Para alguns fãs este pode ser dos melhores livros do autor, cuja obra tem vindo a ser toda publicada pela Quetzal, mas não é certamente o mais fácil.
Começando como o que parece ser um diário de uma viagem a pé pelo condado de Suffolk este livro, com o justo subtítulo de «Uma romagem inglesa», confirma uma natureza difícil de classificar que assiste à ficção de Sebald. Entre o diário de viagem e a ficção, passando pela autobiografia e por vezes ingressando em notas que mais parecem entradas enciclopédicas, o autor não gosta de chamar aos seus livros romances, preferindo apelidá-los de «prosa narrativa». É aliás curioso que o próprio autor refira a certa altura que uma das suas leituras preferidas é o décimo sexto livro de uma série de memórias de Maximilien de Béthune, duque de Sully, além de referir muitas outras narrativas memorialísticas. O deambular alia-se facilmente ao devanear para o autor, retirando impressões e memórias, lidas ou vividas, das paisagens por onde passa, se bem que nem sempre seja claro para o leitor o que pode ligar histórias e notas tão distintas como a história do arenque, a vida e obra de Joseph Conrad, o imperador Xian Feng, ou o bicho da seda e o desenvolvimento da sericicultura. Existem, sim, algumas pontas soltas que por vezes se unem ao longo da narrativa, da mesma forma que perpassa a obra todo um tom melancólico, onde a guerra quase não é mencionada (menciona-se, sim, por exemplo, um fascínio pela guerra aérea como depois se verificou com História Natural da Destruição) mas nas constantes alusões aos séculos XVIII e XIX invoca-se um tempo anterior à Guerra mas onde se sente já o declinar de toda uma época. O livro acaba aliás com a imagem do luto, como um denso véu de seda preta a descer a cortina sobre estas memórias. Talvez por isso se invoque no título a figura sorumbática e opressiva de Saturno?
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