Há uma forte convicção de que este livro é uma sequela de Cidade Aberta, não apenas por ter sido lido ou publicado depois, mas porque este narrador, sem nome, regressa à sua cidade natal de Lagos e pode ser perfeitamente identificado com Julius, o jovem médico que calcorreava a cidade de Nova Iorque como forma de reflexão e de desopressão do trabalho, ou, mais ainda, com o próprio autor, se não fosse pelo facto de Teju Cole ser filho de pais nigerianos mas ter nascido nos Estados Unidos. Tendo saído da Nigéria assim que conseguiu uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, o narrador começa a sua narrativa nas vésperas da sua viagem, quando se dirige ao consulado para obter o visto. Já aí se prenuncia o que se seguirá ao longo do seu regresso a Lagos, mesmo sob os cartazes em que se solicita: «Ajude-nos a combater a corrupção.»
Lagos é uma metrópole, nem sempre reconhecível para o narrador que reencontra familiares, amigos e locais da sua infância e juventude, onde o grande «lubrificante social» é o dinheiro que ajuda a mover as rodas da engrenagem burocrática ao mesmo tempo que mantém as hierarquias sociais no seu devido lugar (p. 26): todo o serviço tem o seu preço e requer a devida gratificação. Lagos é uma cidade de contrastes. Ao ver peças de arte nigeriana em museus em cidades como Londres, Paris e Berlim, o narrador ansiou por um regresso às suas origens, mas quando chega ao Museu Nacional a desolação é total, pois o seu conteúdo é parco e pouco representativo. Um professor local é pago com valores inferiores ao de um professor estrangeiro/branco. Não há monumento que assinale como o comércio de escravos era na ordem das dezenas de milhares e entre 1835 e 1840 atingiu o número de 135 000. A Nigéria é um dos maiores produtores de petróleo do mundo mas metade da cidade de Lagos, confrontada diariamente com cortes de energia, funciona com geradores e as áreas de serviço ou estão encerradas ou não têm combustível.
Um retrato cru e realista no que é uma das melhores representações ficcionais de África na actualidade.
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