Carolina Beatriz Ângelo. Um Pequeno Grande Gesto de Coragem, com texto de Carla Maia de Almeida e ilustrações de Delfim Ruas, é mais um título da colecção Grandes Vidas Portuguesas, editada em parceria pela editora Pato Lógico e a Imprensa Nacional, dedicada às histórias de vida de personalidades que se destacaram em diversos domínios da nossa história. Ver artigo
O Mapeador de Ausências é o mais recente romance de Mia Couto, publicado no final de 2020 pela Caminho. Ver artigo
«Enquanto Factfulness é sobre as razões pelas quais as pessoas consideram o desenvolvimento à escala global tão difícil de entender, este livro é sobre mim e sobre como cheguei a esse conhecimento.
Por outras palavras, esta é uma memória. Ao contrário de Factfulness, é muito escassa em números. Em vez disso, conto histórias sobre ter conhecido pessoas que me abriram os olhos e me fizeram recuar e pensar duas vezes.» (p. 10)
Como Aprendi a Compreender o Mundo, publicado pela Temas E Debates, é o livro de memórias de Hans Rosling, que se tornou mundialmente conhecido como o génio sueco da estatística, mas cuja história de vida é totalmente distinta. Quando em 2016 se confirma o diagnóstico de cancro do pâncreas escrever este livro, com a colaboração da jornalista sueca Fanny Härgestam, torna-se uma prioridade. O autor faleceu em 2017.
Hans Rosling começa por contar a história da sua família e de como as mudanças ao longo das últimas gerações o ajudaram a perspectivar a evolução num mundo mais vasto, ao testemunhar como a vida dos seus avôs e pais, que eram pobres, mudou, conforme a Suécia, um estado social em expansão, melhorou as suas condições económicas e de saúde. Por conseguinte, nos anos 60 na Suécia, era comum crescer numa casa simples e o pai ser operário numa fábrica, mas «ser o primeiro da família a ir para a universidade era raro e especial» (p. 39). Hans estava ainda no primeiro ano de medicina quando conhece Eduardo Mondlane, um professor assistente moçambicano em Nova Iorque que deixou a carreira académica para passar a liderar a FRELIMO, a Frente de Libertação de Moçambique. No fim desse encontro, Mondlane faz Hans prometer que irá trabalhar em Moçambique como médico, dois anos depois Mondlane é assassinado, mas Hans cumprirá a sua promessa. Um dos aspectos mais curiosos desta memória do autor é a relação que estabelece com o Moçambique pós-independência (ele e a mulher aprenderam português ainda antes da viagem, como parte dos preparativos). Apesar de este livro cruzar várias experiências ao longo da vida do autor, com passagem por diversos locais como Cuba ou o combate na linha da frente à epidemia de ébola na África Ocidental, é claro como a sua experiência e aprendizagem em Moçambique será determinante, apesar de durar 2 anos apenas, e constituir praticamente metade destas memórias, até na forma como o autor revela uma imensa humildade e humor perante os desafios que enfrentou.
Hans Rosling foi médico, investigador e professor de Saúde Internacional. Foi conselheiro da Organização Mundial de Saúde e da UNICEF e cofundador dos Médicos sem Fronteiras na Suécia e da Gapminder Foundation. Fez parte da lista da Times das cem pessoas mais influentes do mundo e as suas conferências TED foram vistas mais de 35 milhões de vezes. Hans morreu em 2017, tendo dedicado os seus últimos anos à escrita de Factfulness, publicado pela Temas e Debates em 2019.
Por outras palavras, esta é uma memória. Ao contrário de Factfulness, é muito escassa em números. Em vez disso, conto histórias sobre ter conhecido pessoas que me abriram os olhos e me fizeram recuar e pensar duas vezes.» (p. 10)
Como Aprendi a Compreender o Mundo, publicado pela Temas E Debates, é o livro de memórias de Hans Rosling, que se tornou mundialmente conhecido como o génio sueco da estatística, mas cuja história de vida é totalmente distinta. Quando em 2016 se confirma o diagnóstico de cancro do pâncreas escrever este livro, com a colaboração da jornalista sueca Fanny Härgestam, torna-se uma prioridade. O autor faleceu em 2017.
Hans Rosling começa por contar a história da sua família e de como as mudanças ao longo das últimas gerações o ajudaram a perspectivar a evolução num mundo mais vasto, ao testemunhar como a vida dos seus avôs e pais, que eram pobres, mudou, conforme a Suécia, um estado social em expansão, melhorou as suas condições económicas e de saúde. Por conseguinte, nos anos 60 na Suécia, era comum crescer numa casa simples e o pai ser operário numa fábrica, mas «ser o primeiro da família a ir para a universidade era raro e especial» (p. 39). Hans estava ainda no primeiro ano de medicina quando conhece Eduardo Mondlane, um professor assistente moçambicano em Nova Iorque que deixou a carreira académica para passar a liderar a FRELIMO, a Frente de Libertação de Moçambique. No fim desse encontro, Mondlane faz Hans prometer que irá trabalhar em Moçambique como médico, dois anos depois Mondlane é assassinado, mas Hans cumprirá a sua promessa. Um dos aspectos mais curiosos desta memória do autor é a relação que estabelece com o Moçambique pós-independência (ele e a mulher aprenderam português ainda antes da viagem, como parte dos preparativos). Apesar de este livro cruzar várias experiências ao longo da vida do autor, com passagem por diversos locais como Cuba ou o combate na linha da frente à epidemia de ébola na África Ocidental, é claro como a sua experiência e aprendizagem em Moçambique será determinante, apesar de durar 2 anos apenas, e constituir praticamente metade destas memórias, até na forma como o autor revela uma imensa humildade e humor perante os desafios que enfrentou.
Hans Rosling foi médico, investigador e professor de Saúde Internacional. Foi conselheiro da Organização Mundial de Saúde e da UNICEF e cofundador dos Médicos sem Fronteiras na Suécia e da Gapminder Foundation. Fez parte da lista da Times das cem pessoas mais influentes do mundo e as suas conferências TED foram vistas mais de 35 milhões de vezes. Hans morreu em 2017, tendo dedicado os seus últimos anos à escrita de Factfulness, publicado pela Temas e Debates em 2019.
O livro recentemente lançado de Teolinda Gersão, O regresso de Júlia Mann a Paraty, autora publicada pela Porto Editora, celebra os seus 40 anos de vida literária, em simultâneo com a publicação da 7.ª edição da colectânea de contos A mulher que prendeu a chuva e outras histórias.
Este pequeno grande livro compõe-se de três novelas que se entrecruzam, de modo surpreendente, e que parecem ressoar o período em que Teolinda Gersão foi leitora de português na Universidade Técnica de Berlim (a autora viveu três anos na Alemanha), e professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada.
(…)
O virtuosismo na arte da novela de O regresso de Júlia Mann a Paraty reside sobretudo na forma como assenta em cartas, diálogos mudos que se estabelecem com interlocutores ausentes, como Mann que escreve a Freud em pensamento e vice-versa, ou na forma como Júlia escreve mentalmente ao pai cartas nunca enviadas. Virtuosismo narrativo que culmina num volte-face, presente e insinuado, mas revelado apenas no final.
Este pequeno grande livro compõe-se de três novelas que se entrecruzam, de modo surpreendente, e que parecem ressoar o período em que Teolinda Gersão foi leitora de português na Universidade Técnica de Berlim (a autora viveu três anos na Alemanha), e professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada.
(…)
O virtuosismo na arte da novela de O regresso de Júlia Mann a Paraty reside sobretudo na forma como assenta em cartas, diálogos mudos que se estabelecem com interlocutores ausentes, como Mann que escreve a Freud em pensamento e vice-versa, ou na forma como Júlia escreve mentalmente ao pai cartas nunca enviadas. Virtuosismo narrativo que culmina num volte-face, presente e insinuado, mas revelado apenas no final.
texto a sair na íntegra daqui a umas semanas
Zalatune, o mais recente livro de Nuno Gomes Garcia, publicado em Janeiro deste ano pela Manuscrito (Grupo Editorial Presença), é um thriller de fôlego capaz de prender o leitor mais renitente – pois é certo que nos dias que correm nem sempre é fácil termos a concentração necessária à leitura.
Apesar de correr o ano não muito distante de 2034, e de o cenário ser Ínsula, ilha insulada algures no Mediterrâneo, de onde se avista por vezes o continente meridional, há diversos pontos de ligação com a actualidade que tornam este livro menos uma distopia do que um mundo possível terrivelmente próximo: Ínsula foi o único país do planeta a sobreviver a uma pandemia em 2029 que dizimou os mais velhos; a ilha confinou-se ao mundo assim que se percebeu que o povo era imune; a procriação é uma missão patriótica e as relações homossexuais são crime; reinstaurou-se a pena capital; os estrangeiros que vêm do Sul são inimigos; os refugiados que conseguem aportar à ilha (sem serem exterminados no mar) são colocados em «campos de acolhimento» quando, na verdade, se preparam para serem tomados como escravos em troca do acolhimento prestado; o Primeiro-Ministro governa numa espécie de Big Brother, em que toda a sua vida é filmada; cada decisão política que urge é tomada pela população com base num referendo; a Internet foi substituída por uma Intranet; prepara-se, por fim, a construção de um muro protector que proteja a ilha de novas invasões.
Ínsula configura assim uma espécie de alegoria de tudo o que vai mal no mundo: «Se Deus não estivesse morto e enterrado, dir-se-ia sermos o povo eleito.» (p. 198)
A narrativa é construída de modo bastante cinematográfico, com algumas personagens centrais, cuja vida nos vai sendo desvelada em analepses que alternam com o ritmo da acção que se torna cada vez mais tenso, até que, a partir de metade do livro, o mistério adensa-se ainda mais quando a ilha começa a sacudir-se e um a um os habitantes da ilha começam a desaparecer, volatilizando-se no ar, o que relembraria a trama da série The Leftovers (HBO), não fosse o facto de cada uma destas pessoas parecer partir num acto consciente e de vontade plena, deixando antes um bilhete: «Parti para Zalatune».
Nuno Gomes Garcia nasceu em Matosinhos em 1978, estudou História e foi arqueólogo. Vive em Paris, onde é consultor editorial e divulgador da literatura lusófona na rádio e na imprensa escrita.
Apesar de correr o ano não muito distante de 2034, e de o cenário ser Ínsula, ilha insulada algures no Mediterrâneo, de onde se avista por vezes o continente meridional, há diversos pontos de ligação com a actualidade que tornam este livro menos uma distopia do que um mundo possível terrivelmente próximo: Ínsula foi o único país do planeta a sobreviver a uma pandemia em 2029 que dizimou os mais velhos; a ilha confinou-se ao mundo assim que se percebeu que o povo era imune; a procriação é uma missão patriótica e as relações homossexuais são crime; reinstaurou-se a pena capital; os estrangeiros que vêm do Sul são inimigos; os refugiados que conseguem aportar à ilha (sem serem exterminados no mar) são colocados em «campos de acolhimento» quando, na verdade, se preparam para serem tomados como escravos em troca do acolhimento prestado; o Primeiro-Ministro governa numa espécie de Big Brother, em que toda a sua vida é filmada; cada decisão política que urge é tomada pela população com base num referendo; a Internet foi substituída por uma Intranet; prepara-se, por fim, a construção de um muro protector que proteja a ilha de novas invasões.
Ínsula configura assim uma espécie de alegoria de tudo o que vai mal no mundo: «Se Deus não estivesse morto e enterrado, dir-se-ia sermos o povo eleito.» (p. 198)
A narrativa é construída de modo bastante cinematográfico, com algumas personagens centrais, cuja vida nos vai sendo desvelada em analepses que alternam com o ritmo da acção que se torna cada vez mais tenso, até que, a partir de metade do livro, o mistério adensa-se ainda mais quando a ilha começa a sacudir-se e um a um os habitantes da ilha começam a desaparecer, volatilizando-se no ar, o que relembraria a trama da série The Leftovers (HBO), não fosse o facto de cada uma destas pessoas parecer partir num acto consciente e de vontade plena, deixando antes um bilhete: «Parti para Zalatune».
Nuno Gomes Garcia nasceu em Matosinhos em 1978, estudou História e foi arqueólogo. Vive em Paris, onde é consultor editorial e divulgador da literatura lusófona na rádio e na imprensa escrita.
1984, de George Orwell, foi publicado pela Livros do Brasil na colecção Dois Mundos em simultâneo com a Quinta dos Animais. Dois clássicos fundamentais agora reeditados por uma boa parte das grandes editoras (a capa da Porto Editora conta ainda com ilustrações de Vhils), assinalando a entrada da obra de Orwell em domínio público, que procuram novos leitores ou simplesmente uma releitura, uma vez que parece ter chegado o tempo das distopias, entre pandemia, desgovernação, novas tecnologias, e a ascensão de regimes neofascistas. Note-se que logo em 2017, com a eleição de Trump, as vendas de 1984 (originalmente publicado em 1949) dispararam.
Winston Smith, de 39 anos, é um funcionário do Ministério da Verdade cuja função é reescrever a História. Vive em Londres, a principal cidade de Pista Um, terceira província mais populosa da Oceânia, onde a filosofia dominante é o Socing. O mundo está dividido em três grandes superestados, Oceânia, Estásia, Eurásia, em guerra permanente há 25 anos.
Corre o ano de 1984, se bem que Winston não tem já a certeza, pois ao reescrever a História falsifica-se todo o passado e apesar de ele próprio contribuir para tal não tem como o provar: «Todos os registos foram destruídos ou falsificados, todos os livros foram reescritos, todos os quadros foram repintados, todas as estátuas e ruas foram renomeadas, todas as datas foram alteradas. E esse processo continua, dia após dia, minuto após minuto. A história parou. Nada existe a não ser um presente sem fim no qual o Partido tem sempre razão.» (p. 160)
A reescrita da verdade, aliada à ideia de se viver numa guerra permanente, permite a uma sociedade completamente hierarquizada, descendente dos antigos regimes totalitários, manter a sua estrutura intocável. Os habitantes da Oceânia, cuja vestimenta foi em tempos uma farda dos trabalhadores manuais, vivem na pobreza e ignorância, o que se tornou fácil com a manipulação da ordem pública pela imprensa e uma vigilância permanente por parte do Grande Irmão, figura que parece viver nos telecrãs omnipresentes que tudo registam e tudo emitem, num escrutínio que parece até capaz de ler pensamentos. Por isto, acções simples como Winston registar os seus pensamentos num diário ou amar Julia revelam-se actos criminosos:
«Antigamente, pensou, um homem olhava para o corpo de uma mulher e sentia desejo, ponto final. Mas, hoje em dia, não era possível ter um amor puro, nem desejo puro. Nenhuma emoção era pura, porque estava tudo misturado com medo e ódio. O abraço tinha sido uma batalha, o clímax uma vitória. Tinha sido um golpe contra o Partido. Tinha sido um ato político.» (p. 131)
Winston Smith, de 39 anos, é um funcionário do Ministério da Verdade cuja função é reescrever a História. Vive em Londres, a principal cidade de Pista Um, terceira província mais populosa da Oceânia, onde a filosofia dominante é o Socing. O mundo está dividido em três grandes superestados, Oceânia, Estásia, Eurásia, em guerra permanente há 25 anos.
Corre o ano de 1984, se bem que Winston não tem já a certeza, pois ao reescrever a História falsifica-se todo o passado e apesar de ele próprio contribuir para tal não tem como o provar: «Todos os registos foram destruídos ou falsificados, todos os livros foram reescritos, todos os quadros foram repintados, todas as estátuas e ruas foram renomeadas, todas as datas foram alteradas. E esse processo continua, dia após dia, minuto após minuto. A história parou. Nada existe a não ser um presente sem fim no qual o Partido tem sempre razão.» (p. 160)
A reescrita da verdade, aliada à ideia de se viver numa guerra permanente, permite a uma sociedade completamente hierarquizada, descendente dos antigos regimes totalitários, manter a sua estrutura intocável. Os habitantes da Oceânia, cuja vestimenta foi em tempos uma farda dos trabalhadores manuais, vivem na pobreza e ignorância, o que se tornou fácil com a manipulação da ordem pública pela imprensa e uma vigilância permanente por parte do Grande Irmão, figura que parece viver nos telecrãs omnipresentes que tudo registam e tudo emitem, num escrutínio que parece até capaz de ler pensamentos. Por isto, acções simples como Winston registar os seus pensamentos num diário ou amar Julia revelam-se actos criminosos:
«Antigamente, pensou, um homem olhava para o corpo de uma mulher e sentia desejo, ponto final. Mas, hoje em dia, não era possível ter um amor puro, nem desejo puro. Nenhuma emoção era pura, porque estava tudo misturado com medo e ódio. O abraço tinha sido uma batalha, o clímax uma vitória. Tinha sido um golpe contra o Partido. Tinha sido um ato político.» (p. 131)
Uma Paixão Simples, de Annie Ernaux, com tradução de Tereza Coelho, publicado na coleção Miniatura da editora Livros do Brasil, é um pequeno mas controverso livro de 72 páginas, uma narrativa que quebra os estereótipos do romance sentimental, adaptada ao cinema por Danielle Arbid.
Depois de ter ficado surpreso e maravilhado com a técnica narrativa da autora em Os Anos, publicado também em 2020 pela Livros do Brasil (talvez um dos melhores livros do ano passado, e apresentado no Postal do Algarve), li este livro com expectativa.
A história de uma mulher culta, independente, divorciada, com filhos adultos, que vive numa completa suspensão a viver uma paixão cheia de regras (que a si própria impõe), à espera dos momentos livres de um homem casado, estrangeiro, mais jovem (quando o reencontra, finda a paixão, ele terá então 38 anos): «Tudo era uma carência interminável, a não ser o momento em que estávamos juntos a fazer amor. E, além disso, obcecava-me o momento seguinte, em que ele se ia embora. Vivia o prazer como uma dor futura.» (p. 41)
Podemos supor que a narradora escreve como se dirigisse uma carta a um eu mais jovem, sem admoestar ou zombar a sua cegueira de então, mas na verdade, naquele que parece ser um texto assumidamente autobiográfico tão honesto quanto intenso, ela escreve para reviver essa mesma paixão pois quando começou a escrever era «para continuar nesse tempo» (p. 55). Da mesma forma que ao vivê-la tinha a impressão de estar «a escrever um livro, a mesma necessidade de não falhar nenhuma cena, a mesma preocupação com todos os pormenores» (pp. 17-18). Uma paixão que pode ser simples, mas nem por isso menos plena de significado ao ponto de nela se consumir: «E até pensei que não me importava de morrer depois de ter ido até ao fim desta paixão – sem dar um sentido preciso a «até ao fim» -, da mesma maneira que poderia morrer depois de ter acabado de escrever isto, daqui a uns meses.» (p. 18)
Para esta narradora, corajosa e contida, não se trata de «explicar» a sua paixão, mas de «expô-la», advertindo o leitor de que «é um erro comparar aquele que escreve sobre a sua vida com um exibicionista, porque um exibicionista só quer uma coisa, mostrar-se e ser visto no mesmo instante» (p. 37). Mas escrever, ainda que não o assuma plenamente, vai além de um acto egoísta e privado, e é também uma forma de comunicar com o mundo: «Pergunto a mim própria se não escrevo para saber se os outros fizeram ou disseram coisas idênticas, ou então para eles acharem normal sentir essas coisas. Ou mesmo para que as vivam, esquecendo-se de que leram aquilo um dia em qualquer parte.» (p. 59)
E a autora-narradora está ciente do que publicar este texto implica: «Quando eu começar a passar este texto à máquina, e ele me aparecer em caracteres públicos, a minha inocência acabou.» (p. 63)
Depois de ter ficado surpreso e maravilhado com a técnica narrativa da autora em Os Anos, publicado também em 2020 pela Livros do Brasil (talvez um dos melhores livros do ano passado, e apresentado no Postal do Algarve), li este livro com expectativa.
A história de uma mulher culta, independente, divorciada, com filhos adultos, que vive numa completa suspensão a viver uma paixão cheia de regras (que a si própria impõe), à espera dos momentos livres de um homem casado, estrangeiro, mais jovem (quando o reencontra, finda a paixão, ele terá então 38 anos): «Tudo era uma carência interminável, a não ser o momento em que estávamos juntos a fazer amor. E, além disso, obcecava-me o momento seguinte, em que ele se ia embora. Vivia o prazer como uma dor futura.» (p. 41)
Podemos supor que a narradora escreve como se dirigisse uma carta a um eu mais jovem, sem admoestar ou zombar a sua cegueira de então, mas na verdade, naquele que parece ser um texto assumidamente autobiográfico tão honesto quanto intenso, ela escreve para reviver essa mesma paixão pois quando começou a escrever era «para continuar nesse tempo» (p. 55). Da mesma forma que ao vivê-la tinha a impressão de estar «a escrever um livro, a mesma necessidade de não falhar nenhuma cena, a mesma preocupação com todos os pormenores» (pp. 17-18). Uma paixão que pode ser simples, mas nem por isso menos plena de significado ao ponto de nela se consumir: «E até pensei que não me importava de morrer depois de ter ido até ao fim desta paixão – sem dar um sentido preciso a «até ao fim» -, da mesma maneira que poderia morrer depois de ter acabado de escrever isto, daqui a uns meses.» (p. 18)
Para esta narradora, corajosa e contida, não se trata de «explicar» a sua paixão, mas de «expô-la», advertindo o leitor de que «é um erro comparar aquele que escreve sobre a sua vida com um exibicionista, porque um exibicionista só quer uma coisa, mostrar-se e ser visto no mesmo instante» (p. 37). Mas escrever, ainda que não o assuma plenamente, vai além de um acto egoísta e privado, e é também uma forma de comunicar com o mundo: «Pergunto a mim própria se não escrevo para saber se os outros fizeram ou disseram coisas idênticas, ou então para eles acharem normal sentir essas coisas. Ou mesmo para que as vivam, esquecendo-se de que leram aquilo um dia em qualquer parte.» (p. 59)
E a autora-narradora está ciente do que publicar este texto implica: «Quando eu começar a passar este texto à máquina, e ele me aparecer em caracteres públicos, a minha inocência acabou.» (p. 63)
Annie Ernaux nasceu na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017) e o Prémio Formentor de las Letras (2019) pelo conjunto da sua obra.
O terceiro volume da tetralogia publicada pela Dom Quixote José e os seus irmãos, intitulado José no Egito, de Thomas Mann, retoma, sem pausas nem saltos temporais, a narrativa do volume anterior, no ponto em que ficámos, momentos depois de José ser socorrido do fundo do poço em que os irmãos o deixaram para morrer durante dias.
Ainda que tenha aprendido uma dura lição, que o levará daí em diante a ser mais contido nas palavras e no orgulho (e simbolicamente perdido o seu manto multicolor), José continua ainda a revelar «algo de tortuoso, ao mesmo tempo amável e malicioso, algo que conseguia cativar a atenção dos demais» (p. 419). É particularmente divertida a forma como ao ser resgatado por uma caravana de mercadores madianitas que o conduzirão até ao Egito (Egipto?) para o vender como escravo, José dirá ao ancião “que o levam” enquanto o velho responde «Mete lá na tua cabeça que és tu quem chega ao lugar aonde nos levam os nossos passos. Não vou para o Egito para te conduzir a tal destino, mas sim porque tenho lá negócios a tratar» (p. 33).
José será vendido como escravo a Putifar, o eunuco chefe dos guardas do palácio do faraó, enquanto mantém a sua absoluta confiança em Deus: «Acreditava, sim, que o Altíssimo forjava planos futuros, talvez ainda não completamente claros para a razão humana, a respeito da sua pessoa, tendo-o, por isso, arrancado à sua vida passada e lançado num mundo totalmente novo.» (p. 51)
Poder-se-ia até pensar que ao ter partido sem olhar para trás, e quase sem se deter a pensar em Jaacob, o pai que tanto o amava (e preferia aos outros filhos), José se prepara para uma nova vida, não fosse o facto de ele se considerar morto a vogar no reino do submundo – e é particularmente curiosa a ligação profunda e constantemente evocada e explicitada entre o Egipto e o Mundo dos Mortos, além de que José sempre ouvira Jaacob, o pai, dizer que o Egipto equivalia ao submundo.
Talvez por isso o esmero narrativo das descrições do Egipto são sempre absolutamente fantásticas e estonteantes, evocativas de um reino de riqueza e ostentação que pode até chocar a frugalidade do deus dos hebreus. Igualmente delicioso é a forma como o narrador constantemente se intromete na narrativa, numa modernidade pouco própria ao tempo, e se justifica ou explica perante o leitor.
Thomas Mann considerou esta «monumental narrativa da história bíblica de José a sua magnum opus», baseado num profundo estudo da História, com detalhes pródigos e convincentes, Mann evoca o mundo mítico dos patriarcas e dos faraós. Os quatro livros desta tetralogia são pela primeira vez traduzidos directamente do alemão, num trabalho notável e de fôlego da professora Gilda Lopes Encarnação, que nos oferece uma tradução cadenciada e lírica.
Num período em que o mundo vive novo confinamento, com uma vaga ainda mais avassaladora de casos, e em que eu, pessoalmente, estou fechado numa casa estranha a cumprir a quarentena requerida àqueles chegam de viagem, com quase nenhum contacto com o mundo exterior (a não ser o virtual), este livro não podia ter chegado em melhor altura. Imagine: Relatos de um tempo estranho, atípico e extraordinário, publicado pela Arranha-céus (editora chancela da abysmo), é um livro feito por pessoas que nasce da partilha de testemunhos online entre amigos e clientes da Mercer Portugal sobre como foi vivida a pandemia, o que mudou e moldou a nossa vida, assim como a nossa forma de trabalhar. Esta ideia nasceu de um momento de partilha durante as noites de confinamento instituído em março de 2020 em que a Mercer “juntou” por Zoom amigos e conhecidos, em grupos de 5 a 7 pessoas para, em tom informal e descontraído, falarem sobre si e as suas experiências. Estas conversas decorreram às «5 para as 10 da noite» com o requisito obrigatório de se fazerem acompanhar por um copo de vinho e culminam neste livro que reúne 28 testemunhos de profissionais das áreas de Recursos Humanos, Marketing e Direcção de empresas, isto é, «Pessoas de Pessoas» (p. 41) das mais diversas áreas, como a hotelaria, seguradoras, banca, ensino, etc.
De março a agosto viveu-se a Guerra do Medo, como escreve Diogo Alarcão (CEO da Mercer Portugal), inclusive Medo do Futuro, pois «esta guerra que nos surpreendeu em 2020 tem esta capacidade de destruir parte das nossas certezas sobre o amanhã» (p. 16).
Um testemunho com base em 6 meses de pandemia e confinamento, sem ser técnico pois é sobretudo baseado na vivência pessoal permite desvelar como o mundo (as empresas, as pessoas) aprendem a reinventar-se para poder prosseguir. Ana Guimarães, dá-nos alguns exemplos disso mesmo, de como a empresa procurou proteger os seus, alterando a dinâmica do trabalho em equipa (mais “emocional”, mais conciso) e oferecendo-lhes soluções viáveis num tempo em que as certezas ruíram e o mundo deixou de ser redondo. Mas o importante é compreender que a vida é sobretudo mudança, e «mudar não é um drama», ou não deveria ser, mesmo quando temos de aprender a tentar ver o sorriso das pessoas nos olhos, pois nestes «tempos de máscara (…) anulando o sorriso, onde fica uma das maiores expressões humanas?», pergunta-nos Ricardo Aguiar (p. 37).
«Esta partilha é escrita a pensar nos netos» (p. 31), como afirma Teresa Nascimento, e também apresenta caminhos possíveis num tempo em que casa e escritório se tornaram uma «mistura agridoce» (p. 26), nas palavras de Paula Carneiro, ao mesmo tempo que muitos de nós, obrigados a parar, aprenderam a valorizar o tempo, sempre escasso porque muitas vezes não sabíamos como efectivamente o viver. E o tempo revela-se agora tanto mais rentável quanto mais criativos e imaginativos nos (re)criamos.
Numa história que ainda não acabou, espera-se um impacto brutal a nível económico, humano, social, com este vírus «anti-humano» ou «antitoque» (p. 38) que se propaga à mesma velocidade com que conduzíamos os nossos segundos de vida, mas sobrevivem algumas certezas, como a de que a nossa união permite vislumbrar um horizonte. As últimas páginas do livro mostram-nos, em números e imagens, o que mudou no mundo e no país, além de conter citações pertinentes de algumas personalidades.
Fechamos com as palavras do prefácio de Diogo Alarcão: «acredito que muitos leitores se irão rever nestas partilhas e já que estamos a voltar ao confinamento também aprender com elas. Este livro servirá também para avaliarmos se o que pensávamos e defendíamos em 2020 vai acontecer de facto: os modelos híbridos ficaram para durar? As empresas tornaram-se mais humanas? A comunicação foi elemento chave para o processo de transformação organizacional? Os investimentos na saúde e bem-estar tiveram um incremento significativo?»
De março a agosto viveu-se a Guerra do Medo, como escreve Diogo Alarcão (CEO da Mercer Portugal), inclusive Medo do Futuro, pois «esta guerra que nos surpreendeu em 2020 tem esta capacidade de destruir parte das nossas certezas sobre o amanhã» (p. 16).
Um testemunho com base em 6 meses de pandemia e confinamento, sem ser técnico pois é sobretudo baseado na vivência pessoal permite desvelar como o mundo (as empresas, as pessoas) aprendem a reinventar-se para poder prosseguir. Ana Guimarães, dá-nos alguns exemplos disso mesmo, de como a empresa procurou proteger os seus, alterando a dinâmica do trabalho em equipa (mais “emocional”, mais conciso) e oferecendo-lhes soluções viáveis num tempo em que as certezas ruíram e o mundo deixou de ser redondo. Mas o importante é compreender que a vida é sobretudo mudança, e «mudar não é um drama», ou não deveria ser, mesmo quando temos de aprender a tentar ver o sorriso das pessoas nos olhos, pois nestes «tempos de máscara (…) anulando o sorriso, onde fica uma das maiores expressões humanas?», pergunta-nos Ricardo Aguiar (p. 37).
«Esta partilha é escrita a pensar nos netos» (p. 31), como afirma Teresa Nascimento, e também apresenta caminhos possíveis num tempo em que casa e escritório se tornaram uma «mistura agridoce» (p. 26), nas palavras de Paula Carneiro, ao mesmo tempo que muitos de nós, obrigados a parar, aprenderam a valorizar o tempo, sempre escasso porque muitas vezes não sabíamos como efectivamente o viver. E o tempo revela-se agora tanto mais rentável quanto mais criativos e imaginativos nos (re)criamos.
Numa história que ainda não acabou, espera-se um impacto brutal a nível económico, humano, social, com este vírus «anti-humano» ou «antitoque» (p. 38) que se propaga à mesma velocidade com que conduzíamos os nossos segundos de vida, mas sobrevivem algumas certezas, como a de que a nossa união permite vislumbrar um horizonte. As últimas páginas do livro mostram-nos, em números e imagens, o que mudou no mundo e no país, além de conter citações pertinentes de algumas personalidades.
Fechamos com as palavras do prefácio de Diogo Alarcão: «acredito que muitos leitores se irão rever nestas partilhas e já que estamos a voltar ao confinamento também aprender com elas. Este livro servirá também para avaliarmos se o que pensávamos e defendíamos em 2020 vai acontecer de facto: os modelos híbridos ficaram para durar? As empresas tornaram-se mais humanas? A comunicação foi elemento chave para o processo de transformação organizacional? Os investimentos na saúde e bem-estar tiveram um incremento significativo?»
Um Tambor Diferente, de William Melvin Kelley («o gigante esquecido da literatura americana»), a ser traduzido e reeditado um pouco por todo o mundo, foi editado pela Quetzal Editores em Portugal, com tradução e prefácio de Salvato Teles de Menezes. É o primeiro romance deste escritor afroamericano, publicado em 1962 quando William Melvin Kelley tinha apenas cerca de 23 anos, e que o equiparou a autores como Faulkner. Esse é outro dos aspectos curiosos do livro, cuja publicação original remonta há sessenta anos: não só a temática é claramente actual e oportuna, como a prosa ágil e envolvente tem um toque moderno e original. Thomas Merton afirmou: «é mais do que um brilhante primeiro romance de um jovem escritor negro. Trata-se de uma parábola que estuda algumas das profundas implicações espirituais da luta dos negros por direitos civis completos e por um estatuto humano integral no mundo de hoje».
O livro inicia quando tudo já terminou, para depois nos conduzir a um passado em que uma história pode ter forjado uma lenda, no instante em que um negro desembarca de um navio de escravos. Dewitt Willson que tinha ido tão somente esperar um relógio que vinha da Europa, apesar de se saber que dá azar transportar objectos em navios negreiros, fica obcecado quando vê o Africano, um negro possante como Sansão, cujos bramidos conseguem expandir os costados do navio. Willson compra o Africano por mil dólares mas este consegue fugir, com um bebé debaixo do braço, tornando-se o protector de outros escravos. Mas Dewitt Willson não descansará enquanto não o capturar.
Gerações depois, os habitantes de Sutton assistem à chegada de um camião que transporta sal para a casa de Tucker Caliban, descendente do Africano. Depois de salgar a terra e destruir um relógio, Tucker deita fogo à sua propriedade e parte com a mulher. Sucede-se, seguidamente, que todos os negros de Sutton, num êxodo massivo, começam a partir em autocarros, comboios e carros.
Todos estes acontecimentos, aparentemente desconexos, são narrados numa certa inversão cronológica, através da perspectiva de diversas personagens – homem, mulher, criança –, todas elas brancas. Entre a tensão dialógica das várias vozes que nos dão conta da intriga, destaca-se o ponto de vista de uma criança, o Senhor Leland, que se torna fundamental para a narrativa, e que é reconhecido pelos negros por estar a ser educado para um ser humano decente…
O ano ainda agora começou mas talvez não se peque por excesso ao afirmar que este é provavelmente um dos grandes livros deste ano. Não por aquilo que se escreveu já sobre o livro, e que pode ser lido na sinopse e comentários, mas pela sensação que se tem logo ao começar o livro: o maravilhamento de uma história de outros tempos que se torna lenda, a elegância da prosa, a trama bem urdida em que se revelam estranhos fenómenos que só gradualmente iremos compreendendo como se encadeiam.
O livro inicia quando tudo já terminou, para depois nos conduzir a um passado em que uma história pode ter forjado uma lenda, no instante em que um negro desembarca de um navio de escravos. Dewitt Willson que tinha ido tão somente esperar um relógio que vinha da Europa, apesar de se saber que dá azar transportar objectos em navios negreiros, fica obcecado quando vê o Africano, um negro possante como Sansão, cujos bramidos conseguem expandir os costados do navio. Willson compra o Africano por mil dólares mas este consegue fugir, com um bebé debaixo do braço, tornando-se o protector de outros escravos. Mas Dewitt Willson não descansará enquanto não o capturar.
Gerações depois, os habitantes de Sutton assistem à chegada de um camião que transporta sal para a casa de Tucker Caliban, descendente do Africano. Depois de salgar a terra e destruir um relógio, Tucker deita fogo à sua propriedade e parte com a mulher. Sucede-se, seguidamente, que todos os negros de Sutton, num êxodo massivo, começam a partir em autocarros, comboios e carros.
Todos estes acontecimentos, aparentemente desconexos, são narrados numa certa inversão cronológica, através da perspectiva de diversas personagens – homem, mulher, criança –, todas elas brancas. Entre a tensão dialógica das várias vozes que nos dão conta da intriga, destaca-se o ponto de vista de uma criança, o Senhor Leland, que se torna fundamental para a narrativa, e que é reconhecido pelos negros por estar a ser educado para um ser humano decente…
O ano ainda agora começou mas talvez não se peque por excesso ao afirmar que este é provavelmente um dos grandes livros deste ano. Não por aquilo que se escreveu já sobre o livro, e que pode ser lido na sinopse e comentários, mas pela sensação que se tem logo ao começar o livro: o maravilhamento de uma história de outros tempos que se torna lenda, a elegância da prosa, a trama bem urdida em que se revelam estranhos fenómenos que só gradualmente iremos compreendendo como se encadeiam.
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