Gabo, um dos autores favoritos de muitos leitores, tem agora mais uma obra publicada pela Dom Quixote, originalmente lançada em fascículos na mesma altura e à semelhança de Relato de um Náufrago. O autor então um jovem jornalista viaja por vários países da Europa de Leste, passando por cidades como Berlim, Praga, Varsóvia, Moscovo, Kiev ou Budapeste, e apesar de esta viagem ocorrer durante os anos 50 é um relato inestimável de como mesmo depois da queda da Cortina de Ferro estes países e povos continuam a viver num ambiente triste e fechado, de grande repressão, onde os convidados estrangeiros são raros e se vêem a ser permanentemente acompanhados por intérpretes que não dominam outra língua que não a sua e que, no fundo, têm apenas a função de vigiar e acompanhar. É curioso como o autor não deixa ainda assim de reconhecer a cordialidade e a generosidade das pessoas que vivem sob a sombra do regime soviético, e vai estabelecendo apesar das devidas diferenças comparações pontuais com a vida na América Latina: «A ordem pública na Alemanha Oriental parece-se muito com a da Colômbia dos tempos da perseguição política.» (p. 44).
Fica um testemunho pertinente da passagem deste autor colombiano pelos países socialistas, com laivos do seu humor, ironia e perspicácia. Só tenho pena de não ter podido ler as impressões que o autor aqui nos deixa na altura em que vivi em Varsóvia, cidade completamente arrasada durante a guerra e reconstruída a partir de fotografias (leia-se História natural da destruição, W. G. Sebald), e do seu povo: «É difícil saber o que os polacos querem. São complicados, difíceis de lidar, de uma suscetibilidade quase feminina e com tendência para o intelectualismo» (p. 96).
Leave a Comment