Este é o último romance do autor, publicado pela Elsinore, e até agora inédito em Portugal.
Richard Pearson, num momento de crise na sua vida, em que perdeu o trabalho como publicista, parte em busca do pai que nunca conheceu, morto a tiro num centro comercial nas imediações do aeroporto de Heathrow. É neste local aparentemente fora do mapa, o Metro-Centre, que Richard Pearson tenta descobrir quem foi realmente o seu pai mas acaba por se ver enredado numa alucinada escalada de violência, de que os ataques às minorias das comunidades comerciantes imigrantes são apenas um primeiro sintoma, provocada pelo tédio de uma sociedade que tem como únicos escapes o desporto ou o consumismo. O Metro-Centre e a sua ominosa cúpula é recorrentemente comparada a um templo, e não é de estranhar que se destaque como uma espécie de centro nevrálgico omnipresente uma vez que este centro comercial represente esse estranho fenómeno de zonas comerciais que são erigidas no meio do nada e que constroem pequenas cidades em seu redor. Numa linguagem simples e clara, a que não falta ironia crítica, a escrita de Ballard serve um propósito bem estudado, que é o de escalpelizar a realidade – e sente-se muitas vezes como este romance ganha contornos de ensaio, pois são recorrentes (e a repetição é uma das suas ferramentas estilísticas) as referências ao consumismo como doença ou peste e procura-se perceber como a paixão e a violência muitas vezes canalizadas para o desporto podem configurar um mal maior próximo do fascismo. Ballard é aliás um estudioso de Freud – mas mais que um discípulo ele procura prolongar ou expandir as suas teorias da psicanálise – e procura demonstrar como certas pulsões, que aqui nada têm de líbido sexual, podem mover populações, sendo que o consumismo pode revelar-se um importante antídoto para evitar que grupos se movam no sentido do ódio e da violência. A certa altura, com a amizade e o apoio de uma figura pública que move as multidões do Metro-Centre, e aqui entramos numa distopia de pesadelo, Richard desenvolve uma experiência social em que faz do Metro-Centre um «mundo novo» bem como um «santuário, templo e asilo» dessa «profunda paz consumista».
Junto em jeito de conclusão algumas dicas recebidas de dois amigos que são leitores atentos de Ballard: este romance não surge isolado mas na senda de outros (Cocaine Nights ou Millenium People) em que trata a nossa própria realidade como uma distopia a acontecer já, e segundo o autor a função do escritor é criar sobre e a propósito desta ficção científica em que o real se tornou.
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