A. S. Byatt nasceu em Yorkshire, em 1936, e em 1972 tornou-se professora de literatura inglesa e americana na University College em Londres. Em Portugal, tem poucas obras publicadas mas será sobejamente conhecida pelo romance Possessão, vencedor do Booker Prize em 1990, publicado em 2010 pela Sextante, adaptado a filme.
Ragnarök – O Fim dos Deuses é mais um título a integrar a colecção de Mitos que a Elsinore está a publicar entre nós, não sei ainda se de forma sistemática, originalmente publicada pela editora Canongate. Já aqui se apresentaram outros títulos desta colecção, com capas duras, belamente ilustradas por Lorde Mantraste, como A Odisseia de Penélope ou O Mel do Leão, de autores igualmente aclamados. (…)
A autora explica, numa nota final, como escolheu o mito nórdico de Ragnarök porque este representa o último de todos os mitos: «o mito que põe fim aos mitos, o mito em que os próprios deuses são destruídos» (p. 140). Ver artigo
O segundo e último volume de A Morte do Comendador do autor japonês Haruki Murakami foi publicado pela Casa das letras em Março, e depois de se ter apresentado aqui o primeiro volume podemos agora fazer um balanço desta obra, sem repetir as ideias já expressas referentes ao volume anterior, da mesma forma que Murakami continua a publicar regularmente, há mais de 30 anos, e com pelo menos 30 livros já publicados, sem que se repita, mesmo que o seu universo seja relativamente identificável e fiável.
O retratista, ocasionalmente pintor, personagem sem nome, continua a narrar as suas aventuras durante uma espécie de exílio que dura algo como 8 meses, em que ele se isola do mundo na casa de um pintor famoso, pai do seu amigo. Sem incorrer no risco de contar demasiado sobre a narrativa, há sinos que tocam em câmaras de pedra todas as madrugadas por volta das 2 h, existem Metáforas Duplas e as Ideias tornam-se personagens, à semelhança dos modelos saídos de um quadro que ganham vida, e falam de forma rebuscada como nos tempos clássicos, mesmo que não ultrapassem os setenta centímetros de altura. Nesta narrativa, Murakami dá mais ênfase à ópera, talvez por haver um episódio da história da Europa que aqui surge em pano de fundo, muito ao de leve, e por isso não é agora o jazz que serve de banda sonora, mas sim O Cavaleiro da Rosa, de Richard Strauss, enquanto o quadro que dá nome ao livro ressoa ecos de Mozart, com Don Giovanni. Murakami procura cruzar, ainda que de forma muito ligeira, a cidade de Viena quando ocupada pelos nazis com a Noite de Cristal, e enche este romance de homens sofridos que encontraram na arte o seu único escape, como é o caso do protagonista, mas não a salvação, como pianistas que interpretam Chopin ou pintores que dão corpo a episódios de ópera num quadro que o mundo nunca conheceu. À semelhança do nosso herói, que se procura refazer de um divórcio e vive como um eremita, apesar de sempre rodeado de várias pessoas que encontram nele um farol ou um bom ouvinte, Murakami leva-nos a entrar numa toca, como quem segue um coelho branco, e enreda-nos nas suas densas narrativas onde ficam sempre mais perguntas do que certezas e a premonição e as coincidências parecem tecer o véu do real.
O autor continua a ser traduzido a partir do inglês por Maria João Lourenço (agora com uma ajuda de Ana Lourenço), numa tradução que melhorou bastante desde livros anteriores como Kafka à beira-mar. Compreende-se que a tradução procura corresponder a uma leitura dos livros fluída, intentando respeitar o espírito de uma prosa escorreita e oralizante, por vezes, em que o narrador interpela directamente o leitor em vários momentos. Contudo, apesar de já não nos depararmos com expressões como “meter o Rossio na Betesga” e “nos cus de Judas” ainda assim talvez a tradução pudesse fazer um uso menos recorrente de outras expressões coloquiais que podem desvirtuar a narrativa, como “a ponta de um corno”, “acto contínuo” ou “dar um abalo ao pífaro”… Ver artigo
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