A Guerra dos Pobres, de Éric Vuillard, publicado pela Dom Quixote – a par de Um Terrível Verdor, de Benjamín Labatut, publicado pela Elsinore -, é das poucas obras traduzidas entre nós entre os finalistas da edição deste ano do International Booker Prize, cujo vencedor será anunciado dia 2 de Junho.
O autor, conhecido por ter ganho o Prémio Goncourt, em França, com A Ordem do Dia, inspirou-se num episódio brutal e pouco conhecido dos grandes levantamentos populares ocorrido na Alemanha, no século XVI, em que os camponeses e os pobres das cidades se revoltaram em busca da igualdade há muito desejada. Há sublevações desde os confins da cristandade que ameaçam chegar a Roma, com castelos e muralhas arrasados: «a respiração do mundo parecia ter-se acelerado, era sempre de dia, os pássaros comiam terra, os bichos dormiam de pé.» (p. 50)
Este pequeno livro de 70 páginas conta como hordas de miseráveis afluem dos quatro cantos do Império com um teólogo, Thomas Müntzer, à cabeça. Lutero teria dito que não eram os camponeses a revoltar-se, mas Deus…
«Mas não era Deus. Eram de facto os camponeses que se tinham revoltado. A menos que se desse o nome de Deus à fome, à doença, à humilhação, aos farrapos. Não é Deus que se revolta, são a corveia, os direitos banais, os dízimos, a mão-morta, o aluguer, a talha, o viático, o imposto de palha, o direito de pernada, os narizes cortados, os olhos arrancados, os corpos consumidos pelas chamas, quebrados, sujeitos às tenazes.» (p. 60)
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