Musicofilia, Oliver Sacks
Começa com o estranho caso de um homem que é atingido por um raio numa cabine telefónica e que desde então começa a adorar música clássica e reaprende a tocar piano (depois de ter tido apenas umas aulas em criança). A partir daí, Oliver Sacks, neurologista e professor na Universidade de Columbia, vai narrar uma série de casos de pessoas que sofrem de ataques provocados pela música ou, paradoxalmente, ganham um interesse novo pela música após uma crise.
Acho extremamente curioso como o autor não receia considerar, no caso com que abre o livro, uma experiência quase-morte que é descrita com toda a seriedade. Curiosa também a leveza com que o autor nos conduz por estas páginas que são, afinal, vários casos médicos, descritos com toda a parafernália técnica, mas que nem por isso dificultam a leitura. No prefácio, o autor começa por evocar uma situação descrita num livro de Arthur C. Clarke em que uns extraterrestres descem à Terra apenas para ouvir a música produzida pelos humanos, mesmo que enquanto espécie a música lhes seja algo estranho e não lhes diz nada, além de ser perfeitamente inútil… Contudo, ocorre-me ainda, a propósito de tudo isto, o facto de andarmos a enviar música para o espaço… O autor considera ainda como a música é tão inerente à condição humana como a linguagem, pois da mesma forma que temos necessidade de verbalizar e comunicar o mundo também temos ritmos inerentes e dificilmente somos indiferentes, quer gostemos quer não gostemos, à música, mesmo quando se trata da não-música que invade o mundo hoje. A nossa reacção à música é uma experiência auditiva, emocional e motora, e nalguns casos ganha contornos de transcendência, como se pode ver nalguns casos aqui descritos, em que a música nos pode transportar para um lugar seguro ou uma memória da nossa juventude.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.