A Lição de Anatomia, de Philip Roth, é o mais recente livro deste autor norte americano a ser traduzido entre nós, embora originalmente seja de 1983. Há já alguns anos que sigo atentamente a sua obra, apesar de não ter lido os mais mediáticos, como Conspiração contra a América, A mancha humana, Pastoral ou o Teatro de Sabbath – comecei mas era muito novo e claro que era demasiado para mim. No entanto faço tenções de os ler o mais rapidamente possível.
Estou a gostar deste livro como aliás de todos os outros. Considero uma leitura leve, apesar de tratar temas sérios como o judaísmo. E apesar de entretanto ter sido publicada a primeira parte de uma autobiografia do autor, os Factos, a verdade é que isso em Roth é quase uma redundância pois toda a escrita dele é bastante intimista e biográfica, retratando de forma polémica o que significa ser-se judeu na América, principalmente um homem judeu, mas, mais do que isso, procurando mostrar que os judeus são homens como quaisquer outros, que vivem de fortes desejos sexuais, naturalmente censuráveis, segundo as convenções judaicas, cujo povo apesar de se ter transladado para a terra das oportunidades parece ainda viver sob o jugo da mentalidade e tabus do século passado.
É essencialmente a história de um escritor com uma espécie de novo bloqueio de escrita, condenado a estar deitado num tapete na sala, assolado por uma dor crónica que o incapacita de quase tudo, nomeadamente escrever, e que nenhum médico resolve ou consegue diagnosticar, enquanto é visitado por uma série de mulheres, a quem ainda assim consegue dar prazer – se bem que ele está sempre mais interessado em ouvir as suas histórias.

«A vida e a arte são coisas distintas, pensou Zuckerman; não há nada mais claro. E no entanto a distinção é totalmente esquiva. que a escrita seja um ato de imaginação é coisa que parece confundir e enfurecer toda a gente.»

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.