Pax English: A Nossa Tribo, de Rodrigo Moita de Deus, publicado pela Dom Quixote, com prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa, é uma viagem pela língua ao longo de diferentes eras e locais.

Existem 6909 línguas vivas e apenas 193 países em todo o mundo. Dessas quase 7000 línguas, 2301 estão distribuídas pela Ásia e 286 pela Europa. Metade da população do planeta utiliza apenas 10 dessas línguas. E 96 % de toda a população mundial utiliza apenas 280 dessas línguas. Segundo a UNESCO, todos os anos desaparecem 3 línguas; 1960 línguas encontram-se em perigo de extinção.

Porque desaparecem as línguas? Por deixarem de ser úteis às novas gerações e, principalmente, devido ao êxodo massivo para as cidades – o que suprime o isolamento que antes determinava a variedade de línguas existentes.

Não se sabe bem se a língua é consequência ou causa da criação da maior parte das nações. Indiscutível é a importância da língua para a afirmação cultural e nacional dessas tribos. Aliás, os 193 países do mundo podem ser agrupados, com base na língua, em 3 categorias: Línguas-nação; Nações-língua e Estados.

«As línguas são o pilar da diversidade cultural, e a diversidade cultural é a base de todos os conflitos. As línguas dividem as tribos. Será que as línguas também podem unir as tribos?»

O autor parte de premissas como estas para construir uma apaixonante leitura, baseada em factos e números. Leitura igualmente intimista, com episódios pessoais, que nos intima a refletir na forma como as línguas moldaram países, regiões e conflitos. Sem uma linearidade cronológica, o autor opta por ligar tempos e lugares distintos. Este livro, note-se, foi escrito ao longo de quatro anos e resulta de várias viagens.

Apesar do título, Pax English, nos remeter para a predominância do inglês face às outras línguas, ideia que é aqui também explanada, este livro leva-nos muito além dessa questão, interligando assuntos aparentemente tão díspares como a cultura de massas, a disseminação da importância de contar estórias (o storytelling está fortemente presente nas redes sociais), a importância do livro como pilar cultural e religioso, a inteligência artificial ou a linguagem informática. Acerca do inglês, destaque-se o caso de o Brexit, com a saída de 63 milhões de cidadãos, todos falantes da mesma língua, resulta que existem agora apenas 2 países onde o inglês é a língua oficial, Malta e Irlanda, o que constitui 1 % da população europeia.

Mesmo quando fala de lugares tão distantes como Timor-Leste, onde o português é língua oficial embora pouco falado, o autor revela um bom domínio dos assuntos versados.

Rodrigo Moita de Deus trabalhou no jornalismo, publicidade e blogues. Foi um dos criadores do NewsMuseum, museu dedicado às notícias, aos media e à comunicação, distinguido com vários prémios e nomeado para o Prémio de Museu Europeu do Ano.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.