A tradução do mundo, de Juan Gabriel Vásquez, autor publicado pela Alfaguara, chega-nos com tradução de Rui Pires Cabral. Esta obra reúne quatro ensaios tão enlevantes quanto claros que nos levam a compreender o poder da ficção no mundo em que vivemos. Os ensaios estão ainda divididos em pequenas secções com subtítulos. O livro é ainda enriquecido por várias ilustrações, também a cores. Ver artigo
Este livro (originalmente publicado em 2009) cristaliza um diálogo que resulta de um encontro em Paris, entre o sobejamente conhecido Umberto Eco, autor cuja obra tem vindo a ser publicada pela Gradiva, e Jean-Claude Carrière, cineasta e ensaísta.
As questões são diversas, nesta conversa, ou conversas, tidas em vários momentos, conduzidas por Jean-Philippe de Tonnac, escritor, ensaísta e jornalista.
A Internet significa o desaparecimento do livro? Não representa o ebook uma maior comodidade, capaz de fazer transportar de forma mais ligeira e prática num só equipamento toda uma biblioteca?
«As variações em torno do objecto livro não lhe modificaram a função, nem a sintaxe, há mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.» (p. 16)
Ao contrário de outros suportes de armazenamento de memória que se tornam continuamente obsoletos, como os CD-ROM, as disquetes, as cassetes, defende Eco que o suporte do livro é insuperável, mais fácil de transportar e de abrir/ligar do que um computador, pois não requere nenhuma alimentação a não ser a vontade do leitor.
Num diálogo vibrante e culto, onde não falta humor, situações anedóticas e pequenas piadas que fazem também parte da cultura e da história humana, os autores revelam como o saber (e a idiotia, a par e passo) continua vivo, por muito que a tecnologia se supere a si própria, e o conhecimento nunca ocupa espaço, desde que haja naturalmente uma selecção em função daquilo que nos dá prazer. Um pouco como os colecionadores que uma vez reunida a colecção ou encontrado o objecto tão desejado acabam por descartar logo de seguida o fruto dessa demanda, pois ficou saciada essa sede de descoberta e aventura.
«A cultura é um cemitério de livros e outros objectos desaparecidos para sempre. Existem, hoje, trabalhos sobre esse fenómeno que consiste em renunciar tacitamente a certos vestígios do passado, e, logo, a filtrar, e por outro lado colocar outros elementos dessa cultura numa espécie de câmara frigorífica, para o futuro. Os arquivos, as bibliotecas, são essas câmaras frias em que armazenamos a memória, de modo que o espaço cultural não esteja atravancado de toda essa aglomeração, sem contudo renunciar a ela. Poderemos sempre, no futuro, recuperá-la, se o coração assim no-lo ditar.» (p. 60)
As questões são diversas, nesta conversa, ou conversas, tidas em vários momentos, conduzidas por Jean-Philippe de Tonnac, escritor, ensaísta e jornalista.
A Internet significa o desaparecimento do livro? Não representa o ebook uma maior comodidade, capaz de fazer transportar de forma mais ligeira e prática num só equipamento toda uma biblioteca?
«As variações em torno do objecto livro não lhe modificaram a função, nem a sintaxe, há mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.» (p. 16)
Ao contrário de outros suportes de armazenamento de memória que se tornam continuamente obsoletos, como os CD-ROM, as disquetes, as cassetes, defende Eco que o suporte do livro é insuperável, mais fácil de transportar e de abrir/ligar do que um computador, pois não requere nenhuma alimentação a não ser a vontade do leitor.
Num diálogo vibrante e culto, onde não falta humor, situações anedóticas e pequenas piadas que fazem também parte da cultura e da história humana, os autores revelam como o saber (e a idiotia, a par e passo) continua vivo, por muito que a tecnologia se supere a si própria, e o conhecimento nunca ocupa espaço, desde que haja naturalmente uma selecção em função daquilo que nos dá prazer. Um pouco como os colecionadores que uma vez reunida a colecção ou encontrado o objecto tão desejado acabam por descartar logo de seguida o fruto dessa demanda, pois ficou saciada essa sede de descoberta e aventura.
«A cultura é um cemitério de livros e outros objectos desaparecidos para sempre. Existem, hoje, trabalhos sobre esse fenómeno que consiste em renunciar tacitamente a certos vestígios do passado, e, logo, a filtrar, e por outro lado colocar outros elementos dessa cultura numa espécie de câmara frigorífica, para o futuro. Os arquivos, as bibliotecas, são essas câmaras frias em que armazenamos a memória, de modo que o espaço cultural não esteja atravancado de toda essa aglomeração, sem contudo renunciar a ela. Poderemos sempre, no futuro, recuperá-la, se o coração assim no-lo ditar.» (p. 60)
Este livro estava desaparecido há anos das livrarias pelo que este lançamento da terceira obra publicada por Eco (um dos nossos autores de eleição) em 1994 (na edição original italiana) são óptimas notícias que chegam da Gradiva, e com uma belíssima capa.
«Verão de 1643. Roberto de la Grive naufraga nos Mares do Sul e depara‑se com uma ilha que não consegue alcançar. O maravilhamento junta‑se à suspeita de que por lá pairam múltiplas ameaças. Umberto Eco, magistral contador de histórias, cria uma viagem de aventura e conhecimento, construindo um fascinante enredo que entrelaça a realidade com a ficção de um modo ímpar. Aqui também não faltam o bem conhecido humor e a reconhecida erudição do autor, conjugados numa das suas mais surpreendentes obras.»
Umberto Eco, escritor e erudito italiano, nasceu a 5 de Janeiro de 1932 em Alessandria (Piemonte). Pouco se sabe sobre a sua infância, a não ser que se doutorou pela Universidade de Turim com apenas vinte e dois anos de idade, apresentando uma tese consagrada ao pensamento filosófico de São Tomás de Aquino intitulada «O Problema Estético em S. Tomás de Aquino». Entre 1954 e 1959 desempenhou as funções de editor cultural na cadeia de televisão estatal italiana RAI. Leccionou nas universidades de Turim, Milão e Florença e no Instituto Politécnico de Milão. Tinha trinta e nove anos de idade quando foi nomeado professor catedrático de Semiótica pela Universidade de Bolonha, a mais conceituada de Itália. Destacara-se como filósofo, medievalista e semiólogo, quando se estreou na narrativa com O Nome da Rosa. O romance possui uma pequena ressalva introdutória de que se trata de um texto verídico: um estudioso terá descoberto por acaso a tradução francesa de um manuscrito do século XIV. O autor do manuscrito é um monge beneditino alemão, Adso de Melk, que narra, no fim da sua vida, um estranho caso vivido na adolescência. A história decorre no ano de 1327, na Idade Média, período que poderemos verificar adiante é caro a Umberto Eco. Guilherme de Baskerville, um franciscano inglês, e o jovem Adso, chegam a uma abadia beneditina onde se irão reunir importantes teólogos ao serviço do Papa e do Imperador mas subitamente vêem-se envolvidos numa história policial. Note-se aliás na ironia do nome Guilherme de Baskerville que traz ao leitor associações a O cão dos Baskerville, um romance policial de Sir Arthur Conan Doyle onde figuram nada mais nada menos que Sherlock Holmes e Watson. Guilherme de Baskerville e o jovem Adso armam-se assim em detetives amadores, tentando desvendar este mistério que envolve a morte por envenenamento de um monge, que surge com a ponta do dedo e a ponta da língua roxas, num mosteiro fechado ao mundo onde ocorrem sete crimes em sete dias, e tudo parece girar em torno um manuscrito proibido que se esconde na biblioteca labírintica da abadia, com acessos secretos e onde os corredores parecem não levar a lado nenhum. Muito antes do sucesso de romances como O código da Vinci, O Nome da Rosa foi um verdadeiro êxito editorial que foi depois adaptado ao cinema, com Sean Connery no principal papel.
Baudolino é um romance que mais uma vez versa o medieval, sobre um pequeno camponês fantasioso e mentiroso. Numa história rocambolesca e pícara, este anti-herói passa a vida a inventar mas, como que por milagre, tudo o que imagina produz História, e conquista mesmo o imperador Frederico Barbarroxa que o adota.
A Misteriosa Chama da Rainha Loana conta como um alfarrabista de Milão sexagenário luta por recuperar a memória após um AVC. Yambo lembra-se de cada livro que leu mas não se lembra do próprio nome ou da sua infância nem reconhece a família. Como forma de recuperação de si próprio, volta à casa de campo da sua infância, onde descobre livros, álbuns de banda desenhada, revistas, discos de outros tempos, religiosamente guardados, e começa uma viagem em que se percebe como o poder da ficção e da cultura que nos envolve é tão determinante como os episódios históricos e pessoais que vivemos. Este é talvez um dos livros mais pessoais ou nostálgicos do autor, bem como profundamente inovador.
O Cemitério de Praga situa-se no século XIX, entre Turim, Palermo e Paris, e conta a história de um espião que condena tudo e todos mas que é ele próprio uma personagem execrável. Ao estilo de um romance-folhetim, cruza personagens e situações que aconteceram efetivamente, em torno de uma personagem fictícia cujos feitos são também eles fatuais apesar de muitas vezes desprezíveis, como é o caso da falsificação conhecida como «Os Protocolos dos Sábios Anciãos de Sião», que iria depois inspirar a Hitler a criar os campos de concentração do Holocausto.
Entre as suas numerosas obras ensaísticas, podemos destacar Os Limites da Interpretação, A Passo de Caranguejo, Construir o Inimigo e outros escritos ocasionais, Obra Aberta, Sobre Literatura e o famoso guia académico Como se Faz uma Tese em Ciências Humanas.
Organizou ainda os livros ilustrados e ricos em informação histórica intitulados História da Beleza, História do Feio e A Vertigem das Listas, e mais recentemente coordena em três volumes um importante estudo sobre a Idade Média, cruzando a sociedade, a arte, a espiritualidade, a filosofia e a ciência desse período comummente tido como obcuro e erradamente apelidado de a Idade das Trevas.
O último romance de Umberto Eco intitula-se Número Zero e trata justamente de uma equipa de seis redactores, sem grande experiência aliás no jornalismo, criada à pressa com vista à edição de lançamento de um jornal. O jornal chama-se «Amanhã» justamente por não lidar com as notícias do que aconteceu na véspera mas sim com o que ainda irá acontecer: «as notícias do dia anterior já nós as sabemos pela televisão às oito da noite, pelo que os jornais contam sempre as coisas que já sabemos, e é por isso que vendem cada vez menos. No Amanhã, a estas notícias que já cheiram mal como o peixe será certamente oportuno resumi-las e relembrá-las, mas bastará uma colunazinha, que se leia em poucos minutos.» (p. 28).
O romance narrado na primeira pessoa pela voz de Colonna, um escritor fantasma, inicia com uma nota de alerta, datada de Junho de 1992, no momento em que a vida de Colonna parece encontrar-se ameaçada, à semelhança do que terá acontecido com Simei, o director do jornal, que desapareceu sem deixar rasto. Só depois recuamos até ao mês de Abril do mesmo ano, durante o período em que se constituíu a equipa de redacção e se delineiam as características do jornal. Da equipa de redactores destaca-se Braggadocio, um redactor paranóico que vai conjecturando obsessivamente uma teoria da conspiração em torno do cadáver de Mussolini, acreditando que o Duce nunca terá morrido, e é também no espaço da redacção que Colonna conhece a jovem Maia, quase licenciada em Letras, que trabalhava numa revista de mexericos e com quem se irá envolver amorosamente.
Este curto livro, o mais pequeno romance de Eco até à data, constitui-se assim como uma crítica ou reflexão do que é o jornalismo actualmente, constituindo-se, conforme refere a contracapa, como um «manual perfeito para o mau jornalismo que, gradualmente, nos impossibilita de distinguir uma invenção de um directo»: «Habitualmente, mesmo para um jornal verdadeiro, a solução mais prudente é puxar para o lado sentimental, ir entrevistar os parentes. Se estiverem atentos, é assim que fazem as televisões, quando vão tocar à porta da mãe a quem meteram o filho de dez anos nos ácidos: senhora, o que sentiu com a morte do seu menino? Humedecem-se os olhos das pessoas e fica tudo satisfeito. Existe uma bela palavra alemã, Schadenfreude, o prazer com a desgraça alheia. É este sentimento que um jornal deve respeitar e alimentar.» (p. 114).
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