O Mapeador de Ausências é o mais recente romance de Mia Couto, publicado no final de 2020 pela Caminho.
Depois de uma trilogia, o autor presenteia-nos com mais um romance de grande fôlego cuja acção decorre no Moçambique pré e pós-independência, alternando entre 1973, vésperas da Revolução do 25 de Abril que marca o final da guerra colonial e a independência das províncias do ultra-mar, e entre março de 2019, nas vésperas do ciclone Idai que devastou a cidade da Beira – já sei que estou sempre a regressar a este assunto, mas desta vez é o autor que o puxa e não eu.
Diogo Santiago é um prestigiado e respeitado intelectual moçambicano, professor universitário em Maputo e aclamado poeta, reconhecido por todos, com quem se demora para alguns dedos de conversa, regressa depois de uma ausência de muitos anos à sua terra natal, a cidade da Beira, para receber uma homenagem.
O regresso à Beira, dias antes de um apocalipse anunciado, é também o retorno ao seu passado, à história da sua família, quando Diogo Santiago era um menino branco, filho de um pai mais poeta do que jornalista (cujas melhores reportagens foram ficcionadas) e ao tempo em que Moçambique era ainda uma colónia portuguesa e os próprios portugueses brancos se começam a revoltar contra os militares por uma guerra que é uma não-guerra.
Mia Couto parece tomar Diogo Santiago como um alter-ego, jogando com a personagem como duplo ou sombra, ao mesmo tempo que faz uma crítica subtil ao actual Moçambique, descrevendo a realidade de forma fidedigna (para quem viveu ou conhece pela Beira reconhece muitos dos locais, das idiossincrasias, dos costumes), conforme entretece histórias dispersas que formam um mosaico de um país entre o mito e a ruína.
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