Contra a barbárie – um alerta para os nossos dias, de Klaus Mann
Como governar um país, de Cícero, Um Verão com Montaigne, de Antoine Compagnon, ou Contra a barbárie, de Klaus Mann são alguns dos títulos reunidos pela colecção da «Gradiva breve», onde não falta ainda um texto do Papa Francisco.
O que é que estes pequenos livros que integram esta colecção – com um fantástico formato de bolso como já raramente se vê – têm em comum? Dar a conhecer reflexões de figuras dos nossos dias bem como evidenciar a actualidade de pensadores de tempos mais remotos. É o que acontece com este pequeno livro que se pode transportar no bolso do casaco e folhear nos momentos livres em qualquer lugar. Reúnem-se diversos textos, aparentemente bastante díspares, deste jovem escritor (que se suicidou com cerca de 43 anos, em 1949) que, a par do seu pai Thomas Mann, é considerado um dos mais importantes escritores alemães. Estes textos e intervenções de um escritor politicamente empenhado estão coligidos de forma coesa por anos, desde 1930 a 1945, dando conta da escalada do partido nazi, da ascensão de Hitler (quando, dada a sua «mediocridade» ninguém podia prever que esta «caricatura» de homem pudesse vencer de facto e tornar-se tão perigoso), da desertificação intelectual da Alemanha pelos poetas, músicos, e do seu exílio noutros países, e do preço necessário a outros artistas para puderem permanecer no seu país. Desfilam nestes textos referências a figuras como Einstein, Stefan Zweig, Wagner, Richard Strauss, e não falta ao autor um fino sentido de humor para falar de assuntos bastante preocupantes que chega mesmo a tornar-se cáustico, nomeadamente quando escreve acerca de Hitler: «Relativamente ao estilo de Hitler podemos constatar que ele maltrata tanto a língua alemã como maltrata os seus adversários políticos. A única coisa que Mein Kampf prova é a ignorância e a arrogância do seu autor.» (pág. 88).
Nas redes sociais tem-se vindo a notar alguma incompreensão por parte de alguns face ao interesse demonstrado pelo que se passa no outro lado do mundo, mas como explana o próprio autor: «Os nossos destinos estão ligados, amigos – reflictam nisso. Se o infame bando que está à frente do nosso país continuar no poder, também vão chegar ao poder bandos infames nos vossos países» (pág. 58).
Gostava de vos poder deixar algumas frases emblemáticas presentes neste livro mas a verdade é que elas multiplicam-se página a página. E sempre que lemos sobre Hitler e sobre os tempos que o tornam possível parece que estamos afinal a ler sobre alguém bem mais actual, pois essa figura representa acima de tudo os riscos que resultam de escolhas de pessoas pouco informadas. Pessoas que certamente não lêm livros como este e grandes pensadores como Klaus Mann.
«Espero com impaciência os dias pacíficos do futuro, em que nos será de novo possível concentrar as forças na tarefa construtiva de edificar um mundo melhor e mais sólido – enquanto hoje somos obrigados a defender um mundo que representa apenas um bem relativo de um agressor que encarna o mal.» (pág. 85)
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