suas perguntas idiotas. No final do segundo capítulo, Mailer revela que é ele o narrador, o autor convidado a cobrir o combate, o que parece granjear-lhe mais fama do que tinha antes como escritor. Mas Mailer, autodesignando-se apenas como o entrevistador, apelidado de «No’min Million» por Ali, narra sempre na terceira pessoa. Inclusivamente quando se narra a si mesmo, sem pudor de o fazer a uma luz pouco abonatória:
«Acontece que o nosso sábio tinha um vício. Escrevia sobre si próprio. Não só descrevia os acontecimentos que via, mas também o seu pequeno efeito pessoal sobre os acontecimentos. Isto irritava os críticos. Falavam de devaneios do ego e das desagradáveis dimensões do seu narcisismo. Tais críticas não o incomodavam excessivamente. Já tivera um caso amoroso consigo mesmo, e nele consumiu uma boa dose de amor.» (p. 36) Ver artigo
Em tempos foi feita uma sondagem aos portugueses e constatou-se que uma esmagadora maioria não se rendia aos livros de bolso. Talvez porque na altura ainda não fora lançada a magnífica Terra Incognita, uma fantástica colecção de livros de bolso da Quetzal destinados a viajantes, composta por títulos de autores como Paul Theroux, Geoff Dyer ou Bruce Chatwin.
Michel Onfray, filósofo e intelectual francês, fundador da Universidade Popular de Caen, gratuita e criada com base num manifesto seu, tem mais de 50 títulos, versando gastronomia, filosofia, pintura, história, literatura e geografia.
Este livro, tão pequeno quanto precioso, analisa os vários passos da viagem, desde os preparativos ao regresso, do rememorar da viagem e à revisitação pela escrita ao planear uma nova partida, pois a vida é uma errância e permanecer no mesmo local ou rever infindamente os mesmos lugares impede-nos de ler «o poema do mundo» na sua completude. Este não é um guia prático, mas sim um tratado filosófico, de início mais abstracto, num devaneio poético, até que os argumentos se começam a alinhavar numa sucessão lógica, onde o princípio do hedonismo e da liberdade são fios condutores.
Para Onfray, a viagem começa numa biblioteca ou numa livraria, o que honestamente me preocupou, atendendo à minha maníaca opção de nunca consultar nada sobre os destinos a que me proponho ou a que sou convidado a ir – mesmo quando parti um pouco às cegas para países desconhecidos onde iria viver durante anos (Polónia, Botsuana, cidade da Beira em Moçambique, tendo que evitar agilmente as várias tentativas de me impingirem vídeos e imagens dos lugares para onde me aventurava partir). Mas Onfray clarifica, felizmente, que uma «mera linha de um autor mesmo que mediano desperta mais o desejo pelo lugar descrito do que fotografias ou mesmo filmes, vídeos ou reportagens. Entre nós e o mundo, coloquemos prioritariamente as palavras.» (p. 26) Ao invés de limitar o nosso deslumbramento inicial ou iludir as expectativas com imagens, podemos, portanto, ficar com a vasta plurissignificação de um verso, onde pode caber toda a poesia do mundo por ver.
«O mundo, simultaneamente vasto e limitado, o eu de cada um no seu centro, a viagem como convite a desenhar, para si, uma rosa dos ventos, depois o domicílio para se sentar e cultivar uma identidade – eis aqui algumas referências num cosmo a priori sem alegria. A geografia serve antes de mais para elaborar uma poética da existência, para dar oportunidade ao corpo de funcionar como uma bela máquina sensual, capaz de conhecer exercitando cada um dos cinco sentidos, sozinhos ou combinados» (p. 87)
Não posso deixar de evocar aqui o Sapiens – De Animais a Deuses – História Breve da Humanidade, de Yuval Noah Harari, que analisa justamente como a humanidade começou como uma sociedade de caçadores-recolectores, o que implicava justamente errância e liberdade, aproveitando ao máximo os diversos recursos da natureza, até que com a Revolução Agrícola os nossos problemas parecem ter começado, numa luta inglória contra a terra que justifique o sedentarismo e uma ilusão de segurança ou conforto. Onfray começa justamente por remontar o gene da viagem aos tempos em que com Caim e Abel a humanidade se dividiu entre o camponês e o pastor, sendo que Abel, o pastor, terá sido justamente o favorito de Deus, ao ponto de desencadear a fúria fratricida. E é desde então que todas as «ideologias dominantes» exercem domínio e violência sobre as minorias nómadas, como o judeu errante ou os ciganos. Ver artigo
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