Jules Moreau vive com os pais e com os dois irmãos mais velhos. Mas aos onze anos perde os pais num acidente de automóvel. A essa tragédia segue-se o seu ingresso num internato. E à dor dessa perda sucede-se ainda a quebra dos laços de irmandade. A irmã Liz e o irmão Marty apesar de estarem no mesmo colégio de Jules tornam-se eles mesmos uns estranhos, enquanto Jules passa o final da infância e a adolescência na demanda da sua identidade, agora como órfão. Do pai herda o cabelo negro e a barba forte, bem como o amor pela fotografia. A sua outra paixão, e consolo para a sua solidão, será Alva, uma menina de pele pálida e cabelos ruivos, com quem partilha as suas paixões menores na leitura, na música, ou no silêncio de uma amizade cúmplice que prenuncia já um amor adulto. E é já como adulto que o jovem Jules perceberá que a vida é feita de regressos e reencontros.
Ao longo do livro, entre 1980 e 2014, sensivelmente, assistimos assim ao crescimento de Jules e à sua tentativa de sanar a solidão, até que esta atinge o ponto máximo de uma dor tão avassaladora que pode implicar o corte desejado da própria vida: «Há muito que conheço a morte. Agora, porém, também ela me conhece.» (p. 11)
O livro peca apenas por na parte final se tornar um pouco repetitivo, quase como se o autor e a personagem fossem um só e procurassem exorcizar os seus demónios através da escrita, até porque «Uma infância difícil é como um inimigo invisível (…). Nunca se sabe quando nos vai atingir.» (p. 123)
Afirma o autor que este seu quarto romance é uma «catarse»: «Este foi o livro que eu tive de escrever. Os próximos são os livros que eu quero escrever. Agora sinto-me totalmente livre.»
Benedict Wells nasceu em Munique em 1984 e passou por 3 colégios internos, a partir dos 6 anos de idade. Este romance foi escrito ao longo de 7 anos e é inspirado em factos da sua vida. Publicado pela Asa e vencedor do Prémio de Literatura da União Europeia, o romance encontra-se traduzido para 30 línguas.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.