Musicofilia, Oliver Sacks
Começa com o estranho caso de um homem que é atingido por um raio numa cabine telefónica e que desde então começa a adorar música clássica e reaprende a tocar piano (depois de ter tido apenas umas aulas em criança). A partir daí, Oliver Sacks, neurologista e professor na Universidade de Columbia, vai narrar uma série de casos de pessoas que sofrem de ataques provocados pela música ou, paradoxalmente, ganham um interesse novo pela música após uma crise.
Acho extremamente curioso como o autor não receia considerar, no caso com que abre o livro, uma experiência quase-morte que é descrita com toda a seriedade. Curiosa também a leveza com que o autor nos conduz por estas páginas que são, afinal, vários casos médicos, descritos com toda a parafernália técnica, mas que nem por isso dificultam a leitura. No prefácio, o autor começa por evocar uma situação descrita num livro de Arthur C. Clarke em que uns extraterrestres descem à Terra apenas para ouvir a música produzida pelos humanos, mesmo que enquanto espécie a música lhes seja algo estranho e não lhes diz nada, além de ser perfeitamente inútil… Contudo, ocorre-me ainda, a propósito de tudo isto, o facto de andarmos a enviar música para o espaço… O autor considera ainda como a música é tão inerente à condição humana como a linguagem, pois da mesma forma que temos necessidade de verbalizar e comunicar o mundo também temos ritmos inerentes e dificilmente somos indiferentes, quer gostemos quer não gostemos, à música, mesmo quando se trata da não-música que invade o mundo hoje. A nossa reacção à música é uma experiência auditiva, emocional e motora, e nalguns casos ganha contornos de transcendência, como se pode ver nalguns casos aqui descritos, em que a música nos pode transportar para um lugar seguro ou uma memória da nossa juventude.
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