Como Organizar Uma Biblioteca, de Roberto Calasso, publicado pelas Edições 70, com tradução de João Coles, é um pequeno ensaio para amantes de livros, organizado em quatro capítulos que versam temas distintos. Ver artigo
Crónicas de um Livreiro, de Martin Latham, com tradução de Jorge Melícias, chegou às livrarias portuguesas com o selo das Edições 70. Foi considerado livro do ano em 2020 para o Spectator e para o Evening Standard. Ver artigo
Elogio da Literatura, com o subtítulo A Imaginação Cultivada, de Northrop Frye, foi publicado pelas Edições 70. Ver artigo
A Cultura Moderna, uma obra polémica de Roger Scruton, publicada pelas Edições 70, representa uma defesa da alta cultura contra os ataques do desconstrutivismo e outras correntes dos Estudos Culturais (desautorizando figuras como Derrida). Mas é, sobretudo, um livro em que o autor «pretende explicar o que a cultura é, e por que motivo ela é importante» (p. 11), demonstrando, especialmente, que «a cultura tem uma raiz religiosa e um sentido religioso» (p. 13).
O autor, um dos mais controversos pensadores da nossa época, começa por discernir entre a alta cultura e a cultura comum, e procura desvelar como a alta cultura se tornou no substituto da fé no mundo descrente produzido pelo Iluminismo: «Desde o Iluminismo, os filósofos têm-se debruçado sobre o valor da alta cultura (nem sempre utilizando esse termo para a designar): o que é que aprendemos, em rigor, quando estudamos arte, literatura, história e música?» (p. 33)
Scruton distingue três tipos de saber: saber que, saber como e saber o que, argumentando que a cultura comum nos diz como sentir e o que sentir, enquanto que a alta cultura, tal como a religião antes, «trata a questão que a ciência deixa sem resposta: a questão de o que sentir» (p. 35).
Scruton está ciente da controvérsia que os seus argumentos irão gerar, de que o acharão absurdo e que a sua visão é muito pouco pós-moderna. O autor considera até as críticas tecidas à primeira edição do livro, por fazer pouca menção à fotografia, cinema e televisão (áreas fortes da cultura popular moderna), e responde com humor que fez a devida pesquisa, descobrindo o que dizer sobre televisão, sendo agora capaz de «discorrer com erudição sobre comida de plástico, bonés de basebol e Cadillacs platinados» (p. 11). E sempre com humor, e não poupando críticas à cultura moderna, em particular à música pop, Scruton ajuda-nos a enxergar como a «nossa existência é transfigurada pela arte» (p. 62) e como a (alta) cultura nos ensina a ética de viver «como se as nossas vidas importassem para a eternidade»: «Devemos ser inteiramente humanos e, ao mesmo tempo, respirar o ar dos anjos; naturais e, simultaneamente, sobrenaturais.» (p. 31)
Passo a passo, o autor tenta não deixar nenhuma ponta solta, e cada uma das suas ideias se encadeará perfeitamente num raciocínio lúcido e transparente, não deixando de focar questões bem prementes no ensino hoje, em particular na área dos estudos literários (até porque é especialmente sobre a literatura que o autor se debruça). O exemplo paradigmático de como alta cultura e religião se entrelaçam reside sobretudo na literatura, havendo lugar a uma apologia do cânone: «Se é esperado que os estudantes leiam e analisem textos literários, certamente deverá existir algum acordo que defina quais os textos que devem ser estudados. Se qualquer texto servir, nenhum texto servirá. (…) Porém, quando os jovens crescem sem um texto sagrado, têm dificuldade em compreender que o segredo da vida se possa encontrar numa coisa inanimada, como um livro; sobretudo, se for um livro escrito há milhares de anos e numa língua que já não se fala.» (p. 38)
Roger Scruton é filósofo e escritor. Foi Professor de Estética no Birkbeck College, Londres, e Professor Visitante no Boston College, nos EUA.
O autor, um dos mais controversos pensadores da nossa época, começa por discernir entre a alta cultura e a cultura comum, e procura desvelar como a alta cultura se tornou no substituto da fé no mundo descrente produzido pelo Iluminismo: «Desde o Iluminismo, os filósofos têm-se debruçado sobre o valor da alta cultura (nem sempre utilizando esse termo para a designar): o que é que aprendemos, em rigor, quando estudamos arte, literatura, história e música?» (p. 33)
Scruton distingue três tipos de saber: saber que, saber como e saber o que, argumentando que a cultura comum nos diz como sentir e o que sentir, enquanto que a alta cultura, tal como a religião antes, «trata a questão que a ciência deixa sem resposta: a questão de o que sentir» (p. 35).
Scruton está ciente da controvérsia que os seus argumentos irão gerar, de que o acharão absurdo e que a sua visão é muito pouco pós-moderna. O autor considera até as críticas tecidas à primeira edição do livro, por fazer pouca menção à fotografia, cinema e televisão (áreas fortes da cultura popular moderna), e responde com humor que fez a devida pesquisa, descobrindo o que dizer sobre televisão, sendo agora capaz de «discorrer com erudição sobre comida de plástico, bonés de basebol e Cadillacs platinados» (p. 11). E sempre com humor, e não poupando críticas à cultura moderna, em particular à música pop, Scruton ajuda-nos a enxergar como a «nossa existência é transfigurada pela arte» (p. 62) e como a (alta) cultura nos ensina a ética de viver «como se as nossas vidas importassem para a eternidade»: «Devemos ser inteiramente humanos e, ao mesmo tempo, respirar o ar dos anjos; naturais e, simultaneamente, sobrenaturais.» (p. 31)
Passo a passo, o autor tenta não deixar nenhuma ponta solta, e cada uma das suas ideias se encadeará perfeitamente num raciocínio lúcido e transparente, não deixando de focar questões bem prementes no ensino hoje, em particular na área dos estudos literários (até porque é especialmente sobre a literatura que o autor se debruça). O exemplo paradigmático de como alta cultura e religião se entrelaçam reside sobretudo na literatura, havendo lugar a uma apologia do cânone: «Se é esperado que os estudantes leiam e analisem textos literários, certamente deverá existir algum acordo que defina quais os textos que devem ser estudados. Se qualquer texto servir, nenhum texto servirá. (…) Porém, quando os jovens crescem sem um texto sagrado, têm dificuldade em compreender que o segredo da vida se possa encontrar numa coisa inanimada, como um livro; sobretudo, se for um livro escrito há milhares de anos e numa língua que já não se fala.» (p. 38)
Roger Scruton é filósofo e escritor. Foi Professor de Estética no Birkbeck College, Londres, e Professor Visitante no Boston College, nos EUA.
Na linha do pensamento que transparece em Elogio da Lentidão (2018), também publicado pelas Edições 70, Lamberto Maffei faz, neste Elogio da Rebeldia, um diagnóstico desapiedado da situação actual, da economia à política.
Lenta é também a forma como o autor expõe o seu pensamento, ao longo de diversos capítulos que parecem desligados entre si, até que, da crítica à sociedade actual, dominada pela tecnologia e capitalismo, e de como o indíviduo, apesar do excesso de estímulos que induzem o cérebro em frenética atividade, sente-se mais solitário do que nunca.
Lenta é também a forma como o autor expõe o seu pensamento, ao longo de diversos capítulos que parecem desligados entre si, até que, da crítica à sociedade actual, dominada pela tecnologia e capitalismo, e de como o indíviduo, apesar do excesso de estímulos que induzem o cérebro em frenética atividade, sente-se mais solitário do que nunca.
«A arte e a ciência são grandes recursos do pensamento do homem e a experiência emocional e racional do belo e do verdadeiro é liberdade de pensamento, mas também descoberta cognoscitiva, caminho para fugir de um mundo dominado pelo mercado, pelo domínio do mais forte ou do mais rico, pela irracional «bulimia dos consumos» e pela patológica «anorexia dos valores», que emergem como metas consoladoras.» (p. 132)
A rebeldia do título é, portanto, a dos artistas e cientistas, esses homens de pensamento lento que são, aliás, em número cada vez menor, da mesma forma que diminui a actividade cerebral dos mais jovens, enquanto que, paradoxalmente, apesar das redes e do digital, aumenta a sua solidão. Citando Balzac, o autor expõe como «a obediência é resultado do instinto das massas», sendo a revolta «resultado da sua reflexão» (p. 129). A cultura deveria ter o tempo lento da reflexão, mas vivem-se tempos em que está subjugada pelas leis do mundo económico e até «o pensamento criativo foi redimensionado» e é agora «apreciado pelo seu valor de mercado» (p. 125). A cultura de hoje serve uma lógica neoliberal que «consegue sugerir, quase impor, a definição do que é belo e do que não o é e estabelecer, também, um prazo de validade, pois o mercado quer que o belo seja rapidamente substituído por outro belo. E depois, o verdadeiro por outro verdadeiro, o bom por outro bom, o justo por outro justo, num mercado dos valores que mudam com o critério da oportunidade. Atualmente, tudo se compra e tudo se vende, até a alma!» (p. 126).
Lamberto Maffei, nascido em 1936, é um médico e cientista italiano. Dirigiu o Instituto de Neurociência de CNR e o Laboratório de Neurobiologia da Escola Normal Superior de Pisa, foi professor emérito de Neurobiologia e recebeu inúmeros prémios na medicina.
Elogio do Amor, de Alain Badiou e Nicolas Truong, publicado pela Edições 70, chancela das Edições Almedina, é aquilo que o próprio título revela: uma elegia do amor. E cumprindo o espírito dos primórdios da filosofia, conforme aos diálogos socráticos, este elogio ao amor surgiu sob a forma de uma conversa pública, pois o texto do livro reelabora o discurso do autor proferido em Julho de 2008, no âmbito do Teatro das Ideias, um ciclo de encontros intelectuais e filosóficos do Festival de Avinhão. A discussão filosófica aqui reproduzida corre com a espontaneidade e clareza de um diálogo entre amigos, e bebe da energia complexa e profunda de uma conversa que brota entre a mente de dois intelectuais: Alain Badiou, licenciado em Filosofia, um dos fundadores da Faculdade de Filosofia da Universidade de Paris VIII com Gilles Deleuze, Michel Foucault e Jean François Lyotard, e Nicolas Truong, interrogador-sábio e jornalista (dirige a secção «Ideias – debates» do jornal Le Monde), e organizador do Teatro das Ideias.
Alain Badiou cita Platão, defendendo que «quem não começar pelo amor nunca saberá o que é a filosofia», até porque, como se sabe, o sentido etimológico da palavra Filosofia é amor à sabedoria.
A definição de amor permanece fugidia e ilusória. Curiosamente, a conversa do autor inicia pela noção enganosa de que seja possível um amor seguro, sem riscos, como acontece com certas redes sociais que prometem a união perfeita entre pessoas com o mínimo de dor e de desilusão. O autor defende então como o amor vive do acaso e de encontros fortuitos, sendo «aquilo que dá intensidade e significado à vida» (p. 16), pelo que uma pesquisa cuidadosa na internet em demanda do parceiro perfeito é tão passível de resultar como quando um país anuncia uma guerra sem mortos. Parece extrema a comparação entre amor e guerra (ainda que não seja inédita), mas para este filósofo compete também à filosofia manter a necessidade de um amor em que o risco e a aventura se reinventam, pois só isso traz sentido à vida e à milagrosa união entre duas pessoas. Se a sexualidade é egoista e solitária – mesmo que implique vislumbrar no corpo do outro a ideia do Belo –, o amor concentra-se sobretudo nesse outro, tal como ele nos aparece, invadindo-nos o ser, reformulando e subvertendo a nossa vida: «o que é o mundo quando o experienciamos a partir de dois e não a partir de um? O que é o mundo, analisado, praticado e vivido a partir da diferença e não a partir da identidade?» (p. 29)
Alain Badiou cita Platão, defendendo que «quem não começar pelo amor nunca saberá o que é a filosofia», até porque, como se sabe, o sentido etimológico da palavra Filosofia é amor à sabedoria.
A definição de amor permanece fugidia e ilusória. Curiosamente, a conversa do autor inicia pela noção enganosa de que seja possível um amor seguro, sem riscos, como acontece com certas redes sociais que prometem a união perfeita entre pessoas com o mínimo de dor e de desilusão. O autor defende então como o amor vive do acaso e de encontros fortuitos, sendo «aquilo que dá intensidade e significado à vida» (p. 16), pelo que uma pesquisa cuidadosa na internet em demanda do parceiro perfeito é tão passível de resultar como quando um país anuncia uma guerra sem mortos. Parece extrema a comparação entre amor e guerra (ainda que não seja inédita), mas para este filósofo compete também à filosofia manter a necessidade de um amor em que o risco e a aventura se reinventam, pois só isso traz sentido à vida e à milagrosa união entre duas pessoas. Se a sexualidade é egoista e solitária – mesmo que implique vislumbrar no corpo do outro a ideia do Belo –, o amor concentra-se sobretudo nesse outro, tal como ele nos aparece, invadindo-nos o ser, reformulando e subvertendo a nossa vida: «o que é o mundo quando o experienciamos a partir de dois e não a partir de um? O que é o mundo, analisado, praticado e vivido a partir da diferença e não a partir da identidade?» (p. 29)
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