Carolina Beatriz Ângelo. Um Pequeno Grande Gesto de Coragem, com texto de Carla Maia de Almeida e ilustrações de Delfim Ruas, é mais um título da colecção Grandes Vidas Portuguesas, editada em parceria pela editora Pato Lógico e a Imprensa Nacional, dedicada às histórias de vida de personalidades que se destacaram em diversos domínios da nossa história.
Em Lisboa, corre o ano de 1911. Sopram ventos de mudança. Caído o regime monárquico, o país vai a votos mas as mulheres que lutaram pela Primeira República e teceram as bandeiras do 5 de Outubro não podem votar.
Nos nossos dias, a Carolina tem 11 anos quando acompanha o avô e a mãe à urna num domingo chuvoso. Mais tarde, em casa, o avô conta-lhe a história de outra Carolina: «Nesse dia, o avô contou-me um pouco da história de Carolina Beatriz Ângelo. Médica, republicana, feminista, sufragista, pacifista e… uma mulher de «córagem», como ele gosta de dizer.»
Essa grande mulher portuguesa somou vários feitos ao longo da vida: em 1902, concluiu a formação superior na Escola Médico-Cirúrgica; era a segunda mulher a formar-se em Portugal; dedica-se à ginecologia, ramo ainda pouco desenvolvido da medicina que na época designavam por «doenças de senhoras»; será a primeira médica portuguesa a realizar uma operação cirúrgica, no Hospital de São José, em Lisboa; militou na causa republicana; mas sobretudo foi a primeira mulher a votar em Portugal e no Sul da Europa. Este acto inédito, no dia 28 de Maio de 1911, só foi possível graças a uma questão gramatical, à ajuda de um juíz justo, pai de Ana de Castro Osório, e não se repetirá novamente por várias décadas, até se conquistar o direito de sufrágio universal após o 25 de Abril de 1974.
Carla Maia de Almeida conta-nos a história desta sufragista, pela perspectiva bem conseguida de uma menina chamada Carolina que começa a ver o mundo com novos olhos, inspirada pelas histórias que o avô mantém vivas de exemplos de mulheres corajosas, como a americana Rosa Parks que em 1955 se recusa a ceder o lugar no autocarro a um homem branco, o que origina uma onda de contestação pacífica da população afro-americana, até que um ano depois a lei finalmente mudou, pondo fim à discriminação racial nos transportes públicos. As ilustrações de Delfim Ruas são belíssimas, a conjugar magistralmente a sobriedade de uma época quase sem cor, muito bem capturada em diversos pormenores (desde a omnipresença masculina, ao trabalho do povo e à guerra), com o poder intrusivo e libertador do sonho e da vontade.
Carla Maia de Almeida nasceu em Matosinhos, em 1969, é licenciada e pós-graduada em Comunicação Social com uma pós-graduação em Livro Infantil, jornalista de imprensa desde 1992, com mais de 10 títulos publicados para crianças e jovens. Este livro é o segundo escrito pela autora para a presente Colecção, depois de Ana de Castro Osório. A Mulher Que Votou na Literatura.
O ilustrador Delfim Ruas nasceu em 1989, em Viseu, licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2012, fez Mestrado em Ilustração. Trabalha como ilustrador e concept artist e expõe regularmente, a título individual e colectivo, desde 2009.
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