Soma (Relógio d’Água, 1987) traz na contracapa a indicação de que a autora se afasta do seu «universo habitual». A autora afasta-se agora da decadência das famílias burguesas da província para atentar num «desespero recente e urbano». Contudo este desvio é apenas aparente. Os temas caros à autora mantêm-se, como certas formas de neo-fantástico ou a marginalidade e a loucura. António é um homem de 40 anos, professor de História, divorciado e pai de um adolescente, alguém que viveu a febre de mudança dos anos 60 e de Abril, no que aparenta ser uma crise de meia-idade se enamora pela visão da jovem Bárbara. António persegue-a, como Alice atrás do coelho branco, apenas para dar por si a cair num mundo à parte, passando a ser acolhido por uma comunidade marginal, com Carlinhos, um traficante de drogas, e Jonas, jovem imerso no mundo dos computadores, como se essa realidade alternativa fosse uma outra espécie de droga, ao mesmo tempo que o próprio António toma as suas próprias doses de prazer nas noites ocasionais em que Bárbara o visita. O próprio título da obra remete para uma droga de que Aldous Huxley fala, uma droga perigosa mas com efeitos benéficos. Ver artigo
A Casa Eterna, originalmente publicada em 1991 pela Dom Quixote (sendo a obra da autora actualmente publicada pela Relógio d’Água) marca uma cisão na escrita da autora, pois incorre-se aqui numa tentativa de biografia ficcionada, como acontecerá depois em Adoecer ou mesmo em Lillias Fraser. Além da natureza da obra, importa referir que nestas obras a voz narrativa é claramente assumida na primeira pessoa e na voz de uma mulher que se pode confundir com a autora. É um romance de estrutura circular, e por isso se defendeu que a autora recria o mito do eterno retorno, em que um poeta volta à sua terra-natal para morrer: «Ele tentava encontrar o fim da circunferência, o ponto no vazio de onde nascera» (p. 184). O próprio título da obra parte de uma passagem apresentada em epígrafe, retirada do livro do Eclesiastes, que dá conta dessa casa eterna como a morada final à qual o homem regressa. Não é por acaso que se descreve como o poeta Álvaro Baião Roíz terá morrido encostado a uma árvore na margem de um rio, como quem regressa ao útero materno ao largo do rio do tempo que a narradora procurará percorrer às arrecuas: «quero apenas juntar o fim com o princípio para que um ilumine o outro e o esclareça» (p. 126).
A narradora parte para Amorins, aldeia onde nasceu e cresceu o poeta, e aonde regressou para morreu, para tentar perceber o que realmente aconteceu com o poeta Álvaro Roíz cuja morte ocorreu em circunstâncias obscuras. Mais próximo do final da narrativa, encontramos indícios de que o poeta pode ter sido amante da narradora, que aliás ficou com o seu gato azul, Zaratustra.
O livro tem ainda uma natureza fortemente metaficcional que impede o leitor de esquecer que lida com uma biografia ficcionada: «Transformá-lo agora em personagem é não o encontrar e tecer uma espécie de glosa à sua volta» (p. 25). Ver artigo
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