Eduardo Pitta foi poeta, escritor, crítico literário, ensaísta. A sua obra abarca todos os géneros, do romance ao ensaio, passando pelas memórias e contos, o que também faz dele uma das figuras mais versáteis da vida literária portuguesa. Nasceu em Lourenço Marques, actual Maputo, a 9 de Agosto de 1949. Viveu em Moçambique até Novembro de 1975. Ver artigo
A Casa da Fortuna, também com tradução de Catarina Ferreira de Almeida, inicia a ação 18 anos depois do final do primeiro volume, justamente no dia do aniversário de Thea, em 1705. Ou seja, a criança que nasce no final de O Miniaturista, completa agora 18 anos e está em idade casadoira. Sem querer estragar a leitura do primeiro romance, ressalve-se que o dia de anos de Thea é toldado pela tristeza de duas mortes que também se assinalam nesse dia. Vive rodeada de pessoas que a amam – o pai, Otto, a tia, Nella, e a ama de leite Cornelia –, embora este trio se pareça desentender permanentemente entre si, particularmente Otto e Nella, cujas discussões ao longo do livro são constantes. A glória da casa, onde havia inclusivamente uma peculiar e dispendiosa réplica em miniatura, feita com os mesmos materiais da casa original, perdeu-se definitivamente. Se antes conseguira manter a casa e a família à tona com o negócio do açúcar, numa gloriosa Amesterdão – que começa também a perder algum brilho, tornando-se mais austera e contida –, Nella vê-se agora obrigada a despir de quadros as paredes da casa, que tenta vender por algumas centenas de florins. Depois de 18 anos a tentar sobretudo providenciar o melhor para Thea, e da mesma forma que a própria Nella se viu obrigada a casar aos 18 anos, para salvar o nome de honra da sua família, Nella não discerne uma alternativa que não seja casar rapidamente a sobrinha. Além disso quer Nella quer Thea se enamoram, tão somente para, logo a seguir, verem as suas esperanças no amor soçobrarem, pois os homens a quem amam traem a sua confiança. Outra semelhança ainda entre Nella e Thea, é a jovem começar igualmente a receber misteriosas encomendas deixadas na soleira da porta, com miniaturas cujo realismo é tão enfeitiçante quanto desconcertante, ao ponto de as suas portadoras se convencerem de que estas miniaturas contêm uma estranha magia, a ponto de terem a capacidade de representar as pessoas que lhes servem de modelo. De resto, Nella e Thea não poderiam ser mais diferentes, nomeadamente pelo espírito mordaz e determinado de Thea, pronta a arriscar tudo em nome do amor, enquanto Nella se conformou com o seu infeliz desenlace, e tendo ficado viúva tão pouco tempo depois do casamento, optou por nunca mais casar, crente inclusivamente de que seria muito mais livre assim. Nella, por seu lado, parece ter adquirido o calculismo e a frieza de Marin, até nas suas réplicas cortantes, e pela forma como reprime os seus sentimentos, talvez por força de ter de controlar os livros-razão que sustêm a casa desta estranha família: “há quanto tempo vivem eles por um fio, o simulacro de uma família abastada? O que serão, afinal, senão uma incómoda reunião de almas que vacilam à beira do abismo?” (p. 199) Ver artigo
Pesquisar:
Subscrição
Artigos recentes
Categorias
- Álbum fotográfico
- Álbum ilustrado
- Banda Desenhada
- Biografia
- Ciência
- Cinema
- Contos
- Crítica
- Desenvolvimento Pessoal
- Ensaio
- Espiritualidade
- Fantasia
- História
- Leitura
- Literatura de Viagens
- Literatura Estrangeira
- Literatura Infantil
- Literatura Juvenil
- Literatura Lusófona
- Literatura Portuguesa
- Música
- Não ficção
- Nobel
- Policial
- Pulitzer
- Queer
- Romance histórico
- Sem categoria
- Séries
- Thriller
Arquivo
- Setembro 2024
- Agosto 2024
- Julho 2024
- Junho 2024
- Maio 2024
- Abril 2024
- Março 2024
- Fevereiro 2024
- Janeiro 2024
- Dezembro 2023
- Novembro 2023
- Outubro 2023
- Setembro 2023
- Agosto 2023
- Julho 2023
- Junho 2023
- Maio 2023
- Abril 2023
- Março 2023
- Fevereiro 2023
- Janeiro 2023
- Dezembro 2022
- Novembro 2022
- Outubro 2022
- Setembro 2022
- Agosto 2022
- Julho 2022
- Junho 2022
- Maio 2022
- Abril 2022
- Março 2022
- Fevereiro 2022
- Janeiro 2022
- Dezembro 2021
- Novembro 2021
- Outubro 2021
- Setembro 2021
- Agosto 2021
- Julho 2021
- Junho 2021
- Maio 2021
- Abril 2021
- Março 2021
- Fevereiro 2021
- Janeiro 2021
- Dezembro 2020
- Novembro 2020
- Outubro 2020
- Setembro 2020
- Agosto 2020
- Julho 2020
- Junho 2020
- Maio 2020
- Abril 2020
- Março 2020
- Fevereiro 2020
- Janeiro 2020
- Dezembro 2019
- Novembro 2019
- Outubro 2019
- Setembro 2019
- Agosto 2019
- Julho 2019
- Junho 2019
- Maio 2019
- Abril 2019
- Março 2019
- Fevereiro 2019
- Janeiro 2019
- Dezembro 2018
- Novembro 2018
- Outubro 2018
- Setembro 2018
- Agosto 2018
- Julho 2018
- Junho 2018
- Maio 2018
- Abril 2018
- Março 2018
- Fevereiro 2018
- Janeiro 2018
- Dezembro 2017
- Novembro 2017
- Outubro 2017
- Setembro 2017
- Agosto 2017
- Julho 2017
- Junho 2017
- Maio 2017
- Abril 2017
- Março 2017
- Fevereiro 2017
- Janeiro 2017
- Dezembro 2016
- Novembro 2016
- Outubro 2016
Etiquetas
Akiara
Alfaguara
Annie Ernaux
Antígona
ASA
Bertrand
Bertrand Editora
Booker Prize
Caminho
casa das Letras
Cavalo de Ferro
Companhia das Letras
Dom Quixote
Editorial Presença
Edições Tinta-da-china
Elena Ferrante
Elsinore
Fábula
Gradiva
Hélia Correia
Isabel Allende
Juliet Marillier
Leya
Lilliput
Livros do Brasil
Lídia Jorge
Margaret Atwood
Minotauro
New York Times
Nobel da Literatura
Nuvem de Letras
Pergaminho
Planeta
Porto Editora
Prémio Renaudot
Quetzal
Relógio d'Água
Relógio d’Água
Série
Temas e Debates
Teorema
The New York Times
Trilogia
Tânia Ganho
Um Lugar ao Sol