Outono, o sétimo romance de Ali Smith, uma das escritoras britânicas mais aclamadas nos últimos anos, é um romance complexo que faz ainda uma subtil análise a um período actual e conturbado da história e da política inglesas, a questão do Brexit. Ali Smith nasceu em Inverness, na Escócia, em 1962 e vive em Cambridge. Publicado em Portugal pela Elsinore, este romance foi um dos finalistas do Man Booker Prize de 2017.
Elisabeth nasceu em 1984, e cria uma improvável amizade com Daniel, um homem mais velho que, aliás, tem já a idade do século, com 101 anos de idade. Pela forma como Daniel constantemente pergunta a Elisabeth o que está a ler, sempre que a vê, traçam-se assim os contornos de uma relação que não é de todo sexual, como aliás Elisabeth enfatiza a certa altura, mas socrática. Esta relação de amizade começa aliás quando Elisabeth tem apenas oito anos e a despeito das admoestações da mãe, para não incomodar o vizinho mais velho e certamente gay, a imaginação e a curiosidade e a retórica desta criança começarão a ser alimentadas por Daniel. E são esses diálogos entre os dois que versam de tudo um pouco, começando pela arte e a vida, que constituem não só as melhores partes do livro mas sim o próprio cerne deste fantástico romance.
Quando Daniel fica em coma numa instituição é Elisabeth que toma a si a responsabilidade de o assistir, como se fosse ela a familiar mais próxima (desconhece-se aliás que Daniel tenha alguma família), e faz-lhe companhia, lendo para si.
Este romance é o primeiro de uma tetralogia que parece começar no ocaso da vida para atravessar um ciclo através das quatro estações do ano. Winter, o próximo volume desta tetralogia, já se encontra publicado em inglês, pelo que esperamos que esteja prestes a sair a sua tradução.
Costumo gostar de trilogias e tetralogias, mesmo sem conhecer autora, estranho começar pelo outono.
Talvez por simbolizar o ocaso de uma era…? De um país?