Os Seis Segredos da Inteligência: o que a sua educação não conseguiu ensinar-lhe, de Craig Adams, agora publicado pela Temas e Debates, é um livro fundamental para qualquer pensador ou pedagogo. O autor parte da premissa controversa de que, quando se fala dos nossos tempos como a era da pós-verdade, o problema assenta sobretudo numa educação moderna que não nos ensina a pensar por nós próprios. Por conseguinte, a inteligência, ou a falta dela, isto é, a forma como pensamos, é o resultado daquilo que nos foi incutido, e tem como reflexo a aceitação passiva da desinformação, das fake news, dos debates polémicos e vazios nas redes sociais, em que são debitados argumentos tão ocos quanto veementes, das mentiras descaradas de um político nas suas declarações, ou das estatísticas apresentadas de forma tendenciosa (nestes últimos dois casos, o autor apresenta e desmonta exemplos concretos).

«Quando as pessoas se queixam de um mundo pós-verdade ou das notícias falsas, devíamos perguntar-lhes se acreditam que os políticos da Grécia Antiga – ou os de qualquer outra época ou local – eram mais verdadeiros do que os de hoje. Nunca houve uma idade do ouro da verdade e, por isso, não uma idade do ouro da pós-verdade. A solução para a manipulação do que vemos como verdade não está em chamar “mentirosos” aos nossos opositores. A solução é um pequeno vocabulário de conceitos fundamentais que nos dão a capacidade de perceber essa manipulação, de descrevê-la e de denunciá-la. Só as palavras podem fazer a ponte por cima do mal-entendido» (p. 269)

Craig Adams recua aos clássicos, e demonstra a importância de se recuperarem os três princípios fundadores da escola aristotélica – dedução, indução e analogia – e os três princípios da verdade – realidade, significado e evidência –, como instrumentos essenciais à nossa vida em sociedade, para a análise crítica de debates políticos, discussões filosóficas, ou qualquer outra argumentação em que possamos incorrer e onde muitas vezes somos atropelados sem conseguirmos sequer perceber em que se fundamenta o discurso do outro.

«A filosofia ensina-nos a desconstruir qualquer afirmação sobre o que é verdade pela compreensão da maneira de pensar – as convicções, o tipo de prova e o vocabulário especializado – que lhe deu origem.» (p. 262)

É uma leitura que requer algum tempo e concentração, e que apresenta vários argumentos delicados relativamente às escolas ocidentais: perderam o rumo; focam-se em transmitir factos; o que ensinam não nos ajuda a pensar; muito do que aprendemos assenta na retórica; a criatividade ou a inteligência inata ou o talento são mitos; coloca-se a tónica no desenvolvimento de espírito crítico, sem verdadeiramente o promover; a doutrinação religiosa cria estreiteza de espírito.

Craig Adams vive em Londres e especializou-se em Linguística e Línguas Modernas na Universidade de Oxford. Trabalhou como editor de não-ficção na Penguin, na Profile Books e na HarperCollins. Dececionado por ter de seguir um plano de estudos que não contemplava as ideias que considerava mais importantes, deixou o ensino para escrever este livro.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.